domingo, 28 de dezembro de 2014

Como será o mundo sem religiões? Mais selvagem ou mais fraterno?


 Diz-se que o “Homem é um animal religioso”. Os racionalistas, na linha dos cartesianos, de Espinoza e, mais tarde, de Einstein, estão convictos de que as religiões actualmente existentes, por absurdas e irracionais, com fundamentos históricos nada credíveis e sobretudo pelos seus deuses antropomórficos, isto é, criados à imagem e semelhança do Homem, têm os dias contados. Só resta saber quando e como será o seu fim. Assim, a pergunta em epígrafe tem todo o cabimento. Por outro lado, sendo certo que o Homem é um animal religioso, poderá também perguntar-se como o será sem religiões, melhor, sem as religiões actuais. Diríamos que é possível ser-se religioso sem seguir a crença em qualquer dessas religiões. O Homem será sempre um ser religioso porque sempre incapaz de abarcar e compreender toda a realidade que o rodeia, do átomo ao Universo, passando pela sua própria constituição ou essência: um ser físico e metafísico simultaneamente. E – questão das questões! – ignora e teme o fim último, ou seja, o que há para além do fim desta vida, a única que tem como certa, porque a vive.




           René Descartes                       Einstein                          Espinoza
Então, presume-se que, num mundo não muito distante, não havendo as religiões institucionalizadas, restará ao Homem o Deus de Espinoza e de Einstein – O TUDO EXISTENTE, NELE TUDO SE REALIZANDO, ELE TUDO CONTENDO EM PERENE TRANSFORMAÇÃO  NA GRANDE HARMONIA UNIVERSAL – o Deus que faz as delícias da razão dos que já agora se apercebem da falácia de todas as religiões existentes, falácia dos seus deuses, das suas verdades, dos seus dogmas, tudo invenções, fantasias, construções arquitectadas por uns quantos ditos iluminados e inspirados por Deus, obviamente o seu Deus também ele inventado. Será este Deus suficiente para criar um mundo fraterno, sendo aliás evidente que as religiões actuais não conseguiram tal desiderato?
Não há dúvida: as religiões actuais ajudam os crentes a suportar as agruras da vida, com os olhos fitos no Céu, no Paraíso de todas as delícias, numa vida eterna de pleno gozo, bem como a própria morte, morte que é vista como a libertação deste invólucro da alma que é o corpo.
Poderemos dizer que, ao longo da História, de uma maneira geral, apesar dos muitos crimes praticados em nome de Deus e da religião, seus dogmas, suas verdades…, as religiões serviram para “domesticar” o Homem, para incutir nele princípios éticos e morais, bem como de solidariedade dos mais poderosos para com os mais fracos. Quanto aos crimes, basta relembrar todos os praticados pelos judeus, em nome de Javé, para conquistarem a Terra Prometida, tudo passando ao fio da espada; todos os crimes praticados pelos muçulmanos para obrigar à conversão os povos que iam conquistando, logo ao tempo de Maomé, mas ainda hoje, com a mesma lógica fundamentalista, tudo em nome da Alá; todos os crimes praticados pelos cristãos, já no tempo das cruzadas, mas sobretudo durante a vigência da perversa Inquisição, cerca de cinco séculos, em nome da pureza da religião e, simultaneamente, durante os descobrimentos: “numa mão a cruz na outra a espada”.
De modo algum poderemos esquecer a divisão em seitas e sub-seitas tanto dos cristãos como dos muçulmanos, havendo para aqueles, sobretudo, os ortodoxos, os protestantes e os católicos, para estes, os sunitas e xiitas que vivem no maior ódio de que há memória. Tudo inconcebível! Tudo um nonsense completo, do ponto de vista humano quanto mais do divino de que eles se arrogam.
Constata-se ainda pela História, tanto antiga como actual, que as religiões não conseguiram evitar todos os massacres cometidos pelos senhores da guerra. Inúmeros, terríveis!
Então, mais selvagem ou menos selvagem, o Homem, sem estas religiões? – Penso que será mais fraterno! Algum dia, cedo ou tarde, a humanidade terá de caminhar para uma relativa igualdade entre todos os seres humanos. A igualdade total será impossível e contra naturam, já que a Natureza não dotou nem dotará a todos com iguais capacidades quer físicas, quer psicológicas. Portanto, alguma diferenciação terá de haver. Espera-se que seja justa!
Mas seja qual for o Deus que adoremos, é tão bom, tão reconfortante para o corpo e para a alma, em cada dia que se levanta, dizer-lhe: “Obrigado, meu Deus, por mais um dia, por este Sol que me ilumina e aquece e me deixa olhar as belezas da Terra, olhar o Céu azul, azul para além do qual eu sei que existem milhares de milhões de estrelas, milhares de milhões de galáxias, milhares de… ó meu Deus, quem sabe, quem algum dia saberá o que há para lá de tanta grandeza sem fim!”
Realmente, apercebemo-nos de um Universo cujo fim – se é que tem fim! – nunca poderemos perceber!
Talvez que, quando a humanidade não acreditar mais nos deuses que agora as religiões lhe oferecem, rezem assim ao Deus de Espinoza e Einstein – O TODO QUE É TUDO, A HARMONIA UNIVERSAL – e esse Deus satisfaça todos os seus anseios de uma vida eternamente plena, como, creio, já rezam agora os racionalistas!


