sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (49/?)

 
PARA ALÉM DO FIM
Cinco momentos de reflexão
I
Fundamento das nossas dúvidas, as dúvidas que estão na base desta “Vida de Cristo” narrada pelo próprio
(Cont.)
 
 
    10. Como produto judeu, Jesus foi inventado de acordo com as antigas Escrituras e para que estas se cumprissem, dando fôlego a um povo que estava absolutamente necessitado de um Messias salvador, dadas as circunstâncias trágicas em que se encontrava, não se esquecendo os seus inventores de anexar ideias de Fílon, onde os evangelhos se inspiraram para o relato de sua pretensa vida.
    11. Enfim, não deixa de ser sintomático que Jesus Cristo não tenha deixado nada escrito de seu quando tantas personagens ilustres do tempo o fizeram.
Conclusão:
    Realmente, lendo os apologéticos cristãos, constatamos que os seus argumentos acerca da historicidade dos Evangelhos e da historicidade de Jesus, como homem, têm quase sempre pés de barro e, quando não, os pés que têm ou parecem ter não dão para andar muito!... Mas, admitindo de bom grado a existência do Jesus histórico, vamos deparar-nos com o fenómeno da sua transformação em Messias ou em Cristo e, megalomanamente, em Filho de Deus, atribuindo-lhe os mais espantosos milagres! Não sendo nosso propósito alongarmo-nos, aqui, sobre tão fundamental assunto para o início do cristianismo, apenas diremos que foi Paulo, cronologicamente, após ter tido conhecimento de Jesus por alguns dos seus discípulos, nomeadamente Pedro, com o qual depois se incompatibiliza, o seu grande arquitecto, criando comunidades fora da Palestina a quem ministrava as suas ideias acerca de Deus e da Sua intervenção na História do Homem através de Jesus, o Cristo, orientando-as depois por meio de cartas, seguindo-se, uma ou várias dezenas de anos depois, os evangelhos, de Marcos a João, com a mitificação do seu herói, para “alimentar” ou firmar na fé as comunidades de Paulo e outras que entretanto se foram formando, sendo talvez a primeira a de Jerusalém presidida pelo irmão de Jesus, Tiago. A nova religião, que mais tarde se chamaria cristianismo, aparecerá, nos seus primeiros tempos, como uma síntese do judaísmo com o paganismo antigo, incorporando todas as tradições culturais e religiosas conhecidas no mundo de então. Poderíamos, pois, sintetizar a verdade acerca das origens do cristianismo, reflectindo criticamente sobre os escassos dados históricos disponíveis e já atrás referenciados, opondo-nos, obviamente, a todas as histórias do cristianismo que não obedecem ao princípio crítico de análise e que, por isso, não devem merecer credibilidade: 1 – C. do ano 33, Jesus morre, com c. de 38-40 anos de idade, condenado pelas entidades religiosas do tempo, considerando-o um insubordinado ao poder político-religioso, à morte na cruz, segundo o costume romano, mas sem qualquer milagre a acompanhá-lo, como descreve Mateus; 2 – Os discípulos continuam a pregar a sua mensagem de fraternidade universal, o Paraíso para os bons, o Inferno para os maus, a ressurreição e a vida eterna, formando várias pequenas comunidades ali em Jerusalém; 3 – os fariseus movem-lhes guerra e perseguições, e, entre eles, encontra-se um indivíduo ambicioso e inteligente (com a dupla nacionalidade: judeu e romano) de nome Paulo; era de Tarso; 4 – C. do ano 50, dá-se a reviravolta em Paulo: de perseguidor passa a pregador e a apóstolo do que ele chama cristianismo; do que ele conta da sua conversão, (Act 22, 6-16; 22,9; 26,14) tudo leva a crer ser uma metáfora da sua doença, a epilepsia, doença a que ele próprio faz referência, chamando-lhe “espinho cravado na carne” (2Cor 12, 78); então, sem qualquer milagre, em transe epiléptico, teve a original ideia de aproveitar o Jesus e a sua mensagem, focando-a, sobretudo, na ressurreição dos corpos, tendo Jesus sido o primeiro “grande ressuscitado”, mas cuja ressurreição seria penhor da ressurreição de todos os Homens para irem, então, e por toda a eternidade, para o Paraíso ou Inferno, conforme as suas obras: “Se ele não ressuscitou, é vã a nossa fé!”; Paulo decide que a nova religião deve ser pregada não só aos judeus mas também