terça-feira, 24 de junho de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 25/?




À procura da VERDADE no livro do Êxodo - 9
- “Faz uma arca (…) Reveste a arca com ouro puro por dentro e por fora; e ao 
seu redor aplica uma moldura de ouro. Fundirás para ela quatro argolas de ouro (…) 
Dentro da arca coloca o documento da aliança que te darei. Faz também uma 
placa de ouro puro (…) Nas duas extremidades (…) faz dois querubins de ouro 
batido (…), cobre a arca com a placa (…)” (Ex 25,10-21)
- Como é possível? Para quê tanta ostentação de riqueza? Que Javé é este que 
tanto ouro exige para Si? Ao colocar na boca de Javé tal exigência, o autor 
descredibiliza-o totalmente. Ou, então, será mais um modo de dominar um 
povo, certamente exageradamente rebelde, acenando-lhe com a protecção de 
um Deus que, em troca, exigia ser servido no seu santuário o mais condignamente 
possível. E isso, só com o fausto do ouro! (Recorde-se que este fausto 
ir-se-ia prolongar pelos milénios fora, representado nas inúmeras igrejas construídas 
em todo o mundo cristão.) Mas isto de um Deus habitar num santuário é… 
tão ridículo! E repete-se a eterna pergunta: fala-se em sentido real ou metafórico? 
Como o leu o povo de então? Tal como o lêem - ou “obrigam” a ler! - o povo 
de hoje, no temor de Deus e do mistério do Além? Seria interessante saber! 
Nós não sabemos. Os exegetas e teólogos também não, embora se percam 
em interpretações... Aliás, todas as instruções que se seguem, neste que é o mais 
longo monólogo de Javé, na Bíblia, são de pormenores tantos e tais que só 
poderiam ter nascido de cabeças humanas, que tiveram todo um exílio de 70 anos, 
para as escreverem e inventarem. Ao pô-las na boca de Javé, o autor talvez 
tenha atingido os seus objectivos para os do seu tempo; para nós, só restou 
um Javé descredibilizado pelo ridículo dos pormenores e o fausto exigido em 
tudo o que dizia respeito ao seu culto.
- “Constrói uma mesa (…) Reveste-a de ouro (…) aplica ao redor uma moldura 
de ouro (…) quatro argolas de ouro (…) Faz varais (…) pratos, bandejas, jarras 
e copos (…) tudo de ouro puro (…) Faz um candelabro de ouro puro (…) Tudo 
será feito com um bloco de ouro batido (…) (Ex 25,23-36)

- Basta! Não nos alonguemos mais! Ou o ouro era o mais barato dos metais 
ou, decididamente, não podemos aceitar um tal Deus que todo um povo a tal obriga! 
E não é só ouro que exige; tudo o resto terá de ser sempre do melhor: o melhor 
linho, a melhor púrpura para as cortinas e para as vestes sacerdotais, o melhor 
azeite, as mais belas pedras preciosas… 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 24/?




À procura da VERDADE no livro do Êxodo - 8

 
- “Quem tiver relações sexuais com algum animal, será réu de morte.”

- Sem comentários!… De qualquer modo, condenar à morte alguém que
teve um tal deslize não deixa de ser pena desadequada ao acto. Javé
deveria ter pensado nisso…

- “A minha ira inflamar-se-á e far-vos-ei perecer à espada: as vossas
mulheres ficarão viúvas e os vossos filhos ficarão órfãos.”

- Os homens! Aqui, só eles são os visados pela ira divina! E porque
não as mulheres?!!!

- “Trabalharás durante seis dias e descansarás no sétimo dia, para
que o teu boi e o teu jumento descansem (…)”; “Três vezes no ano,
celebrarás uma festa em minha honra.”

- Foi há três mil anos. Se fosse agora, que diria Javé? Certamente,
aumentaria para dois os dias de descanso e de três para treze os dias
de festa!!!

