terça-feira, 26 de abril de 2011

A ressurreição, mito impossível! (1/4)

Interrompemos o nosso diálogo sobre o Deus impossível das religiões para introduzir, na circunstância pascal que vivemos, o tema mais caro aos cristãos – a RESSURREIÇÃO – pois, no dizer correcto de Paulo, “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé”.
Numa primeira abordagem, filosófica e científica, claramente se vê que a realidade dos factos desmente tal possibilidade concedida aos humanos, seja a ressurreição apenas da alma, seja a do corpo e alma, como defendem os mais fantasiosos ou mais românticos, ali, com carninha nova, todos como se tivéssemos vinte anos!... Os factos manifestam, porém, que não há nenhuma prova credível de qualquer ressurreição. Pelo contrário, constata-se que todos os que morreram e vão morrendo se integram na terra de onde afinal vieram, transformando-se, qual matéria inerte, em átomos e moléculas de outros seres vivos ou de matéria amorfa. A morte não é mais que o fim de um ser vivo – animais e plantas – ser que foi matéria impregnada de energia e que, quando a matéria deixou de ter as capacidades de se renovar, a energia – alma, se quiserem – libertou-se ou... apagou-se! Aliás, é o que acontecerá ao nosso Sol e o que acontece com todas as estrelas: nascem, vivem e... morrem! Mas a morte, nossa ou das estrelas, é apenas transformação. Pois, para onde poderia ir a matéria e a energia consumida se nada se pode escapar do espaço sideral?
O Homem não pode ter a presunção de ser excepção!
O conceito de ressurreição está directamente relacionado com o de imortalidade e de eternidade. Para se ser imortal ou eterno, a morte real, de algum modo, teria de ser aparente, uma passagem para o outro lado da... Vida! E não há dúvida de que todo o ser racional, por um instinto vital de sobrevivência mais agudo e pensado do que nos irracionais, não admite, sem estremecer, que, como eles, possa acabar sem deixar rasto ou sem se prolongar pelo não-tempo que é a eternidade. Então, todas as religiões, de uma ou de outra forma, fantasiaram tal possibilidade, conquistando com tal simpática e romântica fantasia, muitos adeptos.
Em próximos textos, analisaremos o mito da ressurreição na Bíblia do AT e do NT, onde a ressurreição de Jesus, a quem chamaram o Cristo, pontifica sobre todas as outras...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (5/6)

