quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) 38/?

À procura da VERDADE no DEUTERONÓMIO - 2



- E fala mais Moisés, repetindo, repetindo, repetindo a história do povo 
de Israel, desde a saída do Egipto até chegar às portas da Terra Prometida, 
onde corre o leite e o mel… E normas e mais normas, repetidas umas, 
outras não! (Dt 12,26). Tantas, tantas, tantas que mais parecem um 
compêndio de actuação social, elaborado ao longo dos anos, baseado 
em experimentações, códigos e vivências, adequando-se a lei à situação 
criada, neste ou naquele tempo, neste ou naquele lugar, nesta ou naquela 
circunstância.
- Aliás, “O livro do Deuteronómio é, sobretudo, um modelo de acção (…) 
social. A sua parte central (Dt 12-26) nasceu em meados do séc. VIII 
a.C., numa época de grande desenvolvimento económico, que acabou 
por acelerar a injustiça e a desigualdade social. (…). Diante disto, os 
levitas (…) desenvolveram uma catequese (…). Essa catequese 
cristalizou-se nas leis do Deuteronómio.” 
(Introdução ao Deuteronómio, ibidem)
- Então, em que ficamos? É de inspiração divina ou… humana tal livro? 
São divinas ou humanas tais normas? Têm a credibilidade de Deus ou… 
a fragilidade da capacidade do Homem?
- Importa? O que realmente importa é ali o real, a sociedade que caminhava 
para o conflito, para a guerra intestina e que era necessário evitar a todo o 
custo. E assim, lá vem novamente o temor… divino: “Se não obedeceres 
a Javé, teu Deus, não pondo em prática todos os seus mandamentos e 
estatutos que hoje te ordeno, virão sobre ti e atingir-te-ão todas estas 
maldições: (…)” (Dt 28,15), seguindo-se, pelo menos, vinte e oito maldições 
(Dt 28,16-43), rematando-se, para que não houvesse dúvidas: “Todas estas 
maldições cairão sobre ti, te perseguirão e te atingirão, até seres exterminado, 
porque não obedeceste a Javé, teu Deus, não observando os seus 
mandamentos e estatutos que Ele te ordenou.” (Dt 28,45) Dissuasor e 
persuasivo, não há dúvida!
- Mas há mais! Há ainda mais vaticínios arrepiantes para quem não “servir 
Javé”: “Javé erguerá contra ti uma nação distante. (…) Essa nação cercar-te-á 
em todas as tuas cidades. (…) Então, na angústia do cerco, irás comer o fruto 
do teu ventre: a carne dos filhos e filhas que Javé teu Deus te tiver dado.” 
(Dt 28,49-53)
- E, como pareceu ao autor que a ideia de comer os próprios filhos não 
estava expressa de maneira suficientemente aterradora, continua, embora 
com “pezinhos de lã…”: “O mais delicado e refinado homem de Israel 
olhará com maldade para o seu irmão, para a mulher que ele estreitava ao 
seu peito e para os filhos que ainda tiver, pois terá de repartir com algum 
deles a carne dos filhos que está para comer, pois nada mais te restará 
na angústia do cerco com que o inimigo te vai apertar em todas as tuas 
cidades. A mais delicada e refinada das mulheres entre vós, tão delicada e 
refinada que nunca pôs a planta dos pés no chão, olhará com maldade para o 
homem que ela estreitava ao seu seio e também para o seu filho e a sua filha 
e para a placenta que lhe sai por entre as pernas, e para o filho que acaba de 
dar à luz porque, faltando tudo, ela os comerá às escondidas (…) 
(Dt 28,54-57) 
Inspiração divina ou… comprazimento num macabro canibalismo?!

