terça-feira, 23 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (11)

    Agradecemos a narrativa dos “acontecimentos” ao Reverendo Cónego Sebastião Martins dos Reis. Nesta última aparição, os fenómenos atmosféricos de origem aparentemente divina continuam. A Virgem aparece no meio deles. Diz ser a Senhora do Rosário. Pede que façam ali uma capela. Que rezem o terço. Que Deus Nosso Senhor está muito ofendido. Que curará alguns doentes. Prevê o fim da guerra. E, enquanto por ali “anda” a Virgem, sempre portadora de mensagens deprimentes, seguem-se os três quadros celestiais presenciados por Lúcia, referenciando certamente as imagens existentes na Igreja local frequentada pela devota família dos “videntes”. Não menos deprimentes que o anterior cenário! Depois, já partindo a Virgem para o Firmamento, o Milagre do Sol, misturando-se, em glória, milagrosas mudanças atmosféricas! Aqui, a narrativa do Reverendo – ou de Lúcia? – torna-se empolgante, magnífica, por momentos aterradora, mas... divina, como divino era o cenário em que tudo decorria. E... fim da “divina comédia”! – desabafariam os cépticos. Claro que os crentes não duvidarão um cêntimo de que tudo foi ou fora de origem celestial! Os outros, os que pensando que o divino, para ser credível, tem de ser inteligente, não acreditam em tanta fantasia mais ou menos espectacular que de inteligente nada tem. Um divino que quisesse enviar uma mensagem à humanidade, escolheria de certeza formas mais convincentes e racionais do que pôr um sol a rodar e a aquecer as pessoas presentes... Aliás, o Sol rodar? Lembram-se de quando Josué pediu a Javé para parar o Sol e poder terminar a batalha, exterminando o inimigo? Ora este “nosso” Sol rodou tanto como o de Josué parou: não mais que imaginação pura, alucinação colectiva ou pura fantasia literária! Obviamente que o Sol não se move do seu lugar por qualquer capricho divino ou... fantasia humana! Se tal fosse possível, seria a ridicularização completa de algum divino que porventura existisse lá no “Alto”!
    No entanto, nem sequer pesquisando dados para aquilatar da veracidade do acontecimento de tais fenómenos, certamente referenciados em grandes parangonas pela imprensa da época, temos de repetir o que importa: Fátima torna-se desacreditável de dentro para fora e não de fora para dentro, isto é, não pelos fenómenos atmosféricos aduzidos como milagre para comprovar a vinda do divino – Maria Virgem, outras figuras da Virgem, S. José e o Menino, o próprio Jesus Cristo, já não falando no anjo do princípio das aparições – mas pela crueldade, insensatez e irracionalidade da mensagem transmitida a umas pobres e incultas crianças, facilmente manipuláveis, havendo ainda a lamentar o facto de uma poder ver tudo – certamente a mais dada a visões! – e as outras, apenas uma parte.
    Fim da “divina comédia”? – Não! Houve ainda outras aparições-visões, todas datadas, que contemplaram as crianças, não as três, mas apenas Jacinta e Lúcia. O Francisco não foi tão afortunado...
    Para não nos alongarmos, delas falaremos no próximo e último texto.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (10)

    6ª e última aparição – 13 de Outubro. Ainda, a narrativa do Reverendo Cónego: «Devido ao facto de os pastorinhos terem revelado que a Virgem Maria iria fazer um milagre neste dia para que todos acreditassem, estavam presentes na Cova da Iria cerca de 50 mil pessoas, segundo os relatos da época. Chovia com abundância e a multidão aguardava as três crianças nos terrenos enlameados da serra. Lúcia assim descreve estes acontecimentos na Memória IV: “Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira. Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer? Nossa Senhora: - Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. - Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc. - Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. E tomando um aspecto mais triste: – Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido. E abrindo as mãos, fê-las reflectir no Sol. E, enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar-se no Sol.” Neste momento, Lúcia diz para a multidão olhar para o Sol, levada por um movimento interior que a isso a impeliu, e narra: “Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. Era a Sagrada Família. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor acabrunhado de dor a caminho do Calvário e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Lúcia via apenas a parte superior do corpo de Nosso Senhor e Nossa Senhora não tinha a espada no peito. Nosso Senhor parecia abençoar o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora, em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo com o Menino Jesus ao colo.” Enquanto os três pastorinhos eram agraciados com estas visões (apenas Lúcia viu os três quadros, Jacinta e Francisco viram somente o primeiro), a maior parte da multidão presente observou o chamado Milagre do Sol. A chuva que caía cessou, as nuvens entreabriram-se deixando ver o Sol, assemelhando-se a um disco de prata fosca, podia fitar-se sem dificuldade, sem cegar. A imensa bola começou a girar vertiginosamente sobre si mesma como uma roda de fogo. Depois, os seus bordos tornaram-se escarlates e deslizou no céu, como um redemoinho, espargindo chamas vermelhas de fogo. Essa luz reflectia-se no solo, nas árvores, nas próprias faces das pessoas e nas roupas, tomando tonalidades brilhantes e diferentes cores. Animado três vezes por um movimento louco, o globo de fogo pareceu tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão aterrorizada. Tudo durou uns dez minutos. Finalmente, o sol voltou em ziguezague para o seu lugar e ficou novamente tranquilo e brilhante. Muitas pessoas notaram que as suas roupas, ensopadas pela chuva, tinham secado subitamente. Tal fenómeno foi testemunhado por milhares de pessoas, até mesmo por outras que estavam a quilómetros do lugar das aparições. O relato foi publicado na imprensa por diversos jornalistas que ali se deslocaram e que foram também eles, testemunhas do milagre. O ciclo das aparições em Fátima tinha terminado.” Devido ao alongado da narrativa, reservamos os comentários para o próximo texto. (Cont.)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (9)

