domingo, 26 de dezembro de 2010

Natal: O Menino Jesus existiu? (2/3)

 “Melodias, presépios, histórias de Natal..., tudo muito bonito, mas tudo poesia!”, diz-se no texto anterior. Ouçamos, hoje, o que Jesus nos conta, na primeira pessoa, segundo o ainda inédito livro “Quem me chamou Jesus Cristo?”:
    «Fui o “Menino Jesus” mas não fui o “Deus Menino” ou o “Menino Deus” como simpaticamente fiquei conhecido para a História!
    Nasci em Belém de Judá, pelo ano seis antes da era cristã, ou seja, o ano 747 ab urbe condita (a.u.c.) (da fundação de Roma). O monge e matemático Dionísio o Exíguo, do séc. VI, errou em cerca de seis anos os cálculos das datações, ao pretender fazer do meu nascimento o ano um, colocando-o em 753 a.u.c. Ignorando o dia e o mês em que se deu o feliz acontecimento, a tradição começou a celebrá-lo a 25 de Dezembro, data imposta pelo papa Libério nos tempos do filho de Constantino, Constâncio II, decorria o ano 360, para cristianizar o universal culto do Sol Invictus cujos festejos tinham lugar, por todo o Império, após o solstício de Inverno, fazendo de mim o seu substituto e a verdadeira imagem do renascimento do Sol. Meus pais: José, o carpinteiro, e Maria de Nazaré.
    No meu nascimento, que não aconteceu naquela romântica gruta que Lucas inventou, não houve animais a aquecerem-me a nudez, nem anjos a cantar, pastores a adorar, magos a visitarem-me. Tais românticos acontecimentos foram piedosas invenções do evangelista para, desde pequenino, me tornarem um Krishna ao modo dos deuses solares orientais em cujos nascimentos, segundo a lenda, tais estranhos fenómenos aconteciam.
    Situando-se Belém perto de Jerusalém, aos oito dias, levaram-me ao Templo para ser circuncidado, como mandava a tradição. Aí, encontrava-se o velho Simeão que me augurou, inspirado, uma vida cheia de ideais e de sonhos para mudar o mundo, mudando o Homem. Mas certamente não fui o único a quem tais augúrios o simpático velho formulou... O nome que me deram: Jesus. Cumprida a tradição, os meus pais instalaram-se definitivamente em Nazaré, terra de minha mãe.»
Então – perguntarão muitos – sendo tudo fantasia, perdemos o nosso querido Natal?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal: O Menino Jesus existiu? (1/3)

    «É linda de encantar a história do Menino Jesus! E lindos são os presépios com a Senhora e o seu Menino, o S. José de barbas e bengala florida por ter sido o “escolhido” olhando embevecido a cena, os anjos esvoaçando por cima da gruta transformada em sala de acolhimento, a manjedoura servindo de berço ao Menino, os pastores apressando-se a chegar, as ovelhinhas balindo nos arredores verdejantes, os animais do estábulo aquecendo com o seu bafo o frio enregelado que entorpece o caminhar das gentes, a estrela encimando o todo, já se lobrigando ao longe os magos que a seguiram para encontrarem o Salvador da Humanidade! Lindas são ainda as melodias que autores inspirados, comovidos pelo bucólico da cena, ao longo de séculos, compuseram, e também versículos, canções de exuberante alegria e de louvor ao Divino que se dignou descer dos Céus e vir até à Terra para salvar o desterrado Homem, encarnando em modesta criança: “Cantem, cantem os anjos a Deus um hino / Cantem, cantem os Homens ao Deus Menino.”, “Adeste fideles, laeti triumphantes / Venite in Bethlehem. / Natum videte Regem Angelorum.”, “Douce nuit, Sainte nuit!”; e são melodias que, em épocas de Natal, se ouvem por toda a parte, se cantam em todo o Mundo, coros e orquestras primando por lhes darem a alma e a voz. Tudo muito bonito, tudo – melodias, presépios, histórias, poemas – a fazer as delícias dos Natais da nossa infância; mas... tudo poesia!»
Este é o início do meu livro inédito “Quem me chamou Jesus Cristo?”. Realmente, durante estes dois milénios que o Natal leva de história, todas as artes, mormente a música, a pintura e a escultura, foram buscar inspiração a tão comovente e tão poético “acontecimento”. Pois quem não se comove e inclina perante um Deus que, descendo dos Céus, se faz menino e nasce despojado de tudo menos dos afectos de alguns humanos e animais?
No entanto, talvez chocando-nos a alma, outras perspectivas se levantam sobre os acontecimentos que remontam a estes dois milénios...

domingo, 12 de dezembro de 2010

“Sou o homem mais religioso do mundo...” (3/3)