- Inspiração divina, impossível! Puro sadismo, ultra-irracionalismo! Sadismo 
e ultra-irracionalismo que imperaram na mente doentia deste autor que, só 
por isto, não merece, não pode ser considerado “sagrado”, levando, pelo 
contrário, à condenação de toda uma Bíblia. Ou… umas vezes pode 
condenar-se, por diabolicamente extravagante, outras, aceita-se por laivos 
de divino?!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) (37/?)

À procura da VERDADE no DEUTERONÓMIO - 1




- Lê-se na Introdução ao Deuteronómio (ibidem): “Este livro nasceu 
muito tempo depois da situação histórica que nele encontramos (discurso 
de Moisés antes da entrada na Terra Prometida) e passou por um longo 
período de formação. (…) A sua parte central (Dt 12-26) nasceu em 
meados do séc. VIII a.C. (…)” Ora, se Moisés remonta ao séc. XII a.C., 
o Deuteronómio terá sido escrito quatro séculos mais tarde. O autor utiliza 
uma forma literária interessante: faz de Moisés o narrador, dando assim 
maior credibilidade ao texto. No entanto, toda a narrativa histórica não 
passará da compilação, mais ou menos literária, das histórias orais que, 
durante aqueles quatro séculos, passaram de geração em geração. E não 
há dúvida que quatrocentos anos é muito tempo para se aquilatar da 
veracidade de uma narrativa onde Javé continua sendo a personagem 
fulcral para o êxito do povo na conquista da Terra Prometida, tudo 
destruindo em seu nome: “… destruímos cada cidade, com homens, 
mulheres e crianças. Contudo, ficámos com todo o gado e os despojos 
das cidades.” (Dt 3,6-7)          
- Neste seu discurso, Moisés fala ao povo, repetindo as normas de Javé. 
É uma espécie de recapitulação de tudo o que ele “ouviu” de Deus, desde 
os princípios básicos da Aliança de Javé com o povo, à repetição dos dez 
Mandamentos, apresentados em Êxodo 20,3-17. (Aliás, serão dez ou nove 
os Mandamentos? É que aqueles 9º e 10º, como reza o livro da catequese,
vêm como um todo indivisível: “Não cobices a casa do teu próximo, nem
mulher do próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi nem o 
jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” – Ex 20,17. 
Não há nenhuma razão para se desmembrar como o fez a Igreja, a seu 
belo prazer, embora se compreenda o prurido de consciência de colocar 
a mulher ao nível dos outros pertences do próximo (neste caso, o homem, 
sendo a mulher relegada para outro plano…), como o boi e o jumento. 
