sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (28/?)


A vida adulta – VI
Em casa de Maria Madalena
    Depois que saíra do conforto da casa de Nicodemos, não tendo onde ficar, pernoitava na de discípulos ou de amigos. Sabendo isso, Maria Madalena, que já se insinuara em charme e donativos ao grupo que subsistia pela caridade de adeptos e simpatizantes, não desistia de me convidar para que viesse passar as noites na sua. Assim, quando lhe disseram que eu estava em Cafarnaum, cidade junto ao lago Tiberíades, encontrando-se ela ali perto, em Genesaré, foi ter comigo e disse-me, sussurrando, para não me criar embaraço:
    − É hoje que passarás a noite em minha casa?
    − Que tentadora, mulher! − disse-lhe eu sorrindo, cheio de bondade e simpatia. − Olho para dentro de mim, e o meu corpo, cansado, diz-me que não posso recusar! Aliás, o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça... Mas...
    − Então, vem, meu Jesus! Quando o dia se acabar, deixa os teus discípulos e vem! Eu estarei, pressurosa, à tua espera.
    E aquele dia, como todos os dias, chegou ao fim. E eu estava realmente cansado de palmilhar caminhos, ruelas, pregar nas sinagogas, nos becos, nas colinas, em qualquer lado onde houvesse gente que me quisesse ouvir. Pois bem: o cansaço do corpo levou-me a alma a não resistir ao apelativo e tentador convite.
    Cheguei. Entrei. Deu-me um beijo de boas-vindas. Tirou-me a capa. Levou-me aos lavabos para eu me libertar de pós e suores. Depois, lavados que foram rosto, pés e mãos, sentámo-nos à mesa. Apenas os dois. A fiel serva de Maria dispondo os manjares.
    Os olhos se cruzando, disfarçando algum constrangimento por estar a sós com uma bela mulher, continuei como que embalado pelas pregações com que arrebatara multidões durante o dia, e agora em exclusivo para a minha simpática hospedeira:
    − Se soubesses, Maria, o que é o Reino de Deus! Alegra-se-me o coração do bom que é estar aqui contigo. Mas quando vier o Reino, quem merecer entrar nele será feliz para sempre e não só durante alguns, curtos, fugazes momentos. Em verdade em verdade te digo que não passará esta geração sem que o Reino dos Céus desça à Terra e Deus governará sobre justos e injustos: os justos, fará deles a Sua glória; os injustos, pelo contrário, serão aniquilados para sempre.
    − Senhor, diz-me o que hei-de fazer para merecer entrar nesse Reino!
    − Tu já estás nele, pois quem me vê a mim, vê o Pai Celestial e quem Me recebe recebe o Pai que está nos Céus.
    − Então o Reino de Deus já está no meio de nós?!
    − Tu o disseste, Maria, tu o disseste! Mas agora comamos! Saboreemos estes dons do Pai dos Céus, esta comida boa que sábias mãos, certamente a teu mando, prepararam e que nos vai deliciar os sentidos.

domingo, 26 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (27/?)


    Mas estes seriam acontecimentos que viriam a ter lugar cerca de três anos mais tarde. Por agora, Nicodemos só colocava a João as suas dúvidas quanto à capacidade de eu lhe dar uma resposta convincentemente fundamentada da realidade morte, da realidade imortalidade, da realidade eternidade junto de Deus. Lembrou-lhe também o meu conselho de ler o Livro da Sabedoria já que lá encontraria algumas das ideias que eu iria explanar durante a minha pregação a começar muito em breve. E o diálogo entre ambos continuou:
    − De tal leitura a que conclusões chegaste, amigo Nicodemos? − perguntou João, curioso.
    − Pouco convincentes, João, pouco convincentes. Fala de imortalidade. Fala de um Reino celestial junto de Deus que será a recompensa para os justos. Fala de eternidade. Mas...
    − Mas ficaste sem qualquer certeza de que sejamos realmente imortais, que o Reino dos Céus exista mesmo, que tenhamos uma vida eterna. Espero bem que não tenhas hesitado quanto à existência do próprio Deus!
    − Não blasfemes, amigo sacerdote! Se não, terás de ir purificar-te ao Templo e oferecer uma pomba em sacrifício de expiação conforme ordena a nossa Lei!
    Brincava Nicodemos. O tema das leis mosaicas de há mais de mil anos, ainda aplicadas naqueles tempos, viria a ser ainda assunto de discussão a sós com João, mas não, obviamente, no Templo onde seria cilindrado pelos sacerdotes da velha guarda para quem as tradições religiosas eram ou seriam sempre o factor de união de todo o povo de Israel. Como quebrá-las ou aniquilá-las, preferindo-lhes a liberdade de pensamento helenista? Isso seria perder a identidade do povo judeu que viveu sempre subjugado por tal Lei, provinda “sem qualquer dúvida” da boca de Javé, o todo-poderoso, o único e verdadeiro Deus!
    João retomou:
    − E agora?
    − Agora, como não tenho tempo, ocupado que ando nos negócios de meu pai, vou enviar o meu inteligente servo Levi para acompanhar Jesus e todos os dias me trazer notícias das suas pregações.
    − Se ele for o que tu pensas, uma espécie de Messias, ainda teremos muito que conversar. Ou será que não passa de mais um embuste, um impostor, um agitador de massas, um paranóico anunciador do fim dos tempos, como João Baptista que, pregando os seus medos, arrasta multidões ao rio Jordão a implorarem um baptismo de água?
    − Espero bem que não. Mas veremos e... conversaremos.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (26/?)