aos gentios, mais uma ideia genial votada ao sucesso: é que a mensagem era fortemente aliciante, primeiro, para os pobres escravos que viam, enfim, fazer justiça, tendo a esperança da vida eterna, depois, para ricos e governantes que viram na religião o que ainda hoje vêem: uma forma de exercer o poder sobre os outros Homens (teor político) e, ao mesmo tempo, a possibilidade de, depois da morte, terem um Paraíso à sua espera (esquecendo-se, claro, do que Jesus dissera no seu evangelho: “Tu, rico, tu já tiveste a tua recompensa...”); a actividade de Paulo durará, quer como apóstolo quer como escritor de cartas para as comunidades que tutelava, c. de uma década, até meados do ano 60; 5 – Pelo ano 70, aparece o primeiro evangelho, narrando uma suposta vida pública de Jesus e já muitos dos seus supostos milagres, certamente a mando de algum padre da altura para firmar na fé as comunidades já formadas; 6 – Entre 70 e 80, aparece o evangelista mais prolixo em milagres: Mateus; Mateus amplia Marcos e tenta dar um certo ar de credibilidade à sua narrativa, apresentando datas históricas, mas destruindo logo tal credibilidade, com a invenção de inúmeros milagres totalmente absurdos, desde o nascimento de JC até à sua morte; 7 – Há um lapso, no entanto, na narrativa: pouco se diz dos acontecimentos que rodearam o nascimento de Jesus; e, assim, aparece Lucas a colmatar tal lacuna, inventando tudo, obviamente, inspirando-se nas lendas sobre o nascimento de deuses antigos, sobretudo os deuses solares, reescrevendo Mateus em outros episódios da suposta vida de Jesus; 8 – Pelo ano 90, aparece o segundo teólogo do cristianismo (o primeiro fora Paulo), João, com o seu evangelho, mais ou menos enigmático acerca da divindade una e trina de Deus; 9 – Nos séculos segundo e terceiro, as comunidades cresceram e consolidaram-se, não havendo perseguições que fizessem demover tal movimento; foi assim que se chegou ao Concílio de Niceia, convocado pelo Imperador Constantino, 325, onde o cristianismo praticamente se torna religião oficial do Império, o que tornou ainda mais fácil a sua propagação…
E assim nasceu mais uma religião, baseada na efabulação, na imaginação de alguns, na teimosia e interesses de outros, na falsidade aliciante de uma justiça divina, uma fraternidade universal, um fantástico Paraíso, uma eternidade junto de Deus... Religião que arrebata consciências frágeis e que, tendo conquistado (apenas!) um quarto do mundo, em dois mil anos..., continua, no entanto, viva em muitos países, sobretudo junto das classes mais pobres e mais ignorantes, explorando a sua fácil tendência para a crença ou crendice, valorizando tudo o que tenha cheirinho de milagre ou de sobrenatural, milagre e sobrenatural obviamente inexistentes…, comandada e dirigida de Roma pelo todo-poderoso e corrupto Vaticano – pese embora a actual lufada de ar fresco nele introduzida pelo Papa Francisco – com a não menos poderosa Congregação para a Causa dos Santos a aceitar supostos milagres aqui e ali realizados por Deus, pela intercessão deste ou daquele candidato a santo… Tudo, obviamente, sem qualquer consistência racional ou científica, digam embora eles o contrário!
E Religião que viria, seiscentos anos mais tarde, a ter uma grande adversária ou rival: o maometismo, cujo avanço avassalador e rápido o fez na segunda maior religião monoteísta organizada do mundo (sendo a de menor dimensão a judaica com o seu Javé, tendo, no entanto, sido dela que derivaram e onde se alicerçaram as duas outras), mas com todos os problemas que o mundo conhece, desde que nele se impôs pela espada e, agora, com a espada, (melhor, com bombas!) se trucidando, sobretudo nas suas duas grandes seitas: sunitas e xiitas. Que Deus, santo Deus, poderá aprovar tal religião, tais religiões, tais mortandades?! Mas é a realidade! A do cristianismo, mais em séculos passados, e a do maometismo, nos nossos tempos, quase ali ao nosso lado...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (48/?)
 
PARA ALÉM DO FIM
Cinco momentos de reflexão
I
Fundamento das nossas dúvidas, as dúvidas que estão na base desta “Vida de Cristo” narrada pelo próprio
(Cont.)
 