Admitamos ainda que o escravo e a escrava eram “cultura” da época, não 
merecendo assim comentário, segundo a mentalidade actual, a tácita
aprovação divina da situação.
- No entanto, Moisés, certamente ressentido com a atitude do povo, por 
causa do qual não entrará na Terra Prometida, várias vezes refere: “Javé
porém estava irritado comigo por causa de vós…” (Dt 3,26); “Por vossa
causa, Javé ficou furioso comigo e jurou que eu (…) não entraria na boa
terra que Javé vosso Deus vos dará como herança.” (Dt 4,21)
- Que fúria! Que irritação! Que juras divinas, santo Deus! Estes autores 
bíblicos repetem-se, infelizmente, sempre numa tónica de um Javé
apoucado, caprichoso, rancoroso… e outras “virtudes” que detestamos
nos Homens quanto mais num Deus que se quisera afirmar como o único
e verdadeiro!
- Obsessiva é esta ideia de um Deus único juntamente com o temor de 
que o povo caia na tentação de adorar ídolos ou deuses pagãos: “É a Javé,
teu Deus, que adorarás… Não sigas deuses estrangeiros… porque Javé,
teu Deus, é um Deus ciumento. A cólera de Javé, teu Deus,
inflamar-se-ia contra ti e exterminar-te-ia da face da Terra.” (Dt 13,15)
- Ciúme! Cólera! Extermínio! – Novamente!
- Mas – dirão os “sábios” exegetas das Escrituras – são modos de falar. 
Fala-se ao modo do Homem para que todos possam entender. Quem
entenderia outra linguagem? Haverá linguagem divina entendível pelos
humanos?
- Não sabemos. Só sabemos que humanizar Deus desta forma é 
retirar-lhe toda e qualquer sentido de divindade!
- E o temor de Deus? Tudo leva a crer que o temor de Deus foi “inventado” 
pelas antigas civilizações judaico-cristãs para que houvesse algum 
equilíbrio, alguma contenção, na sociedade, e não se implantasse a barbárie
para a qual o Homem sempre teve - e tem! – tendência. É que, referenciando
um poder divino de Javé - mistério para o povo que O “sentia” bem presente
mas nunca pôde ver a sua face - as leis e as normas, tornando-se divinas,
com recompensas e também castigos divinos - normalmente de morte para 
serem mais convincentes! - teriam um sucesso de aplicabilidade e de 
respeito garantidos! Bela invenção, não é? “Observa os mandamentos de 
Javé, teu Deus, andando nos seus caminhos e temendo-O.” (Dt 8,6)
- E assim se conduzia, mais facilmente, um povo “de cabeça dura”, através
das areias escaldantes do deserto… Só não se percebe – é mesmo 
inconcebível! - o porquê de ser este livro mais um livro “sagrado”!
Enfim, vamos ver…