A vida adulta - V
João, o sacerdote
    Nicodemos tinha como amigo um sacerdote do Templo, de nome João, também ele homem influente em Jerusalém. Confrontou-o com o meu aparecimento, um digno sucessor de João Baptista, contou-lhe o que tinha visto e ouvido e como me educara, enviando-me para o Oriente para aí aprender a deslindar o que seria a eternidade, a imortalidade, a vida do Além desconhecido. O que ele, Nicodemos, aprendera das civilizações fenícias, egípcias, persas, mesopotâmicas, gregas, romanas, nitidamente não o satisfazia por não darem suficiente resposta. E a angústia crescia-lhe dia a dia na alma e tinha outro rosto além do seu: o do velho pai que pressentira, embora não expressamente, tê-lo incumbido de encontrar uma resposta para tão magno e vital problema, já que a partida para o Reino dos mortos se lhe desenhava cada vez mais nítida no horizonte do tempo...
    Este João, o sacerdote, era proveniente de famílias abastadas, como aliás quase todos os sacerdotes que viviam a expensas do Templo e da sua riqueza, pois só a lei de todo o povo ofertar ao Senhor, isto é, ao Templo, melhor, aos que nele serviam, com os sacerdotes à cabeça, todas as primícias, além do dízimo, davam para enriquecer qualquer um que soubesse aproveitar a situação. E em todos os tempos e lugares houve sempre quem optasse por tal cómodo estilo de vida...
    João possuía em Jerusalém uma bela casa apalaçada, com um grande salão na parte superior, salão que viria a ofertar-me de bom grado, depois de se ter tornado meu seguidor e amigo, para aí celebrar aquela que veio a ser a minha última ceia. Última porque, nessa mesma noite, seria preso, entregue ao sumo sacerdote Caifás, em casa do qual estavam reunidos os sumos sacerdotes, anciãos e doutores da Lei, enfim, todo o Sinédrio, e, depois de sumariamente julgado, enviado ao procurador romano Pôncio Pilatos para me condenar à morte.
    Foi um banquete em que estiveram os doze apóstolos, João, o sacerdote anfitrião que ficou junto a mim, no centro da mesa, e teve o privilégio de reclinar a cabeça no meu peito, mais algumas mulheres que sempre me acompanharam, sendo a mais bela e pressurosa, a minha dilecta e preferida, Maria Madalena. Enquanto as mulheres serviam, nós, os homens, discutíamos animadamente sobre os motins que poderiam acontecer em Jerusalém pelas festas da Páscoa. Eu profetizava e continuava a vaticinar fins dos tempos muito próximos. Pelo que havia feito no Templo, seria certamente considerado um agitador pela classe sacerdotal, bem mais perigoso do que João Baptista que fora assassinado por muito menos. E era sabido que o núcleo duro da classe sacerdotal, com o sumo sacerdote à cabeça, ao tempo Caifás, não admitia interferências nos negócios do Templo. Também não valia a pena pedir a João, o sacerdote, que intercedesse por mim, pois não conseguiria sozinho opor-se com êxito ao sumo sacerdote. Por isso, não me era difícil prever que iria ter problemas. Quais, ao certo, não sabia, mas que poderiam ser graves ou muito graves, não tinha dúvidas. Para tal evento havia preparado os discípulos e agi como se realmente da última ceia se tratasse. Assim, parti o pão, distribuí o vinho, repeti os últimos ensinamentos, dando o exemplo de humildade, imitando aquela apaixonada mulher que me lavara os pés com lágrimas e os ungira com caríssimo perfume, ao pegar numa toalha e indo lavar os pés a todos os presentes, excepção feita às mulheres. Terminei dizendo que se me acontecesse alguma coisa, que não desanimassem, que eu estaria em espírito com eles até à consumação dos séculos, e que sempre que comessem juntos se lembrassem de mim; enfim, que se amassem uns aos outros como eu os havia amado.