    Ao decidir-se pelos caminhos da Razão e da Ciência, o Homem deixa de acreditar em Paraísos e Infernos inexistentes e em eternidades fruto da fantasia de alguns que se disseram – e outros o disseram, e continuam a dizer, por escusos interesses! – iluminados e provindos de Deus, sendo mesmo filhos do próprio Deus! Ora Filhos ou partículas de Deus qualquer ser o é: animado ou inanimado. Cada um partilhando desse Deus da melhor maneira que lhe coube em sorte, nesta fantástica aventura da existência do Universo e, nele, um Sol em cujo sistema planetário apareceu uma Terra, Terra onde há c. de 3500 milhões de anos brotou da matéria inerte a Vida a qual viria a desembocar neste ser magnífico que é o Homem – apenas há c. de 5 milhões de anos, que é um “ontem” em relação ao tempo universal! (Para perceber melhor como brotou a vida da matéria inerte, veja-se a experiência laboratorial de Stanley Miller, anos 50 do séc. XX, na qual recriou as condições primitivas que permitiram tão milagroso fenómeno). Mas tal como o Sol, tal como as estrelas, o Homem, cada Homem começa um dia e noutro acaba inexoravelmente, não podendo pretender ser excepção da “Criação” ou do sistema que um dia lhe outorgou a vida e vida racional... Também como o Universo? – Ninguém sabe. E não sabemos se algum dia a Ciência conseguirá desvendar o mistério!
    Este tipo de pensamento, liberto que seja dos mitos e fantasias criados pelas religiões e impostos ao Homem, sobretudo ao ignorante, levará o mesmo Homem à necessidade de construir uma Sociedade justa e fraterna e a pautar a sua vida por dois grandes pensamentos de carácter filosófico-existencial: “Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida; tenho de o viver o melhor possível!” e: “Cada momento de vida desperdiçado é momento de vida desperdiçado para sempre pois tudo passa e nada se repete!” Aliás, na linha dos poetas e filósofos latinos: “Vita brevis! Carpe diem!” (A vida é breve! Aproveita bem cada dia!) Ou ainda seguindo a Bíblia, no seu livro da Sabedoria: “Não te prives de um só prazer legítimo... Tudo quanto possuis vais deixar para os outros que vierem depois de ti.”
A conclusão só pode ser uma: em cada dia que se levanta, em cada noite que cai, a cada raio de Sol que nos ilumina a face ou brisa que nos acaricia a mente, a cada sentido que se nos inebria de prazer..., deveremos bendizer, em agradecimento, o inefável e sempiterno Deus da Harmonia Universal que, não tendo forma humana, ao modo dos deuses das religiões conhecidas, é o mais credível porque n’Ele somos desde o nosso início até ao nosso fim, como n’Ele são todos os seres que um dia tiveram o privilégio de receber esta dádiva fantástica - e gratuita! - que é a VIDA!... Então, digamos permanentemente: “Muito obrigado, Muito obrigada, meu Deus!” Até que a vida se nos acabe! E, sem mágoa – pelo contrário, felizes por termos participado na saga da Vida – dizermos adeus e um “Até sempre!” seja qual for a sorte que couber aos átomos e moléculas que um dia formaram este belo ser da criação que fomos NÓS! Sorrindo!...
(Repetimos: sobre o tema, veja-se o final do livro, disponível na Net e livrarias, “Um Mundo Liderado por Mulheres”)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

“Sou o homem mais religioso do mundo...” (2/3)

Três são as ordens de razões para se poder afirmar que a Religião baseada na Ciência e no Conhecimento satisfaz, simultaneamente, a espiritualidade e a racionalidade humanas:
– Primeiro, o Homem toma consciência da sua Verdade, da sua Realidade enquanto ser racional que não escapa à condição de ser vivente que afecta qualquer um: começar no tempo e acabar-se no tempo, vindo do Nada, pelo milagre da Vida, e reintegrando-se com a morte na matéria de onde veio para, transformado novamente em moléculas e átomos, fazer parte, quiçá, de outro ser vivo ou simplesmente ficando matéria inerte. E, aqui, é oportuno citar a Bíblia na célebre frase que a Igreja repete ao longo dos séculos, no início da Quaresma, quarta-feira de cinzas, não tirando depois as devidas ilações ao apregoar uma vida eterna num Inferno com o Diabo ou no Paraíso com Deus e os seus anjos: “Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris” (Lembra-te, ó homem, que és pó e para o pó voltarás.)
– Segundo, toma consciência da sua Verdade enquanto ser do Universo, pequeno elemento do Planeta Terra, Terra que é pequeno astro no Sistema Solar, sistema que é apenas um dos mais de duzentos mil milhões que compõem a nossa Galáxia, a Via Láctea, galáxia que é apenas uma entre milhões de outras perdidas no imenso, incomensurável – apesar de as distâncias se medirem em anos-luz – Universo cujos limites continuam a ser um total mistério para a Ciência.
– Terceiro, aceita que a sua característica principal, a racionalidade – mais um milagre da evolução da Vida! – deve ser utilizada para se realizar plenamente como indivíduo, sendo componente bem localizada, pela Ciência, no cérebro com os seus mais de cem mil milhões de neurónios, mas a que filósofos e religiosos insistem em chamar ALMA, deduzindo daí a imprescindível espiritualidade humana e a sua imortalidade pelo carácter metafísico que revela. No entanto, lendo, por exemplo, os livros de António Damásio, “O Erro de Descartes” e “O Sentimento de Si”, facilmente nos apercebemos da tremenda realidade: a alma com todas as suas prerrogativas e funções – capacidade de raciocinar, de se emocionar, de linguagem articulada e conceptual, etc. – não passa do resultado das conexões ou sinapses entre aqueles mais de cem mil milhões de neurónios que compõem o nosso cérebro. (Este é um dos mais fortes argumentos para se afirmar que a alma não pode ser imortal, pese-nos embora toda a pena do mundo. Ah, como gostaríamos de ser imortais! Como gostaríamos de viver para sempre em algum lugar!...).
Na próxima mensagem, retiraremos as conclusões destes dados da todo-poderosa Ciência.