sábado, 15 de novembro de 2014

O poder da oração: rezar é muito bom e faz bem! (2/2)








Apenas mais umas pertinentes considerações sobre o rezar, dentro do espírito de honestidade intelectual que cultivamos:
1 - Quem se sentir confortável, rezando à Virgem e aos santos, não deixe de o fazer. O que é preciso é que se sinta bem consigo mesmo e a reza lhe traga paz e repouso para a sua alma…
2 – Já escrevemos aqui sobre os milagres, tanto os dos Evangelhos, aos quais voltaremos quando analisarmos criticamente o NT, como os realizados pelos santos que estão nos altares e por outros pretendentes a igual lugar. Obviamente, tudo falsidades: não há milagre algum em acontecimentos – sempre de curas inusitadas! – ainda inexplicáveis à luz da medicina actual. Mas desenganem-se de uma vez por todas: ponham um indivíduo sem pernas a pedir o milagre de as recuperar e vejam o que acontece! E se as suas orações não são suficientes, ponham o mundo inteiro cristão a pedir as pernas a Deus, por intercessão de todos os anjos e santos. Se mesmo assim, as pernas não lhe são restituídas, ali em carne e osso como as que tinha antes ou nunca tivera porque nascera assim, então, minhas senhoras e meus senhores crentes e mentores religiosos, as vossas orações não valem nada, são inúteis e os vossos milagres totalmente falsos e forjados! E, por favor, não argumentem que aquele homem não merece as pernas e que Deus nunca poderia atender tal pedido ou que tal pedido seria um desafio pecaminoso a Deus, seria tentar o próprio Deus a manifestar o seu poder. Sejamos todos, crentes e não crentes, intelectualmente honestos!
3 – Algumas orações são de bradar aos céus, pelo seu nonsense, nonsense a que os crentes são “obrigados”, ao debitá-las, quer em casa quer nas igrejas. Uma das mais caóticas é a que se reza no terço: “Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno e levai as almas todas para o céu, principalmente as que mais precisarem.” Primeiro: perdoai-nos o quê? Os pecados? – Ai o poder catárctico da confissão! Segundo: fogo do inferno, se não há inferno nem fogo e mesmo os teólogos afirmam unanimemente que se tratam apenas de estados de alma de gozo (céu) ou de sofrimento (inferno)? Então?!!! Terceiro, “levar as almas para o céu”? Quais almas? As que ainda estão no inventado purgatório, invenção medieval que tanto dinheiro rendeu aos cofres da Igreja? Quarto – cúmulo dos cúmulos: “principalmente, as que mais precisarem”. Pois, se as que mais precisam são certamente as que cometeram faltas mais graves – mas nunca pecados mortais, porque essas vão direitinhas para o inferno! – como têm muitos que intercedem por elas, libertar-se-ão mais depressa desse nonsense que é o purgatório; as outras, as que menos precisam, ficarão a penar mais um bocadinho, porque esquecidas nas orações dos fiéis… É fantástico o que estes eclesiásticos incutem na mente das pessoas crentes ou com fortes tendências para a crendice!
4 – Quando se reza por outrem, obviamente não se obterá o primeiro objectivo da oração que é o de aumentar a auto-estima e assim conseguir o que se deseja pelo seu esforço e empenho, embora pedindo-o em oração. Quando muito, poderá haver alguma telepatia energética que funcionará para seres muito próximos. No caso de, por exemplo, nas Filipinas se rezar pelo papa, obviamente que não há nenhuma hipótese de outorgar qualquer benefício ao papa. Apenas o que reza se sente reconfortado e mais em paz consigo, já que é crente, o que não é nada pouco, pensando e intercedendo pelo seu pastor longínquo…