PS:
Oportunamente...
E foi mais um 13 de Maio! As mesmas cerimónias de sempre! Muito aparato, muita ostentação! Muita estrangeirada! E... muita vela, fazendo correr, só em cera, dezenas de milhares de Euros para os cofres do Santuário, dos quais, fatia substancial irá parar ao Banco do Vaticano. Nada de distribuir pelos necessitados e famintos locais ou nacionais... E isto sem contar com as esmolas, algumas chorudas, das promessas feitas à Virgem e, agora, também aos beatos Jacinta e Francisco (Quando vai ser a Lúcia proclamada urbi et orbi “beata”? – Não deve tardar! É que os benefícios monetários que esse “céu” traz à Terra eclesial são abundantes...).
Também, claro, muita fé dos crentes que encheram o recinto. Umas dezenas de milhar!
Quanto a Fátima, já foi tudo dito e quem quiser acreditar no fenómeno, tem toda a liberdade de o fazer. Mas já provámos aqui que tudo não passa de um fenómeno – ou, mais precisamente, um epifenómeno, tendo o clero de Ourém manipulado as mentes daquelas três crianças pobres e famintas, nada se importando com a saúde delas, “deixando” morrer, logo a seguir às supostas aparições, Jacinta e Francisco (c.10 e 9 anos), enclausurando a que escapara com vida, Lúcia, para que ninguém a pudesse questionar verdadeiramente sobre os supostos factos, recorrendo ao método científico-empírico! Tudo camuflado! Assim convinha à Igreja local para atingir os seus objectivos de pôr Ourém-Fátima no mapa do mundo e da Igreja católica. E pasmem, senhores: conseguiram-no brilhantemente! (Sobre a inveracidade de Fátima, vejam-se os textos escritos, nos 13 de Maio anteriores, e a dezena de textos onde se analisou, partindo do interior das supostas mensagens, toda a falsidade de que estão imbuídas, logo, toda a inveracidade delas, impossíveis de ser atribuídas a um ente superior, superior em inteligência e bom senso. Ainda soam aos nossos ouvidos frases absolutamente absurdas, como aquela que rezam os devotos, no terço: “Ó meu Jesus perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno e levai as almas todas para o céu principalmente as que mais precisarem.” É que o fogo do Inferno não há nenhuma prova credível de que exista! E se se trata de levar as almas todas para o céu, são todas e não só as que mais precisarem. Aliás, quais as almas que mais precisam de ir para o Céu? Que non-sense, santo Deus de todos os deuses!)

sábado, 11 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (25/?)

 