Que Deus-Pai, o de Jesus Cristo!
Jesus, pondo de parte o carácter sanguinolento e violento de Javé do AT – assunto que ignora completamente, segundo transpira dos evangelhos que, como sabemos, pouca credibilidade histórica nos merecem, visto terem sido escritos não como documento histórico, mas como manifesto-base da religião nascente – faz do seu Deus o seu “Pai que estais no Céu”, misericordioso e pronto a perdoar os pecados dos Homens arrependidos, sentado majestaticamente lá em cima no Céu, servido de anjos e arcanjos, louvado por santos que, mesmo não sabendo cantar – invenção romântica minha! – entoavam hossanas sem cessar..., Pai esperando todo o ser humano que tendo tido vida santa na Terra iria para o pé dele, após a morte, por toda a eternidade sem fim, amen!... Isto, após um enigmático Juízo Final onde diria aos bons: “Vinde para a minha direita!” E aos maus: “Ide para as profundezas dos Infernos fazer companhia aos demónios para todo o sempre”!
Mas é um Pai, no mínimo, estranho! E, aqui, entroncamos num assunto da máxima importância para o cristianismo: Deus ter um Filho e submetê-lo ao vexame da tortura seguida da morte de cruz, tudo contra a sua vontade, sendo ele, segundo a enigmática teologia da Igreja, um só com o Pai: “Pai, se é possível afasta de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade e não a minha”, fazendo-o um Cristo sofredor, como cordeiro imolado, para que se cumprissem as Escrituras. Um Deus-Pai que tal fez não só caiu no ridículo como se tornou, obviamente, impossível! Então, não tinha, na sua infinita sabedoria melhor para oferecer a seu único Filho do que uma morte e morte de cruz, contra a sua vontade? E se era uno com o Pai, havia entre eles duas vontades antagónicas? As Escrituras (escritas, como sabemos, sem qualquer intervenção de Deus e nas quais se podem encontrar argumentos para quase tudo...) eram assim tão potentes que Lhe impunham tal decisão? Onde, afinal, esteve a Misericórdia deste Pai de J.C.? Só no meio de um povo afectado pelo síndroma da ocupação romana, sequioso de um Messias que o viesse libertar, poderia conceber-se tal aberração: é que, como a libertação política real era impossível, restava a libertação espiritual com a criação de um Rei com um Reino que “não era deste mundo”... E é pena! Pois quem não quisera poder acreditar no misericordioso Pai de J.C., com o seu Céu, os seus anjos, a sua eternidade? Quem?
O Cristo crucificado mereceria todo um texto! Mas basta dizer o quão deprimente é esse crucifixo, símbolo das religiões cristãs, que pontifica em todas as igrejas e ao peito de todos os monges e reverendos, o do papa, obviamente, de oiro, o dos pobres, de madeira ou ferro! Pobre Cristo! Como deturparam a tua real mensagem de amor ao próximo e de fraternidade universal! Como te fizeram triste e inútil e estático sem nada poderes fazer em tantos nichos e altares, além de anunciares o teu sofrimento!... Como terias sido muito mais humano se não te tivessem feito Cristo e Cristo sofredor!...
Da tua suposta ressurreição falaremos no próximo texto. Então, até lá e Boa Páscoa!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (4/6)

Falemos, hoje, de Javé!
Javé dos Judeus, que Deus é? – Um Deus inventado pelos patriarcas daquele tempo, destacando-se entre eles Moisés, séc. XII a.C., como meio de aglutinação e de controle do povo de Israel, povo de “cabeça dura”, como é referido várias vezes na Bíblia do AT, fazendo face ao deus ou deuses dos povos que eles queriam anexar ou aos quais queriam usurpar a terra, os fenícios e cananeus que, entre outros, adoravam e prestavam culto ao deus Baal. A invenção de Javé proporcionou a Moisés e aos patriarcas que lhe sucederam um fácil controle do povo, apoiados numa forte classe sacerdotal que ditava as leis provindas do mesmo Javé. O momento mais carismático é o descrito no Êxodo (Ex 20,3-17), quando, aparecendo a Moisés numa sarça ardente, lhe dita o decálogo, os actuais Dez Mandamentos, mandamentos já alterados e chantagiados pela Igreja Católica: compare-se o original, em boa tradução, e o catecismo! Claro que os Dez Mandamentos não foram ditados por Javé a Moisés, mas são uma cópia mais ou menos literal do Código de Hamurabi, rei da Babilónia, c. séc. XVII a.C.
Podemos imaginar o modo como os judeus, melhor, o povo hebreu, “tratava” ou privava com Javé. Seria certamente semelhante ao modo como os muçulmanos hoje se exprimem: “Alá assim o quer!”, “Seja tudo por Alá!”, “Alá é grande!” E, ao som de tais ritos e slogans, cometiam algumas das maiores carnificinas de que há memória ou de que reza a História. Veja-se este significativo elenco:
Gn 19,26; 38,7.10 / Ex 32, 27-28 / Lv 24, 10-23 / Nm 15, 32-36; 16, 27,35.49; 25,9; 31, 1-35 / Js 7, 24-2; 8, 1-25 / Jz 1,4; 3, 15-22; 3, 28-29; 7, 2-22; 14, 19; 15, 14-15; 16, 27-30; 20, 44-46 / 1Sm 6, 19; 14, 12; 15, 32-33; 35, 28 / 2Sm.6,6-7; 12,14; 21,6-9; 24,13 / 1Rs. 20,30; 20,35-36 / 2Rs.1,9; 2,23-24; 7,17-20; 9,33-37; 17,14 / 2Cr 13,15-17; 13,20; 21,14-19 / Ez 24,15-18.
Caracterizando tão antipático Deus, fazendo fé na Bíblia do AT., Javé era um deus ciumento, epíteto que Ele próprio não se cansava de repetir logo que o “seu” povo “eleito” lhe era infiel e adorava outros deuses ou se desviava do culto imposto pelos levitas e servidores do Templo, tudo ao redor da Arca que guardava as Tábuas da Lei! Mas não só: era sedento de sangue, pois, "servindo-se" da boca dos patriarcas reinantes, ordenava carnificinas e ditava as leis que lhes permitiam ter várias mulheres, escravos e escravas, tendo o patriarca, muitas vezes, direito de vida ou morte sobre eles. Era também ignorante! Altamente ignorante, nada sabendo nem das origens do Universo nem do começo da vida nele, nem da evolução das espécies, desembocando no Homem actual, nem da configuração da Terra no espaço sideral, etc., etc. Isto é: nada mais sabia do que aquilo de que as culturas dos povos vizinhos se faziam eco! E mais! Mas... será necessário acrescentar algo mais para dizer com toda a certeza que este Javé é um deus impossível?
Tirem-se, então, as devidas conclusões! Filósofos e teólogos! Por favor!