    A quinta aparição – 13 de Setembro. Continuamos, citando: «Como das outras vezes, vários fenómenos atmosféricos foram observados pelos circunstantes, cujo número foi calculado entre 15 e 20 000 pessoas: o súbito refrescar da atmosfera, o empalidecer do Sol até ao ponto de se verem as estrelas, uma espécie de chuva como que de pétalas irisadas ou flocos de neve que desapareciam antes de pousarem na terra. Em particular, foi notado, desta vez, um globo luminoso que se movia lenta e majestosamente pelo céu, do nascente para o poente e, no fim da aparição, em sentido contrário. Os videntes notaram, como de costume, o reflexo de uma luz e, a seguir, Nossa Senhora sobre a azinheira.
Nossa Senhora: - Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro, virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia (as crianças tinham passado a usar como cilicio uma corda grossa que não tiravam sequer para dormir; isso impedia-lhes muitas vezes o sono e passavam noites inteiras em branco, daí o elogio e a recomendação de Nossa Senhora). Lúcia: - Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, de um surdo-mudo. - Sim, alguns curarei. Outros não. Em Outubro farei o milagre para que todos acreditem. E, começando a elevar-Se, desapareceu como de costume.»
Desta vez, há mais fenómenos atmosféricos a acompanhar o evento. Ilariantes, claro! Sobretudo, aquele globo luminoso que se movia lenta e majestosamente pelo céu deveria ter sido digno de se ver... E, então, aquela chuva de pétalas, caindo como flocos de neve!... Já não falando nas estrelas “vistas”, ao meio-dia!... E cerca de 20 000 pessoas admiraram tão estranhos fenómenos! Alucinação colectiva ou imaginação prodigiosa do narrador, citando Lúcia? Mas, fantástico, sem dúvida! Estranha é aquela promessa da Virgem de, em Outubro, virem também com Ela, Nosso Senhor (Qual? O Deus-Pai, o Deus-Filho ou o Deus-Espírito Santo?), Nossa Senhora das Dores e do Carmo (Então, a mesma Virgem desdobrava-se em mais duas: a das Dores e a do Carmo?), São José com o Menino Jesus (Ambos vivos, sorrindo, ou apenas em imagem de igreja? Se aquele Nosso Senhor, tudo leva a crer que seja Jesus Cristo, ali tínhamos mais uma duplicação: Jesus Cristo, Filho de Deus, já sentado à direita do Pai, e Jesus Menino ainda pequenino nos braços de São José...). E todos a abençoarem o mundo!... É! Muito interessante e piedoso, mas tremendamente caricato e, por isso, descredibilizando-se completamente: um relato de pura fantasia religiosa! Enfim, aquela de “Deus está contente com os vossos sacrifícios”, usando as pobres crianças cilícios, é completamente arrasadora, pela crueldade, levando ao descrédito não só do suposto fenómeno, mas também de qualquer ser divino inteligente que a pudesse conceber e a quisesse impor numa sua visita do Céu à Terra! A ter sido verdade toda esta fantasia de Fátima, seria caso para perguntar com o poeta: “Que quem já é pecador, sofra tormentos, enfim. Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?” (Augusto Gil – “Balada da neve”) (Cont.)