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Nascimento do cristianismo – Brevíssima história – 2/2


2 – Etapas:

A – Pelo ano 30 d.C., com uns trinta anos de idade, aparece, nas margens do Lago Tiberíades, um indivíduo, provindo de Nazaré, de seu nome Jesus, pregando uma ideia revolucionária: a fraternidade universal, todos os Homens nascendo livres e iguais, porque todos filhos do mesmo Deus, o Pai que está nos Céus. A mensagem era cativante, devido às circunstâncias da época, quer da sociedade judaica, onde a escravatura era consuetudinária, quer de Israel como um povo, subjugado ao poder romano, arregimentando Jesus facilmente gente para a sua causa. Pregava também contra as classes sacerdotais instaladas, poupando inteligentemente a classe governante, o procurador de Roma. E, obviamente, falava do Céu, dos pobres, dos infelizes…, a todos cativando com as suas palavras.


B – Alguns dos seus seguidores, mais tarde chamados de apóstolos, começaram a chamar-lhe o Messias, personagem tão desejada naquelas circunstâncias, para libertar o povo da escravidão romana, e personagem prometida pela Bíblia desde tempos imemoriais. A seguir, chamaram-lhe Cristo, o Enviado de Deus, o “Filho do Deus vivo”.



C – Pelo ano 33, Jesus é condenado à morte, por infâmias e calúnias que foram lançadas sobre ele, pela classe sacerdotal que havia sido atacada, ficando, no entanto, os seus seguidores a conglomerarem os adeptos da nova crença num Jesus, Filho de Deus, que havia ressuscitado dos mortos e tinha ido para o Céu para junto do Pai.




D – Pelo ano 50, aparece outro indivíduo chamado Paulo que, tomando conhecimento do sucesso obtido por Jesus, junto das massas, cujos discípulos já iam formando pequenas comunidades, possuído por ideias de megalomania religiosa, teve uma ideia brilhante: aproveitar o Jesus feito Cristo, para construir a sua teoria. É, assim, um dos primeiros fundadores do cristianismo, ora se aliando ora divergindo dos apóstolos e formando as suas próprias comunidades já fora do Estado de Israel.



E – Pela década de oitenta – entretanto, apareceram cartas de Paulo às suas comunidades, e evangelhos narrando a pregação de Jesus e a sua interacção com os discípulos e autoridades – houve alguém (terá sido o próprio Paulo?) que notou que, para se dar base à religião nascente, alicerçada num Jesus a quem chamaram de Messias, Cristo, o Enviado de Deus, enfim, o Filho do Deus vivo (Deus, certamente o Javé do AT!), faltava recriar a vida desse Jesus, desde o nascimento até aos trinta anos, data do início da sua pregação. De tal tarefa foi incumbido um indivíduo, discípulo de Paulo, chamado Lucas. E foi Lucas que, no seu evangelho, acrescentou ao de Mateus, a narrativa referente ao nascimento de Jesus, tal como vimos no texto anterior.


F – Cerca de dez anos mais tarde, na década de noventa, ainda haveria de aparecer outro evangelista que, distanciando-se dos anteriores, apenas escolheu alguns “factos” da vida de Jesus para construir a sua teologia, uma teologia mais elaborada, tentando ir ao princípio dos princípios: “In principio erat Verbum et Verbum erat Deus.” («No princípio, existia a Palavra e a Palavra era Deus»)


