segunda-feira, 18 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (8)

    Depois de comentarmos a “importante” terceira “aparição”, sigamos novamente a emocionante narrativa do Reverendo Cónego: «No dia 13 de Agosto, quando deveria dar-se a quarta aparição, os videntes não puderam ir à Cova da Iria, pois foram raptados pelo administrador de Ourém, que à força quis arrancar-lhes o segredo. No entanto, as crianças permaneceram inabaláveis e nada revelaram. Nesse dia, juntou-se uma grande multidão que aguardava pela aparição. Por volta do meio-dia, ouviu-se um trovão, ao qual se seguiu o relâmpago, tendo os espectadores notado uma pequena nuvem branca que pairou alguns minutos sobre a azinheira. Observaram-se também fenómenos de coloração, de diversas cores, nos rostos das pessoas, das roupas, das árvores e do chão. No dia 19 de Agosto de 1917, Lúcia estava com Francisco e seu irmão João no lugar dos Valinhos, uma propriedade de um dos seus tios e que dista uns 500 metros de Aljustrel. Pelas 4 horas da tarde, começaram a produzir-se as alterações atmosféricas que precederam as aparições anteriores, uma súbita diminuição da temperatura e um esmorecimento do Sol. Lúcia, sentindo que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e os envolvia, pediu ao primo João para chamar rapidamente a Jacinta, a qual chegou a tempo de ver Nossa Senhora que - anunciada, como das outras vezes, por um reflexo de luz - apareceu sobre uma azinheira, um pouco maior que a da Cova da Iria.
Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer? Nossa Senhora: - Quero que continueis a ir à Cova da Iria, no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem. - Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria? - Façam dois andores, um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas; o outro que o leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão-de mandar fazer. - Queria pedir-lhe a cura de alguns doentes. - Sim, alguns curarei durante o ano. E tomando um aspecto mais triste, recomendou-lhes novamente a prática da mortificação: - Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas. E, como de costume, começou a elevar-Se em direcção ao nascente. Os videntes cortaram ramos da árvore sobre a qual Nossa Senhora lhes tinha aparecido e levaram-nos para casa. Os ramos exalavam um perfume singularmente suave.»
    Há vários pormenores de não somenos importância para dar credibilidade ao fenómeno, nesta quarta aparição: acontece a 19 e não a 13; há o irmão de Lúcia, João, cuja idade desconhecemos, e que vai chamar Jacinta que ainda chega a tempo de ver Nossa Senhora; o local não é a Cova da Iria, mas os Valinhos. Qual o papel de João, como não-vidente? Porque mudou de sítio e de hora a Virgem para a sua aparição? Porque não libertou, por milagre divino, as crianças raptadas pelo Administrador de Ourém, no dia 13? (Aliás, o administrador raptar as crianças por não quererem revelar-lhe o segredo não deixa de ser caricatamente policial...) Mas, talvez sejam perguntas cujas respostas até nem tenham interesse. O mais cruel e totalmente anti-divino é que a Virgem insiste no sofrimento redentor, na oração, nas penas do Inferno, nas almas dos pobres pecadores que se condenam para a eternidade, por não haver quem reze e se sacrifique por eles... E patético é o destino que a Virgem decide dar ao dinheiro ofertado pelos já devotos, na Cova da Ira: dois andores! Ainda a capela, vá lá! Agora, os andores? Com todo o respeito que o assunto nos mereça, parece-nos absolutamente deprimente tal mesquinha ideia vinda do... Céu! Os vários fenómenos atmosféricos atribuídos a origem divina não merecem mais do que um sorriso... (Cont.)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (7)