Enfim, nunca se esqueçam: perante este e outros dilemas, o IMPORTANTE, NA VIDA, É SER-SE FELIZ e só é feliz quem está bem consigo e com os outros! Rezem, pois, se o rezar vos dá felicidade!

sábado, 8 de novembro de 2014

O poder da oração: rezar é muito bom e faz bem! (1/2)





Embora os Deuses das actuais religiões e suas seitas não existam, nem tão pouco os santos, os anjos, a Virgem, os beatos,… céus, infernos e demónios, é bom rezar-lhes! O Homem precisa de rezar, de apelar para um ente superior, quase sempre pedindo, algumas vezes agradecendo dádivas recebidas, supostamente, pela invocação de tais divindades.
Perguntarão, logicamente: “Mas, se esses seres superiores simplesmente não existem, como faz sentido que se lhes reze, implorando ou agradecendo?” – A resposta só pode ser uma: o efeito da oração não está ligado a uma qualquer divindade que a escute, mas apenas à consciência daquele que reza: todo o indivíduo, ao rezar, concentra-se na coisa pedida e essa concentração desencadeia uma força interior que o vai ajudar a resolver os problemas que o fazem sofrer. Só isso. E isso já é muito ou… é tudo!
Analisemos – friamente, intelectualmente, racionalmente, honestamente!... – situações de oração. Por exemplo, o terço com as suas 50 Avé Marias, 5 Pai Nossos e mais umas quantas rezas obtidas das supostas aparições da Virgem em Fátima, havendo ainda a meditação, após uma dezena de Avé Marias, conforme a inspiração do mentor, da contemplação dos mistérios, ora gozosos, ora dolorosos, ora gloriosos: é uma bizarra lenga-lenga que pretende aclamar a Virgem e, por sua intercessão, chegar até Deus, a quem se pedem graças. (E já não falamos no bizarro rosário, um terço a triplicar o que dá 150 Avé Marias, quinze Pai Nossos, etc…). As perguntas são mais que muitas e mais que pertinentes: “Com quantas Avé Marias, Maria se resolve a interceder junto de Deus? Com quantos Pai Nossos, Deus vai conceder o que se Lhe pede? E se for uma multidão a rezar Avé Marias, por exemplo, pelo papa ameaçado ou por um ente querido gravemente enfermo, ou para evitar uma guerra prestes a rebentar? Acaso, o papa se livra da ameaça, o enfermo recupera a saúde, a guerra é evitada?” – Se sim, óptimo! Quem quiser, acredite que foi a Virgem que intercedeu e Deus atendeu o pedido. Se não – que é o que normalmente acontece se o papa se excedeu contra os falsários e criminosos, o doente é terminal, os interesses que decretaram a guerra incontroláveis – é óbvio que Maria não atendeu o pedido de uma multidão. E a pergunta volta a pôr-se, com a mesma acuidade: “Quantas mais Avé Marias seriam necessárias para que tudo se passasse a contento dos solicitadores?” O mesmo se aplica aos santos da nossa devoção: se a graça é concedida, “Obrigado, meu santinho querido!”; se não, fica-se frustrado e, com respeito pelo santo adorado, lá se vai pensando que não se merecia tal graça, mesmo que fosse ganhar o euromilhões!
Então, para não sermos tão “irracionais” quando rezarmos, talvez o pudéssemos/devêssemos fazer directamente ao Deus real – Deus que não é nenhum dos inventados pelos mentores religiosos – o DEUS QUE É TUDO O EXISTENTE, que tudo integra e que tudo contém, Tempo e Espaço e tudo o que pertence ao Tempo e ao Espaço – nós também, obviamente! – sendo, por isso, eterno e infinito! E, assim, em cada manhã que se levanta, faça chuva e frio ou faça sol e calor, o nosso pensamento se elevará para DEUS, dizendo-lhe “Obrigado, meu Deus, por mais um dia! Dai-me energia e coragem para ser bom e lutar contra a corrupção e as injustiças que outros seres iguais a mim irão cometer contra o seu semelhante, neste dia que também a eles deste e que tão mal o vão aproveitar!” E outras orações que brotarem, espontâneas, da nossa alma, como a emoção sentida perante qualquer maravilha da Natureza, seja olhar uma rosa ou um magnífico pôr-do-Sol, emoção que nos leva a exclamar, os lábios levemente sorrindo: “Que beleza, meu Deus, que beleza!”
E será mais um dia a sorrir e a dizer Bom Dia a toda a gente, lembrando-lhes que é o primeiro dia do resto das suas vidas e que o devem viver no amor, na paz e na harmonia com eles próprios e com os outros, pois, de outro modo, será um dia perdido para sempre. É que outra oportunidade não nos será concedida, já que não poderemos voltar ao seio da nossa mãe!...