    4. Os sacerdotes cristãos Justino (103 - ?), Tertuliano (c.155 - c.220), Orígenes (c.185 - c.254) e Cipriano (? - 258) acusam Flávio Josefo de partidário e faccioso por nada dizer de Jesus Cristo. Este será mais um argumento para ter como falsas interpolações posteriores as poucas referências que sobre ele aparecem em Flávio Josefo: um parágrafo apenas!
    5. Segundo os pergaminhos do Mar Morto, os manuscritos de Qumran descobertos em 1947, escritos em hebraico e não numa qualquer tradução ou original grego, o Chrestus essénio, datado do Iº s. a.C., também foi morto por um Judas. E, imediatamente antes de Jesus Cristo, houve um Messias, Menahem, o essénio que depois de lutar contra os romanos, obtendo algumas vitórias e fazendo muitos seguidores, foi morto semelhantemente a Jesus Cristo.
    6. Justo de Tiberíades escreveu uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50 d.C., e nada diz sobre tão carismática personagem. Fílon de Alexandria, um dos judeus mais ilustres de seu tempo, apesar de ter contribuído poderosamente para a formação do cristianismo, platonizando e helenizando o judaísmo, também não deixou a menor prova de ter tomado conhecimento da existência de Jesus Cristo. Tinha escrito um tratado sobre o Bom Deus Serapis, tratado que foi destruído. Os falsificadores cristãos dos s. III e IV não hesitaram em atribuir as referências ao deus Serapis como sendo feitas a Cristo, o que obviamente era impossível pois Fílon morreu no ano 50 d.C., antes de a denominação de “cristãos” estar implementada. Fílon relata os principais acontecimentos de seu tempo, do judaísmo e de outras crenças, não mencionando nada sobre Jesus; cita Pôncio Pilatos e a sua actuação como Procurador da Judeia de 26 a 36 d.C., mas não se refere ao julgamento de Jesus a que teria presidido; quando, no reinado do imperador romano Calígula, de 37 a 41 d.C., esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos acontecimentos da Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, os seus feitos, a sua sorte, o seu destino, estendendo-se o mesmo silêncio aos apóstolos, a José, a Maria, seus filhos e toda a sua família. O silêncio de Fílon, juntando-se ao de Josefo, revela estarmos perante uma bem sucedida criação mitológica. É que, se a existência de Jesus como nos narram os evangelhos canónicos fosse verdadeira, o mundo de então teria de certeza ficado abalado com tão estranha personagem histórica. Por isso, os acontecimentos narrados pelos evangelistas não passam de pura fantasia religiosa, referindo-se a personalidades irreais, ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos.
    7. Não se conhece nenhum documento atestando que os gregos, os romanos e os hindus dos séculos I e II ouviram falar na existência física de Jesus Cristo ou em qualquer movimento religioso ocorrido na Judeia, chefiado por ele. Os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram todos inventados ou falsificados no todo ou em parte, para esse fim. A Igreja sempre dispôs de uma equipa de falsários que se dedicaram afanosamente a adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os seus cânones. Terá sido o caso do piedoso e culto bispo de Cesareia, Eusébio (c.265 - c.340 d.C.) que, entre muitas obras, escreveu “A história da Igreja”, estabelecendo as bases dos primórdios do cristianismo, com afirmações polémicas a propósito das guerras que assolaram a Palestina como, por exemplo: “Foi assim que a vingança divina se cumpriu para os judeus pelos crimes que ousaram perpetrar contra Cristo.” (Livro V, cap. 6).
        8. A História, em dois mil anos, não encontrou uma única prova ou um documento que mereça crédito no que diz respeito à vida de Jesus. O seu nascimento, vida, morte e ressurreição, tudo o que lhe diz respeito tem analogia com as crenças, ritos e lendas dos deuses solares, adorados sob diversos nomes e modalidades por diversos povos da antiguidade, desde a orla mediterrânica ao Egipto, à Pérsia, ao Oriente, sendo Mitra e Krishna os mais conhecidos. Pode, pois, concluir-se que a sua existência é fictícia e integra-se na mitologia vinda de antigas religiões.
    9. O Jesus descrito nos Evangelhos pode ser Brama, Buda, Krishna, Mitra, Horus, Júpiter, Serapis, Apolo ou Zeus, apenas com uma nova roupagem. O Cristo descrito por João aproxima-se mais desses deuses redentores do que o dos outros evangelistas: inspirando-se nas ideias dos orientais de um deus antropomorfizado, criou um Jesus divino, não por causa dos seus pretensos milagres, mas por ser o Logos, o Verbo feito carne. Jesus não fez milagres, ele é o próprio milagre: nasceu de um milagre, viveu de milagres e foi para o céu milagrosamente, de corpo e alma, realizando assim mais uma das velhas pretensões dos criadores de religiões: a imortalidade da alma humana.
 