    Ficava, no entanto, o colossal, o tremendo problema do sofrimento e da dor, da doença e da morte que nem o próprio Deus poderia evitar para não se virar contra Si mesmo que criou a Natureza e nela todos os seres vivos com o inexorável destino de serem moléculas agrupadas num certo ser, durante um certo tempo e, logo depois, novamente moléculas disponíveis para formarem outros que sempre estarão na calha para entrarem na roda da vida! Pois, a haver milagres, qual dos doentes seria curado e qual se deixaria morrer? E dos que morriam, quem seria ressuscitado e quem se deixaria apodrecer? Nisto realmente eu não pensei ao anunciar o Reino de Deus! Aliás, os estrondosos milagres que aparecem narrados nos evangelhos são todos falsos, irrealizáveis aos olhos do poder divino, pois estariam feridos de total injustiça, a nível planetário, ao ter-se seleccionado este ou aquele, esta ou aquela, não curando todos os doentes do Planeta, não ressuscitando todos os mortos de todos os tempos! Por isso, nos prodígios que realizei, tive sempre muito cuidado em não alardear, mas apenas sugerir que Deus interferia através de mim, sendo eu, com as minhas limitações de humano, no tempo e no espaço e nas emoções, que decidia se curava este ou aquele, remetendo tudo para o campo da fé: “Se acreditas, és curado! Eu quero que sejas curado: fica curado”! Então, caso as minhas capacidades curandeiras fossem suficientes, aliando-as à fé na cura do contemplado, o “milagre” acontecia. Se não, era o fracasso como me aconteceu com muitas tentativas falhadas que obviamente não vêm narradas nos evangelhos... Objectivamente, claro que não houve milagre nenhum, nenhuma intervenção divina; portanto, nenhuma ressurreição, nenhuma espectacular multiplicação dos pães e peixes ou água transformada em vinho e outras “barbaridades” poéticas que podem ter significado simbólico, mas que não foram, não podiam ter sido reais. Sem qualquer dúvida! Mas quem quiser acreditar, evidentemente que está no seu direito. É uma liberdade que não se poderá retirar seja a que indivíduo for. Na liberdade do indivíduo, nem Deus pode intervir. Se interviesse, deixava de ser livre...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (24/?)


    O convite da bonita Maria Madalena, embora difícil de recusar, era raramente aceite, preferindo eu continuar pregando de dia, rezando a sós de noite, como que adivinhando que não teria muito tempo para convencer o mundo que me rodeava da minha mensagem de Boa Nova. Mais que asceta, solidário com o mundo, não?! É que a Boa Nova seria a vinda triunfal de Deus rodeado de poder e majestade para governar a Terra, intervindo directamente na História como, aliás, fizera ao longo de séculos com Israel, não havendo por esse lado nada de realmente novo, sugerindo, no entanto, a criação de um Reino ideal com a restauração das doze tribos de Israel e um mundo onde a paz e a justiça, o amor e a fraternidade universal finalmente iriam prevalecer. E a vida tornar-se-ia um banquete permanente, dando o rico ao pobre, ajudando o pobre o rico para merecer o seu sustento, acabando-se com todos os sofrimentos e todas as injustiças à face da Terra. Depois de apregoar a todos esta Boa Nova, teria tempo para descansar, banquetear-me com os eleitos no Reino de Deus, ser parte integrante dele: “Vereis o Filho do Homem vir sobre as nuvens...”, talvez distribuindo benesses a todos os deserdados da sorte, pois “Pobres sempre os tereis convosco”, talvez curando em nome do Altíssimo, que se dignara vir tomar conta da Terra, todos os doentes e não apenas alguns, mostrando o poder divino que actuava através de mim: “Ide e contai a João: os cegos vêem, os coxos andam...”. Eu fora, eu era o enviado de Deus, do Pai do Céu que ao fim de muitos milénios de existência do Homem sobre a Terra se convencera que melhor mesmo era Ele vir tomar conta do governo do mundo para que as coisas tivessem algum sentido de ética e de moralidade, já que o Homem era incapaz de o fazer, todos se convertendo, todos participando na festa da vida: “Vim para que tenhais vida e vida em abundância.”! Um Reino quase de fazer inveja ao celestial para onde, afinal, iriam todos os que não se negassem a participar neste Reino de Deus na Terra, e ali para todo o sempre, pois a vida no tempo se acabara e começara a verdadeira, a eterna, para a qual a terrena seria apenas uma espécie de treino, de etapa, de preparação. Quem não aceitaria tal Boa Nova? Quem? Aliás, ai dos que não a aceitassem! Ai dos que não acreditassem em mim! Ai dos que não vissem em mim o Filho dilecto do Pai dos Céus, e Deus como um Pai! Seriam lançados ao fogo eterno, a geena, onde havia choro e ranger de dentes...
    Não havia dúvida: a tentação de apelar para uma vida eterna era incontornável. Sem essa vida eterna, num Paraíso com Deus ou num Inferno com o Diabo, a minha mensagem de fraternidade universal na Terra não teria a força necessária de convencimento de todos os Homens e, assim, mudar o mundo. Só a recompensa ou o castigo eternos seriam convincentes daquele panteísmo subjacente aos dois grandes mandamentos, colocando Deus em tudo, em todos e em toda a parte: “Ama a Deus sobre todas as coisas. Ama o teu próximo como a ti mesmo.”, sendo o primeiro mandamento semelhante ao segundo.