Não há dúvida: para crentes ou não crentes, a oração pertence ao domínio das emoções. Quem reza emociona-se e, de certo modo, põe a razão ao serviço dessa emoção, raciocinando: se o meu santinho está lá em cima, junto de Deus, porque não pedir-lhe esta e aquela graça, para que ele interceda junto do mesmo Deus ao qual nada é impossível? E, se a oração for de agradecimento, o santinho vai sorrir lá no Céu, contente por ter sido reconhecido, cá na Terra, o seu trabalho de intercessão… Tudo muito comovente, muito simpático, não é? E não é o Homem tanto emoção como razão?

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

À volta dos conceitos de infinito e eterno








Voltando a estes conceitos, conceitos de tanto agrado das religiões, sobretudo ao definirem Deus como Ser infinito e eterno, e ao apresentarem um Paraíso ou um Inferno eternos para onde nós iremos todos, sem excepção, temos de fazer algumas pertinentes considerações.
Se é fácil apreender tais conceitos, admitindo sem problemas de compreensão a sua existência, mais difícil se torna apreender toda a sua realidade: é que nós somos finitos no Espaço e no Tempo, realidades que percebemos bem, sendo-nos totalmente incompreensíveis as categorias de infinito e eterno. Aliás, tentem fazer a prova: pensem numa recta que passa frente a nossos olhos. Apercebemo-nos facilmente dela mas, se olharmos para a esquerda e para a direita, nada de princípio nem de fim será vislumbrável ao pensamento. O pensamento fica totalmente vazio ou impotente perante o não princípio e o não fim da recta, já que esta, por sua própria definição, não tem começo nem fim, perdendo-se no infinito. E isto, mesmo que fizéssemos passar por um dado ponto um número tão grande de rectas, em todas as direcções que o resultado que teríamos seria o de uma gigantesca bola negra que, no limite, também seria infinita, pois nunca haverá rectas que preencham todo o vazio continuamente existente à medida que vamos alargando a mesma bola negra.
Quanto ao conceito de eterno, a impossibilidade de chegarmos ao limite do Tempo leva-nos facilmente a aceitá-lo. E, claro, um Tempo sem limites deixará de ser o Tempo para ser a eternidade. Ora nós só apreendemos o que é do Tempo, categoria que se aplica a tudo o existente, algo que, tendo começado um dia, em outro qualquer irá forçosamente acabar. Essa é a característica mais certa – uma verdade absoluta! – inerente a qualquer ser agora vivo. Tal como nós! Como foi aliás, verdade absoluta para todos os seres vivos que já fizeram o seu trajecto de vida e continuará a ser para todos os que continuamente irão aparecendo, enquanto a Terra for Terra (mais cerca de 4 mil milhões de anos).
Também se poderia fazer o mesmo exercício para o Espaço. Tendo como nosso único referente o Universo visível, a Ciência astronómica ainda não conseguiu – alguma vez conseguirá?! – descobrir os seus limites, ou seja onde começa e onde acaba. Se é que tem limites!... E, se considerarmos que este Universo existe há cerca de 15 mil milhões de anos, dado os conhecimentos astronómicos que já possuímos, perguntaremos “ad aeternum”, o que havia antes e antes e antes e antes…; bem como, até quando, até quando, até quando…; ou, até onde, até onde, até onde…
Ora, a que nos leva esta total impossibilidade do nosso pensamento de abarcar o infinito e o eterno? – A uma simples conclusão: todas as infinitudes e todas as eternidades que as religiões nos querem vender são, no mínimo, do domínio da fantasia e da imaginação, nada correspondendo a uma realidade credível. A simpatia pelo mundo dos crentes leva-nos a não dizer que são “uma total falsidade”.
Mas é interessante constatar que o Homem, em geral, tem fome e sede de infinito, tem desejos de ser eterno. É incompreensível tal realidade. Repetimos: o Homem ser eterno era considerá-lo fora dos padrões gerais da Natureza, onde “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, nós também, obviamente, que somos feitos de átomos e moléculas que um dia, por intervenção do sistema da procriação “inventado” pela mesma Natureza, se uniram para sermos nós a ver a luz do dia, mas que um dia voltarão a ser átomos e moléculas de qualquer outro ser vivo ou não vivo que apareça por perto de onde nos finarmos… Seríamos uma anomalia da Natureza, uma espécie de semi-recta que começaria num dado ponto do Tempo, num determinado espaço e se prolongaria pela eternidade, pelo infinito. Bonito é! Insensato também!

Sorrindo, poderíamos acabar esta reflexão filosófica dizendo que quem quiser ficar com o “bonito” talvez tenha bem mais a ganhar do que o outro que não quer ser insensato. Pelo menos, tem com ele o sonho que o ajudará a viver bem o tempo de vida que lhe foi dado viver! E isso é… TUDO ou TUDO O QUE É IMPORTANTE!

sábado, 1 de novembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 36/?