Valeu a pena a transcrição integral da narrativa do Reverendo Cónego (textos 5 e 6) desta 3ª “aparição”, de todas, a mais significativa. Realmente, se dúvidas houvesse quanto à (in)verdade de Fátima, ficariam totalmente dissipadas com esta narrativa de Lúcia. Primeiro, após patéticas desculpas da Senhora para não fazer milagres de curas pedidas, vem novamente o apelo ao sacrifício e à oração para obter a paz e a conversão dos pecadores... (Aliás, aqui, diríamos o que já dissemos, demonstrando, sobre todos os supostos milagres narrados na História, pela Bíblia, Evangelhos e outros escritos: todos símbolos ou farsas; nenhum, de narrativa credível!) Depois, os famosos segredos que, como era de esperar, fizeram correr muita tinta! Ora, voltaríamos a perguntar se o divino precisa de andar com segredos, mais ou menos falaciosos, por confusos, em vez de ser claro e compreensível para todos os Homens a quem, obviamente, se destina a mensagem de conversão da humanidade na fraternidade universal apregoada por Jesus Cristo, tendo na mira um Céu ou um Inferno que seja, na tão desejada vida eterna... E quão fantasmagórica é aquela descrição do Inferno e as almas e os diabos nele! Quão fantasmagórica! Mas nada que não tenha sido já escalpelizado ao longo dos tempos, desde os clássicos greco-latinos à fantasiosa e imaginativa Idade Média, com o seu expoente máximo em Dante (séc.s XIII-XIV) na sua Divina Comédia, a Miguel Ângelo (séc.s XV-XVI), a Salvador Dalí (séc. XX). No entanto, não se percebe que valor de mensagem tem aquele tríplice segredo. Objectivamente, parece inócuo. Depois, segredo “O Imaculado Coração de Maria”? Então, a Imaculada Conceição de Maria – donde o seu Imaculado Coração! – não havia já sido decretado, para a Igreja, em 8 de Dezembro de 1854 por Pio IX? Para quê mais uma confirmação e... em segredo? Quanto ao Inferno, a ter existido aquela visão aterradora para as crianças, apenas retratou o que no imaginário popular é, de há séculos, se não milénios, conhecido; sobretudo, o Sr. Diabo, vestido de vermelho, rosto de bêbedo escarninho, cauda de macaco, chifres de touro, mãos de longas unhas empunhando o ameaçador tridente que espeta nos corpos gloriosos das almas dos condenados, com gargalhadas de gozo... Enfim, o suposto atentado ao Papa: não se vê onde possa estar o interesse de tal suposto “segredo”! Por outro lado, as visões apocalípticas de Lúcia e de Jacinta – estando incompreensivelmente delas afastado Francisco que era dois anos mais velho que a irmã – nelas integrando-se as palavras, primeiro, do Anjo, depois, da Virgem, emergem como o corolário do medo e do terror com que a religião parece gostar de afundar-se, para melhor convencer e angariar crentes que, de modo racional, nunca seriam levados a acreditar em tais fantasias e alucinações...
Embora muito mais críticos pudéssemos ser em relação àquela fantástica narrativa (o ribombar do trovão para indicar o fim da aparição é de, pelo menos, fazer sorrir...), apenas um último comentário ao conteúdo final: “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.” A pergunta é quase irreverente, mas tem de ser feita: “Era a Virgem que queria estabelecer no mundo a devoção ao seu Imaculado Coração ou era a Igreja – neste, caso, os bispos de Portugal – que, não tendo o dogma da Imaculada Conceição tido os efeitos desejados, pretendia que tal culto fosse instituído e implementado?” Tanta imaginação doentia de medos ancestrais ali retratados é uma suma prova da inconsistência da verdade de Fátima: o divino não pode – exactamente por ser divino! – andar a “brincar” com a consciência das pessoas. É que somos racionais, caramba! Temos toda uma razão para aquilatar do que nos dizem e nos confessam!... Mas ficamo-nos por aqui no muito de acérrima crítica que todo aquele aparato de infernos, diabo e de segredos neles merecia... (Cont.)

domingo, 3 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (6)

(Continuação da narrativa de Lúcia, após a “descida” aos infernos...)
«Lúcia: “Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: - Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, (segunda parte do segredo - O Imaculado Coração de Maria) Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI, começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida (os astrónomos registaram uma aurora boreal que iluminou os céus da Europa na noite de 25 para 26 de Janeiro de 1938), sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer e várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé. Então vimos (terceira parte do segredo - O atentado ao Papa) ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, soltava chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa que é Deus: - algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante - e um bispo vestido de branco - tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subiam uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo, uns atrás dos outros, os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz, estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal na mão; neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Terminada esta visão, disse Nossa Senhora: - Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério: ‘Ó meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.’ - Vossemecê não me quer mais nada? - Não. Hoje não te quero mais nada. E como de costume, começou a elevar-Se em direcção ao nascente, até desaparecer na imensa distância do firmamento.” Ouviu-se então um trovão, indicando que a aparição cessara.»
Assim, se completa a narrativa dos acontecimentos desta 3ª aparição. Remetemos todos os comentários para o próximo texto. Então, até lá! (Cont.)