- “O meu anjo irá à tua frente e introduzir-te-á na terra dos (…) cananeus (…)
e Eu acabarei com eles. (…) Destrói os seus deuses e quebra os seus
monumentos sagrados. Servi a Javé (…) Enviarei diante de ti o meu terror (…)
e farei com que todos os teus inimigos fujam de ti (…).”; “Eles viram o Deus
de Israel (…), contemplaram a Deus e depois comeram e beberam.” (Ex 23-24)

- Que Javé é este que rouba a terra aos cananeus para a dar aos Israelitas,
que manda destruir templos sagrados, que envia o seu terror e… que se
deixa contemplar, antes de uma boa comezaina e talvez de gostosa bebedeira?
Com que rosto? Como O viram aqueles notáveis do povo? Mais: porque se
mostra e se deixa ver Javé, aqui e, depois, em Ex 33,20-23, diz a Moisés: “Mas
tu não poderás ver o meu rosto porque ninguém pode vê-lo e continuar com
vida. (…) Depois, (…) ver-me-ás pelas costas. Mas não poderás ver a minha face.”?
Mesmo assim, que costas de Javé teria Moisés visto? Que figura? Cabelos à
moda humana? Braços e pernas em movimento?

- “Diz aos filhos de Israel que Me ofereçam um tributo; aceitareis (...): ouro,
prata e bronze; púrpura (…), linho (…) peles (…), couro (…) madeira (…), azeite (…)
aromas (…), pedras de ónix (…) Construir-Me-ás um santuário e habitarei entre
eles.” (Ex 25,2-8)

- Que Javé é este que obriga a tal tributo? Como eram ambiciosos, ignobilmente
vivendo às custas do povo, aqueles sacerdotes! E não se contentavam com
pouco nem com um qualquer pouco! Queriam o melhor! É que a Deus - a eles,
sacerdotes gulosos, realmente! - só se oferece o melhor…

Conclusões: 1 – É mais uma vez óbvio que os autores do Êxodo punham na boca
de Javé as leis/normas às quais queriam que o povo obedecesse. Vindas de
Deus/Javé – o terrível! – quem ousaria desobedecer-lhes? 2 – Se naquele
“ver a Deus” se trata de linguagem figurada ou simbólica, perguntaremos até à
exaustão, onde e quando é que a Bíblia é real e não metafórica, é verdade
literal ou figurativa. Ora Deus, inspirando autores a escreverem em seu nome,
não pode andar a brincar a figuras de retórica literária… Assim, este escrito,
supostamente de origem divina, não tem qualquer credibilidade como tal.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 23/?


 
 
À procura da VERDADE no livro do Êxodo - 7

 - Segue-se, agora, certamente o maior monólogo de Javé de toda a Bíblia,
apresentando ao povo uma longa e pormenorizada legislação - o Código da
Aliança - sobre: a construção do altar a Javé; a actuação para com os
escravos; os casos de homicídio; os ferimentos não mortais; os danos
causados por animais; o roubo de animais; a reparação de danos; a protecção
da mulher; a protecção dos pobres; a administração da justiça; o
descanso; as festas principais; as contribuições para o santuário; os materiais
e medidas da arca da aliança; os materiais e medidas para a mesa dos pães
oferecidos; os materiais e medidas do candelabro; os materiais e medidas
das cortinas do santuário; os materiais para a armação do santuário; os
materiais para o altar dos holocaustos; o modo de fazer o átrio do santuário; o
azeite para o santuário; as vestes dos sacerdotes; o efod; o peitoral; o manto;
o sinal da consagração; as vestes dos outros sacerdotes; o rito da consagração
dos sacerdotes; os sacrifícios diários; o altar do incenso; o novo tributo a Javé
como resgate por si mesmos; a bacia para as abluções; o óleo da unção; o
incenso; os operários do santuário e, novamente, o descanso semanal.
(Ex 20-31)

- Só duas questões:

1ª: Os Mandamentos são um verdadeiro código de conduta social-humano-divina,
repetido, aliás, em Dt 5,6-21 e sancionado por Cristo em Mc 10,17-21. São realmente
um código de conduta perante Deus e perante o outro Homem ou, se quisermos,
um “amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos” dos Evangelhos que já repetem
o Lv 19,18. Mas… que acrescentam ao código de Hamurabi?