E assim, nasceu o Cristianismo, religião que é seguida, de algum modo, por quase metade da população do Planeta!
Apenas três notas:
a) Dos quatro evangelhos, não temos nenhum original, mas apenas cópias que datam dos séculos IV e V, podendo supor-se que houve inúmeras adulterações e acrescentos, conforme a inspiração e as necessidades dos copistas, certamente a mando dos já bispos locais.
b) Logo a partir do séc. I, destacaram-se padres ou chefes das comunidades entretanto formadas que foram criando ritos, aumentado cerimónias, deduzindo dogmas, a partir da ideia de que Jesus era o Filho de Deus que encarnou no seio de Maria Virgem.
c) Também se formou, ao longo dos primeiros séculos, a chamada Tradição – o que se costumava acreditar ou praticar – o que levou à invenção de imensos ritos e crenças que assessoram e fazem parte da religião, socorrendo-se a hierarquia da Igreja dessa Tradição, para impor dogmas e costumes. Um desses, foi a infalibilidade pontifícia, sendo o Papa o representante de Deus na Terra, outro a Trindade de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, outro a Imaculada concepção de Maria, não se esquecendo a milagrosa encarnação de Jesus no seio de Maria Virgem por obra e graça do Divino Espírito santo, já narrada por Mateus. E muitas mais deliberações eclesiásticas, incluindo a criação do império do papado e a primazia do papado de Roma, para o ramo Catolicismo. Veja-se o catecismo que se ensina na catequese e o Credo católico…


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Nascimento do cristianismo – Brevíssima história – 1/2


1 - O NATAL – o mito mais bem sucedido da História



O presépio faz o encanto das crianças

Se considerarmos as mitologias das várias civilizações que nos precederam, mitificando tudo o que para o Homem de então era mistério ou ignorância, poderíamos dizer que a História está cheia de mitos.
Mas o NATAL…
Ao tempo de Jesus, eram sobejamente conhecidas as histórias lendárias de nascimentos de divindades, ocorrendo, na altura, fenómenos extraordinários, como o cântico de anjos, luzes no céu, milagres na Terra, perseguições, oráculos. São exemplos as narrativas dos nascimentos dos deuses solares Mitra e Krisna.
O NATAL tornou-se especial por duas simples razões: 1 – Apresentaram Jesus como Filho de Deus encarnado, o Cristo, o Ungido de Deus, já prometido ao longo de um milénio, na Bíblia (AT); 2 – Espalharam aos quatro ventos que Jesus morrera na cruz, como grande prova de amor, para redimir o Homem dos pecados, dar-lhe a salvação no Céu, junto do Pai, aquele Pai que exigiu a sua morte e morte de cruz para tal salvação (“Pai, afasta de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade e não a minha!”) – fundamentos da nova religião, o cristianismo, que estava nascendo no profícuo seio judaico, sendo a época propícia a que aparecessem novas religiões, devido à contestação à classe sacerdotal instalada à sombra do Templo e à situação de submissão ao poder de Roma e seu imperador.
E aí temos Lucas a urdir uma história comovente – quem não se comove com o choro de uma criança! – com Maria a não ter lugar na estalagem, o menino a nascer numa gruta aquecida pelo burro e pelo boi, os anjos a cantarem nos céus, os pastores a irem ao encontro, os magos a virem adorar…, tendo já antes havido a milagrosíssima concepção dessa criança, por obra e graça do Divino Espírito Santo, no seio de Maria Virgem, virgem semelhante a outras mães de divindades que também foram ditas virgens, tendo Maria já sido bafejada pela graça divina no acto da sua concepção, no seio de Santa Ana, com a intervenção de S. Joaquim, ao ser ilibada do pecado original – assim reza o catecismo da Igreja…
E aí temos um mito, o mito mais bem sucedido da humanidade, porque, como base das religiões cristãs, é acreditado por quase meio mundo, não como tal, mas como tendo sido verdadeiros todos os factos que nele se apregoam. Aliás, foi enriquecido, emoldurado, glorificado ao longo destes dois milénios, sobretudo na Idade Média, com o aparecimento do presépio – invenção de S. Francisco de Assis – as múltiplas e belas canções pastoris que se foram compondo, as muitas Virgem Maria que deram nome a milhares de santuários, com designações as mais bizarras, como a Nossa Senhora do leite, ou a Nossa Senhora do Ó…
Ora, recorda-se que, durante o ano de 2013, foram aqui publicadas várias dezenas de textos, sob o título “Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu?”, onde se prova como toda a narrativa de Lucas é inventada e inspirada em descrições de nascimentos de divindades antigas, não tendo qualquer credibilidade histórica.
Isto para além de já se ter provado aqui como é ontologicamente impossível Deus, pela sua própria natureza de infinito e eterno, ter um filho, como seria absurdo que, caso o tivesse, tê-lo sujeitado àquele tipo de morte com o suposto intuito de salvar a humanidade que se havia pervertido, para além de absurda ser a invenção da Santíssima Trindade, com o Pai, o Filho (que é a imagem que o Pai tem de si mesmo!!!) e o Espírito Santo (o amor que une o Pai e o Filho, isto é, o Pai e a sua própria imagem…). Em questão de invenções de tipo religioso, não deve haver como estes judeus que estão na base do cristianismo, sobretudo os quatro evangelistas e Paulo, o grande obreiro das bases dogmáticas – é por isso que é Doutor da Igreja! – da nova religião.
Mas… é NATAL! Por todo o lado, a simpatia irradia de ruas enfeitadas com sinos e velas, renas e pastores. Há músicas melodiosas pelos ares! Há ofertas no comércio diferentes das do resto do ano! Há apelos à solidariedade para com os mais pobres, os pedintes, os sem-abrigo. Há enormes árvores enfeitadas com luzes multicolores que se elevam aqui e acolá para os céus ou pontuam nas nossas casas. Há em todas as igrejas e lares, e edifícios públicos e palácios…, presépios! Tanta coisa bonita, santo Deus! Então, como vamos nós pensar que tanta coisa bonita é fruto de um mito, de uma falsidade, de uma imaginação? – Claro que não podemos! Vamos mas é usufruir de toda a magia que se evola do NATAL e deixemos as considerações histórico-filosófico-religiosas para outros tempos mais “invernais”… E, deixando-nos embalar em tanta beleza…, cantemos: “Cantem, cantem os anjos a Deus um hino / Cantem, cantem os Homens ao Deus Menino!”