sábado, 12 de outubro de 2013

 
Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (47/?)
PARA ALÉM DO FIM
Cinco momentos de reflexão
I
Fundamento das nossas dúvidas, as dúvidas que estão na base desta “Vida de Cristo” narrada pelo próprio
    Muitos técnicos especialistas em análise de documentos escritos antigos afirmam que Jesus Cristo nunca existiu. Nem mesmo como pessoa histórica. Uma completa efabulação com evidentes interesses religiosos e sociais, primeiro, depois, também económicos e políticos. E os seus argumentos são altamente, irresistivelmente, irritantemente convincentes, baseados em provas de acentuado cunho científico, praticamente irrefutáveis.
    Resumamo-los em 11 ítens:
    1. Pelo trabalho de notáveis mestres de Filosofia e Teologia da Escola de Tubingen, na Alemanha, recorrendo à pesquisa histórica e a exames grafotécnicos, deu-se como provado que a Bíblia, Antigo e Novo Testamentos, não possui qualquer valor histórico, devido à falta de rigor com que aborda personagens e acontecimentos, pressupondo-se pois eivado de falsidade ou de inverdade tudo quanto a Igreja impôs como verdade sobre a inspiração divina da “Sagrada” Escritura e sobre a figura histórica de Jesus Cristo. Aliás, manter que a Bíblia foi inspirada por Deus, deixa Deus em muito má situação pois não só mostra uma inadmissível ignorância acerca da origem do Universo, da Terra e nela a vida, como se transforma ao longo dos séculos, passando de violento no A.T. a um Deus de paz e de amor no N.T. E estes são apenas dois entre muitos outros argumentos possíveis de aduzir para provar a impossibilidade de tal inspiração.
    2. O dia do nascimento de Jesus Cristo foi calculado por Dionísio, o Pequeno, no século VI, marcando o ano 1 do século I, correspondente ao ano 753 da fundação de Roma, com um erro de previsão de cinco a nove anos. Já nos meados do s. IV, a Igreja teve a preocupação em fazer com que o nascimento de Jesus coincidisse e se confundisse com o dos deuses solares, os deuses salvadores, e especialmente com o Deus Invictus que era Mitra. E era justamente o mitraísmo que a religião cristã pretendia absorver. No dia 25 de Dezembro, todas as cidades do império romano estavam iluminadas e enfeitadas para festejar o nascimento de Mitra. Foi um dos grandes trabalhos de mistificação da Igreja, a confluência dos dois nascimentos para a mesma data. Assim, o nascimento do novo deus no princípio do Inverno apagava a lembrança de Mitra da memória do povo. Aliás, desde milénios que as tradições religiosas fizeram com que todos os deuses redentores nascessem em 25 de Dezembro. Esqueceram-se, no entanto, os eclesiásticos do tempo do que Lucas narra no seu evangelho – e isso ficou consagrado, para a História, nos presépios de Francisco de Assis – a saber que os pastores dormiam e tinham os seus rebanhos ao relento, facto que só acontece a partir da Primavera, indo até meados do Outono. Então, o 25 de Dezembro é data impossível para o nascimento de Jesus a quem chamaram de Cristo...
    3. Os escritores do tempo em que supostamente viveu Jesus Cristo, Fílon de Alexandria (c.20 a.C. – c.54 d.C.), Flávio Josefo (c.37 - c.100 d.C.), Justo de Tiberíades (s. I d.C.), Tácito (55-120 d.C.), Suetónio (c.69 - c.126 d.C.) e Plínio, o Jovem (c.61 - c.126 d.C.) fazem-lhe apenas pequenas referências, nos seus escritos. E tais escritos, após terem sido submetidos a exames grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte, sendo consideradas aquelas poucas referências interpolações dos séculos III e IV d.C. Além disso, podem não ser feitas ao Cristo dos cristãos já que, significando “Messias” houve, ao tempo, na Galileia e na Judeia, outros pretendentes ao título, tendo os essénios, influente comunidade instalada em Qumran, o seu próprio Chrestus. O estrondoso silêncio destes historiadores, historiadores credenciados pela opinião pública e pela História, arrasa completamente a credibilidade dos arrebatados e estrondosos milagres de JC, milagres narrados pelos quatro evangelistas canónicos, sendo Mateus o seu principal herói, como narrador/inventor de tais acontecimentos. Tudo, portanto, leva a crer que aqueles “acontecimentos” – e tantos foram eles, e tanto contribuíram para divinizar o judeu Jesus! – foram produto da fértil imaginação dos evangelistas, obviamente com interesses político-religiosos; é que se tratava de credibilizar o homem no qual se basearia a nova religião nascente: o cristianismo. Interessante: conseguiram tal objectivo! A explicação nem é difícil. Ela assenta em três factores: 1 – a necessidade de naquele momento o povo judeu necessitar de um Messias que o salvasse do jugo romano; 2 – a proliferação de seitas religiosas, algumas descendo às origens e pureza do judaísmo, opondo-se às “seitas” instaladas, como o grupo dos escribas, dos fariseus e saduceus a dominarem o aparelho religioso, sendo a mais significativa, a dos essénios; 3 – (the last but not the least!) a força da mensagem de JC, num mundo dominado pelos senhores livres que tinham ao seu serviço uma grande comunidade de escravos: a fraternidade universal, considerando todos os Homens iguais e livres, já que todos filhos do mesmo Deus, o mesmo Pai do Céu, prometendo, ao mesmo tempo, aos bons, o Paraíso e aos maus, o Inferno, ressuscitando aqueles para ficarem junto de Deus, estes, para fazerem companhia ao Diabo... Por toda a eternidade!