À procura da VERDADE no livro dos NÚMEROS - 4

- Segue-se agora outra história de terror… divino! Os filhos de Israel 
prostituíram-se com as madianitas que os convidaram a comer dos 
sacrifícios aos seus deuses e a adorá-los. E “a ira de Javé 
inflamou-se contra Israel.” Javé mandou matar todos os que se 
prostituíram e ordenou a Moisés: “Atacai e derrotai os madianitas, 
pois eles atacaram-vos com as suas seduções (…) (Nm 25,1-18) E mais 
tarde: “Executa a vingança dos filhos de Israel contra os madianitas.” 
(Nm 31,2) “(…) - E eles guerrearam e mataram todos os homens.” 
(Nm 31,7) Mas Moisés fica furioso: “Porque deixastes as mulheres 
com vida? (…) Matai todas as crianças do sexo masculino e todas as 
mulheres que tiveram relações sexuais com homens.” (Nm 31,15 e 17)
- A isto chamaram “guerra santa”! Mata-se e extermina-se em nome 
de Javé, sendo o próprio Javé a ordenar tal extermínio. É mais 
um nonsense de Deus, aproveitado posteriormente por Maomé que 
apregoa tal guerra no Alcorão e a torna vida, ainda hoje, por esse 
mundo muçulmano fora… Quantos inocentes morreram, quantos não 
morrem por causa desta saga bíblica? Quantos? E ainda chamam sagrado 
e divino a este livro que dá pelo nome de Bíblia? E nela se baseiam 
as três religiões monoteístas, sendo o maometismo um espúrio 
bastardo da mesma Bíblia, mas que conquistou quase meio mundo, pelo 
terror da espada: “ou te convertes ou morres”? Quem pode ficar calado 
perante este autêntico atentado à dignidade de se ser humano? Pior: 
quem pode continuar a apregoar este livro como sagrado e fazendo 
parte de uma Bíblia que se apresenta, melhor, que os mentores religiosos 
apresentam como livro de exemplo e de vida?
- O que Javé continua a não dispensar são os sacrifícios ou holocaustos. 
“Javé disse a Moisés: Ordena aos filhos de Israel: Apresentai-Me no 
devido tempo as minhas ofertas, os meus alimentos e as ofertas queimadas 
de perfume agradável: (…) cada dia, dois cordeiros de um ano, perfeitos, 
como holocausto perpétuo (…) (Nm 28,1-3) E as normas são ridiculamente 
pormenorizadas e… longas. É que os sacrifícios são diários, ao sábado, 
na festa da Lua nova, na festa da Páscoa, na festa das Semanas, na festa 
das Aclamações, na festa da Expiação, na festa das Tendas,… e quanto 
maior a festa – claro! – maior o animal sacrificado ao odor de Javé! 
(Nm 28-29)
- Não repetiremos que, obviamente, era a gulodice dos sacerdotes do Templo 
que tal exigia do povo, dizendo ser ordem de Javé para que não houvesse 
“críticas”! Aqui, tal gulodice ultrapassa toda a decência: dois cordeiros por dia 
indica-nos como proliferava a classe sacerdotal e os muitos que viviam à 
custa do povo, escudados no pertencer ao Templo! E o povo, tal como 
hoje neste e noutros domínios, continuou a alimentar aquela classe parasitária 
mas que detinha o poder sobre o corpo e sobre as almas…
- O livro termina: “São estas as ordens e normas que Javé ordenou aos filhos de 
Israel (…)” (Nm 36,13)
- E nós, frustrados, é-nos de certeza lícito perguntar se tais normas não são 
puramente humanas e com pouco ou quase nada - ou… NADA! - de divino. 
Será mais um abusar da religião em cujo Deus gostaríamos de acreditar, por 
parte dos legisladores do tempo ou… do Templo e, com certeza, em proveito 
próprio, como temos vindo a referir. Nada adiantará aos teólogos 
argumentarem que a Bíblia é toda ela metafórica e que tem de ser lida tendo 
em conta a mentalidade da época em que foi escrita. Por tudo quanto 
comentámos, fácil nos é concluir que “Números” é mais um livro que não 
deveria constar da Bíblia dita sagrada! Quando muito, ou apenas, um livro 
que interessa à história de Israel. Mais nada! E, como vimos, uma história 
recheada de sangue e de cobiça.
- É: de palavras de vida eterna, de respostas à nossa sede de eternidade ou
do Além… nada, absolutamente nada! Resta-nos aquela máxima, máxima
de fraternidade universal – certamente num raro rasgo de luminosidade de
Javé ou do escriba por ele inspirado! – do Levítico, 19:
“Ama o próximo como a ti mesmo.”!