BOM NATAL PARA TODOS!


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Imaculada Conceição, mito ou realidade?

Lê-se na Wikipedia:
«A Imaculada Conceição é, segundo o dogma católico, a concepção daVirgem Maria sem mancha ("mácula" em latim) do pecado original. O dogma diz que, desde o primeiro instante de sua existência, a Virgem Maria foi preservada por Deus, da falta de graça santificante que aflige a humanidade, porque ela estava cheia de graça divina. Também professa que a Virgem Maria viveu uma vida completamente livre de pecado.


Rubens, Museu do Prado
festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi definida como uma festa universal em 28 de Fevereiro de 1476 pelo Papa Sisto IV.
A Imaculada Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula Ineffabilis Deus, em 8 de Dezembro de 1854. A Igreja Católica considera que o dogma é apoiado pela Bíblia (por exemplo, Maria sendo cumprimentada pelo Anjo Gabriel como "cheia de graça"), bem como pelos escritos dos Padres da Igreja, como Irineu de Lyon e Ambrósio de Milão. Uma vez que Jesus tornou-se encarnado no ventre da Virgem Maria, era necessário que ela estivesse completamente livre de pecado para poder gerar seu Filho.»
Os argumentos-base para o papa impor tal dogma aos católicos são, no mínimo e objectivamente, incipientes e sem quase nenhum peso de credibilidade. Vejamos: Maria é cumprimentada pelo anjo como "cheia de graça". Pergunta-se: 1- qual a credibilidade do evangelho, nesta sua narrativa de cariz celestial? 2 - porque é que só Lucas refere tal suposto facto? (Diga-se que outras referências são rebuscadas na Bíblia, pela Igreja, acerca de Maria, quer no AT, quer no NT, mas todas forçadas e sem qualquer referência directa e clara a uma mãe de Jesus - e já não discutimos aqui se Jesus foi ou não Filho de Deus e se os anjos existem ou não - sendo Paulo - o grande fundador do cristianismo - completamente omisso em relação a tal acontecimento tão extraordinário...)
Depois, a outra grande base para que o papa impusesse o dogma é ainda mais caricata ou sem qualquer valor: os primeiros padres - ditos santos não se sabe porquê! -  não fizeram mais do que exprimir uma opinião pessoal, interpretando ou não a mitificação de Maria pelo povo, dando seguimento à construção de uma religião que estava a ter tão grande sucesso e que tanto bem-estar lhes dava, físico, embora alguns tenham morrido mártires, o que é muito interessante do ponto de vista histórico, em geral, e psicológico em particular.
Esta é a chamada "Tradição", que sempre serviu para apoiar as determinações da Igreja ao longo dos séculos; i,é: um padre lembrava-se de criar um rito ou um mito e logo esse mito, com a sua propagação se tornou fonte de revelação divina para a Igreja. Monumental, não é?
Mas, compreende-se a lógica: se Maria ia ser a mãe de Deus, ela deveria ser preservada do suposto pecado original com que todos os humanos nascem, afectados pelo suposto pecado do primeiro suposto homem, Adão.
É fantástico como uma história inventada se torna em uma Verdade e uma Verdade de Vida eterna! Fantástico! E mais fantástico é que essa Verdade inventada chegue aos nossos dias e seja pregada pelo mundo fora sem qualquer crivo de crítica hermenêutica às fontes.
Mas... não é tão linda a imagem de Nossa Senhora da Conceição? Não é tão comovente que tenhamos uma mãe na Terra e outra no Céu?
Então, continuemos a deliciar-nos com tanta emoção e gozemos toda a poesia que, neste dia, enche as nossas almas!

domingo, 7 de dezembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 40/?