domingo, 6 de outubro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (46/?)

 
A minha morte
 
    Da minha morte, apesar das muitas incertezas quanto à data referida pelos evangelistas, estava tentado a dizer-vos o ano, o mês, o dia, a hora e até o dia da semana, pois, no dia seguinte, sábado, comemorar-se-ia a Páscoa, a grande festa judaica que já não me deixaram comemorar: morri pelas três horas da tarde do dia três de Abril, que era uma sexta-feira, do ano 35 da era cristã. Tinha uns quarenta anos de idade.
    Se quiserem, acreditem nas narrativas factuais dos evangelhos e em todos aqueles sofrimentos horríveis que me infligiram, considerando-me réu de morte, uns por blasfemo, outros, Pôncio Pilatos incluído, por ter de algum modo atentado contra a soberania de Roma e o seu todo-poderoso Imperador, dizendo-me rei e não o negando, tendo suportado masoquistamente a flagelação, a coroação com espinhos, o transporte da cruz a subir o monte do Calvário onde me iriam crucificar. Acreditem ainda naqueles românticos episódios, primeiro do sono, depois da fuga dos discípulos, o meu suar sangue, suor e lágrimas, o beijo do pobre Judas que me traiu, os meus lamentos perante Deus que me abandonara em hora tão trágica... Mas não acreditem, obviamente, em todos os fenómenos naturais descritos por Mateus aquando da minha morte: terramotos, escurecimento do céu, cortinas rasgando-se no Templo, mortos a ressuscitarem por todos os cantos da cidade... Aquele Mateus bem poderia pensar que, dizendo tais barbaridades, só seria acreditado por quem nunca iria ter, durante a vida, a luz da razão espevitada pela Ciência e pela Verdade. Enfim, foram “limitações” dos escribas do tempo que iriam ser bem aproveitadas por muitos, séculos fora, arrogando-se o direito de se dizerem meus representantes, meus seguidores e de me adorarem como Filho de Deus que não sou, ou sou e fui tanto como qualquer ser humano o é: uma partícula do Deus da Harmonia Universal que é tudo e tudo contém. E... recordam-se? Recordam aquela comovente cena de eu dizer ao “bom” ladrão que estava sendo crucificado a meu lado: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!”? Ah, como gostaria que tal tivesse sido verdade e não fantasia do evangelista! Como gostaria! Verdade para ele... Verdade para mim também!
    Da ressurreição, em que se baseia toda a Fé dos cristãos, a começar por Paulo que viveu no meu tempo, que poderei dizer? Que é mais uma falsidade? Mais uma fantasiosa congeminação? Uma pura invenção, imitando as lendas dos deuses solares que ressuscitavam em cada Primavera? É, sem dúvida, o culminar das invenções orquestradas para me fazerem o tal Cristo em que quiseram transformar-me com os mais diversos fins. Mas, sejamos benevolentes, o principal objectivo seria, com certeza, resolverem as suas dúvidas existenciais sobre um Além desconhecido, projectando-se num Paraíso habitado por um Deus magnificente, e por toda a eternidade. Então, terão direito ao nosso perdão, embora a Verdade seja a de que não houve ressurreição nenhuma, sendo portanto, nas palavras de Paulo, vã toda a fé que se queira construir a partir dela... Aliás, as ressurreições referidas no A.T. ou as que me são atribuídas, sendo a de Lázaro a mais espectacular por já estar morto havia quatro dias, as que são atribuídas a Pedro e a Paulo ou outras quaisquer, são apenas efabulações poéticas de metafórico significado. Nada de verdade existiu nelas!