2ª: Como é possível acreditar que Javé se atenha a definir tão
pormenorizadamente normas que se destinam, na sua maioria, ao seu culto e a
tudo o que se relaciona com o santuário? Mais uma vez, não deixamos de cair na
tentação de pensar que a única forma encontrada pelos senhores de então para que o
povo cumprisse tais normas, alimentando lautamente Templo e sacerdotes, era
fazê-lo crer que eram de origem divina e que quem não as cumprisse… E o temor
dos castigos de Deus, de novo, exercia a sua função educativa, persuasiva,
repressora ou… de ópio do mesmo povo!

- Mas deliciemo-nos com alguns dos pormenores daquelas normas: “Se Me
construíres um altar de pedra, não o faças com pedras lavradas porque estarias
a profanar a pedra com o cinzel.”; “Se o patrão lhe der uma esposa e esta tiver
filhos e filhas, a esposa e os filhos pertencerão ao patrão.”; “Quem ferir uma
pessoa e lhe causar a morte torna-se réu de morte.”; “… se houver dano grave,
então pagará vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura
por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.”

- Não justifica Javé, aqui, plenamente, a pena de morte para quem mata?
E não sei se devemos ou não espantar-nos com aquela do patrão ficar dono da
esposa e dos filhos dos seus escravos. Enfim, adaptou-Se Javé aos costumes da
época!…

- “Se o boi ferir um escravo (…) o dono do escravo cobrará trezentos gramas
de prata e o boi será apedrejado.”

- Qual a reacção do boi ao apedrejamento?!!! Acaso se emendaria de tal má
acção?!!! Lá que era bom correctivo era… Ficava a saber o que custava aos outros
uma boa marrada!!!

- “Se alguém roubar um boi ou uma ovelha e os abater ou vender, devolverá cinco
bois por um boi e quatro ovelhas por uma ovelha..”

- Vês a razão de não devolver também cinco ovelhas tal como os bois?

- “Se alguém seduzir uma virgem solteira e se deitar com ela, pagará o dote e
casar-se-á com ela.”

- Foi pena que esta lei não tivesse existido antes. Assim, os filhos de Jacob não
teriam matado o apaixonado do Siquém, por este ter dormido com a irmã deles…
(Gn 34,25)

Nota:

Há mais, muito mais! Hoje, foi apenas um pouco, para sorrirmos e para concluirmos,
mais uma vez que, de divino ou de inspiração divina, o Êxodo nada tem e que, por
isso, não pode ser considerado livro sagrado. E, se um dos livros da Bíblia não é
sagrado, que credibilidade nos merece a mesma Bíblia, considerando-a palavra de
Deus?

terça-feira, 3 de junho de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 22/?



À procura da VERDADE no livro do Êxodo - 6

- É belo e… temeroso, o aparato preparado por Javé para a apresentação
dos seus dez Mandamentos. O autor estava deveras inspirado! Como
apresentar Deus ao povo sem um grande temor perante o divino? Então…
“Javé disse a Moisés: Vai ter com o povo e purifica-o (…) que lavem as
roupas (…) porque Javé descerá (...) sobre a montanha do Sinai à vista de
todo o povo. Deverás traçar um limite ao redor da montanha (...); quem
tocar na montanha será punido de morte (…) apedrejado ou trespassado
com flechas; tanto homem como animal, não ficará vivo. (…) Três dias depois,
pela manhã, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem espessa desceu
sobre a montanha, enquanto o toque da trombeta soava fortemente. O povo
que estava no acampamento começou a tremer. (…) Toda a montanha do Sinai
fumegava (…): o fumo subia como o fumo de uma fornalha. E a montanha
toda estremecia. O som da trombeta aumentava cada vez mais enquanto
Moisés falava e Deus lhe respondia com o trovão. Javé desceu ao cume da
montanha do Sinai e chamou Moisés lá para o alto. (…) Javé insistiu: (…) Os
sacerdotes e o povo (…) não devem ultrapassar os limites, para subirem
até onde está Javé, o qual Se voltaria contra eles.” (Ex 19,10-24)