domingo, 3 de abril de 2011

O Deus das religiões conhecidas não pode existir (3/6)

Convencidos que estamos de que convencemos “meio mundo” da impossibilidade da existência dos deuses de todas as religiões até hoje aparecidas nas diversas civilizações que fazem parte da História do Homem, resta-nos referir que a ideia de Deus, a sua existência ou a explicação da sua existência tem sido transversal ao longo dos séculos, e tema abordado por filósofos e teólogos de todos os tempos, sobretudo os mais próximos. Aliás, continua: teólogos de todas as religiões continuam a tentar provar o “impossível”, normalmente construindo pelo telhado, i.é., admitindo sem discussão, a revelação divina dos livros ditos sagrados. Provas? – Nenhumas!
De uma forma ou de outra, todos se esforçaram, ou se esforçam, por apresentar provas da existência de Deus, um único Deus, obviamente, tendo já desaparecido as causas ou razões que provocaram o aparecimento de inúmeros deuses e deusas, com um Olimpo criado ou fantasiado ao modo humano, fazendo-nos sorrir aquele Zeus lá pontificando ou aquela Vénus voluptuosa dando voltas à cabeça dos seus pares...
Assim, desde Sto Agostinho na sua “Civitas Dei” a Descartes nos seus “Princípios de Filosofia”, passando por S. Tomás de Aquino na sua “Suma Teológica”, foram apresentadas provas de cariz lógico-dedutivo, partindo do movimento ou da causalidade – se há movimento, houve primeiro um Motor – ou da contingência dos seres – se somos seres contingentes tem de haver um Ser absoluto – ou dos graus de perfeição – se há imperfeição, tem de haver a Perfeição – ou da existência do mundo e do Universo – se há algo criado tem de haver um Criador, pois do Nada nada vem – chegando-se assim à necessidade absoluta de um Ser Criador, um Ser Superior, Infinito e Eterno..., a quem se chama Deus! Em todos os argumentos, no entanto, esquece-se a incontornável verdade de que, se esse Ser é infinito e eterno, tem de ser Ele a Causa e o efeito, o Perfeito e o imperfeito, o Absoluto e o contingente, o Motor e o movimento...
Realmente, o único Deus racionalmente credível é aquele de quem já aqui falámos e voltaremos a falar: o Deus da Harmonia Universal que tudo integra e onde tudo se integra, Espaço e Tempo, nós também, obviamente! Um Deus fantástico, não?!