    Também não apareci ressuscitado a ninguém! Como poderia ser, se a minha ressurreição pertence ao domínio da fábula? Se tal tivesse acontecido, seria fenómeno a ser conhecido por todo o Império Romano e não só em Jerusalém, onde, segundo os evangelistas, cada um a seu modo e com diferentes personagens, eu apareci a umas quantas mulheres e a alguns discípulos, mostrando as chagas das mãos e dos pés, comendo e bebendo, abençoando e partindo o pão... Tudo fantasias! Quem poderá pensar que se eu tivesse tido o poder de ressuscitar, apareceria apenas a uns poucos dos que me conheceram e não a multidões, aos próprios que me condenaram, neles Pôncio Pilatos, indo triunfante até ao César de Roma? Quem? Como perderia eu tamanha oportunidade de fazer realmente descer o Céu à Terra e convencer todos os humanos do Reino de Deus e de fraternidade universal a implementar na mesma Terra? E então, sim: o brado da minha existência teria ecoado pelos séculos dos séculos, todos os historiadores relatariam longamente o estranhíssimo fenómeno, acabar-se-ia o moribundo, ao tempo, judaísmo, não teria havido lugar a Maomé com seu Corão e a sua religião, e o mundo, hoje, seria outro completamente diferente. Certamente muito melhor! Assim, foi realmente pena que a minha ressurreição se tivesse ficado pela pura fantasia dos evangelistas, não foi?
    Enfim, também não houve nenhuma ascensão ao céu! Infelizmente! E também aqui bem gostaria de me ter prolongado como indivíduo por toda a eternidade junto de um Deus sempre renovado! Oh, se gostaria! Mas... não! Humano como todos os humanos – aliás, não há, nunca houve, não haverá de certeza seres divinos nenhuns à face da Terra! – voltei ao pó donde viera, dando razão ao Génesis: “Lembra-te, ó Homem, que vieste do pó e para o pó voltarás.” É pena! Muita pena mesmo! Pena de levar às lágrimas qualquer um! “A frustração total!” –gritareis vós. Certo! Mas que havemos de fazer se esta é a inexorável Verdade, a única Verdade acerca da condição humana? “Ah, como nos deixas sem nenhuma fé, sem nenhuma esperança, sem nenhum sentido para a vida que, em breve, se acabará! Não! Não te queremos ouvir! Vai-te e não fales mais!” – direis ainda.
    Sem resposta, com a voz se me embargando de vos ter deixado nessa frustração da não existência de um Além, de uma eternidade, de um Paraíso e nele um Deus magnificente, só me resta despedir-me de vós que, apesar de tudo, tivestes a paciência de aqui estar comigo. Adeus, até à... eternidade onde me encontro, eternidade que existe em toda a parte e em parte nenhuma. A “minha” eternidade, a eternidade de todos! Nem céu, nem inferno, nem Deus nem o Diabo neles! O... NADA! Ou... o TUDO, pois permaneço em moléculas de outros seres que “ansiavam”, na ordem natural das coisas, pela minha morte, para de mim “herdarem” átomos e moléculas que lhes dão o ser e a vida que agora possuem. Assim, sou eterno, sou, não como indivíduo que já fui, mas nesses seres, outros que não eu, que me perpetuarão pelos séculos dos séculos, enquanto houver tempo, que forçosamente se perderá na eternidade!...
 
 
 
 
FIM