- É: temos um autor deveras inspirado e temos um Javé-Deus todo-poderoso
mas que se apresenta com um incrível receio de uma das suas criaturas,
o Homem!... Apenas uma pergunta: Porque não quis Deus manifestar-se
ao povo mas castigaria selvaticamente quem O quisesse ver? Será que podia
manifestar-se realmente aos olhos humanos? Com que rosto? Com que corpo
se não tem corpo? E… como se mostrou a Moisés? Com que voz lhe falou?
Altissonante? Fanhosa? Estridente? Grossa? Aflautada? Suave? Dura?
Cavernosa? Ou simplesmente não falou e comunicou por pensamento?

- Depois, o cenário é todo ele tão caricato, o estilo do autor tão grandiloquente
que se torna impossível acreditar nele! Que fumo? Que relâmpagos? Que
trovões? Que trombeta? Que… VOZ?!!!

- Deus manifestar-Se… Afinal, não quis manifestar-Se, naqueles tempos,
não quer manifestar-se nestes tempos… E nós - e toda a Humanidade! - por
aqui eternamente esperando… Que injustiça… divina, Santo Deus! Ou… que
Deus impossível estes autores ditos sagrados inventaram e “impingiram”
como verdadeiro à mesma Humanidade!

- “Então Deus pronunciou todas estas palavras: Eu sou Javé teu Deus que te
fez sair da terra do Egipto…” (Ex 20,1-2) - E logo aparece o coração da lei
mosaica - os Dez Mandamentos, com forte influência do Código de Hamurabi,
que data do séc. XVIII a.C., e postos na boca de Javé, código que era certamente
do conhecimento do autor do Êxodo: 1º - Servir a Javé, Deus único e verdadeiro;
2º - Não jurar em nome de Deus; 3º - Descansar ao sábado; 4º - Honrar os pais;
5º - Não matar; 6º - Não cometer adultério; 7º - Não roubar; 8º - Não difamar
o próximo; 9º e 10º - Não cobiçar a mulher do próximo nem nenhum dos seus bens.
(Ex 20,3-17)

- “Vendo os trovões e os relâmpagos, o som da trombeta e a montanha fumegante,
todo o povo teve medo e manteve-se à distância. Então, (…) Moisés disse ao povo:
Não tenhais medo! Deus veio para vos pôr à prova, a fim de que tenhais presente
o temor a Ele e não pequeis.” (Ex 20,18-20)

- Mais uma vez o temor para… não pecarem. Isto de cumprir uma lei que não
tenha castigo parece não ser muito próprio do Homem! Interessante: várias vezes
na Bíblia Deus assusta e depois diz: “Não tenhais medo!” Aconteceu,
por exemplo, quando Jesus ressuscitou, com o anjo a dizer o “Não tenhais medo!”
às mulheres que foram ao sepulcro, aconteceu com o próprio Jesus a dizê-lo
às mesmas mulheres – mulheres que tiveram aqui o privilégio de serem as
primeiras! – e ainda aos apóstolos na Galileia.

- Perdoe-se-nos, ao terminar esta análise, o reparo jocoso ao décimo mandamento:
será que é só o homem que não pode cobiçar a mulher do outro, podendo a mulher
cobiçar o homem da outra? Ou estará o homem dessa outra incluído no “saco”
dos seus bens ou pertences?!… E, enfim – the last but not the least! – perante tal
cenário, alguém poderá ter este Javé da Bíblia como Deus credível?