À procura da VERDADE nos LIVROS HISTÓRICOS  




O anjo do Senhor, de espada na mão, aparece a Josué

- Lemos na Introdução aos Livros Históricos e ao Livro de Josué 
(ibidem): “Neles encontramos a história de Israel e do judaísmo, 
desde a conquista da Terra Prometida até quase à época do Novo 
Testamento (…): Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis (…), desde 
a conquista da Terra (séc. VIII) até ao exílio na Babilónia (585-538 a.C.). 
(… A história de Israel depende da atitude que o povo toma na aliança 
com Deus. Se o povo é fiel à aliança, Deus concede-lhe a bênção que 
se concretiza no dom da Terra e na prosperidade. Se o povo é infiel, atrai 
sobre si mesmo a maldição, que se traduz em fracasso histórico e perda 
da Terra.); 1 e 2 Crónicas, Esdras e Neemias (…), do pós-exílio babilónico 
até meados do séc. III a.C. (…). Tobias, Judite, Ester (…) são novelas 
ou romances. (...) O autor serviu-se de tradições antigas, talvez já 
parcialmente escritas, que ele reuniu e interpretou a partir da ideologia 
do Deuteronómio. (…) O livro de Josué (...) apresenta a tomada da Terra 
feita por uma geração. Isso deve-se à idealização do autor. A conquista 
foi de facto um processo longo e lento, ora pacífico ora violento, que 
só terminou dois séculos mais tarde, com o rei David.”     
- Muito bem: estaríamos conversados se falássemos da história de Israel e 
do judaísmo, novelas, romances… Mas, onde o divino de tais… “histórias” 
para que elas sejam pertença de uma Bíblia dita sagrada? Só porque tudo se 
explica com a presença de Javé? Quem nos garante - perguntaríamos de 
novo - que foi Javé que escolheu Israel e não foi Israel que escolheu ou 
“inventou” Javé? É que um livro divino tem de nos dar certezas de vida 
eterna. Onde estão que não as vejo, nem sinto, nem oiço? Aliás, friamente 
falando, que me importa a mim a história de Israel, uma história igual à 
de tantos outros povos que foram roubando as terras uns dos outros para 
nela se instalarem, chamando-lhe sua?
- “O povo foi libertado da escravidão do Egipto para ser livre e próspero 
na Terra que Deus lhe ia dar. (Ex 3,7-8) 
(Introdução ao livro de JOSUÉ, ibidem)

- Mas - ingénua pergunta! - era Deus que ia dar a Terra ou eram os 
israelitas que a iam conquistar, tudo matando ao fio da espada, em nome 
de Javé?! Que diferença entre esta conquista e as de Alexandre, dos Romanos, 
dos Árabes, dos Portugueses, dos Espanhóis, dos Ingleses que trucidaram 
os Índios da América e tantos outros ao longo da História, também em nome 
dos seus deuses ou… das suas ambições de poder e dinheiro?!!! Enfim, sem 
mais interrogações, comecemos mais uma análise crítica, e crítica 
sem contemplações!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Deus ainda tem futuro?




Eis a pergunta feita como título de um livro ora publicado. Na sua apresentação, os magníficos palestrantes não conseguiram/não quiseram responder a perguntas cruciais, como:
1 - Deus ter um Filho e lembrar-se de o enviar à Terra para redimir o Homem de um suposto pecado original, há apenas dois mil anos, quando o mesmo Homem existe há pelo menos quatro milhões, "mandando" ou permitindo que fosse executado numa cruz, não é UM TOTAL ABSURDO?
2 - Se os deuses politeístas eram absurdos, os monoteístas (o sanguinolento e caprichoso Javé dos Judeus, o simpático mas tirano Pai de Jesus Cristo, o Violento Alá de Maomé) não o serão menos, ao serem ontologicamente impossíveis quando se lhes aplica os conceitos de INFINITO E ETERNO?
3 - Não foram os deuses de todas as religiões antigas e actuais criados pelo Homem à sua imagem e semelhança, sendo por isso antropomórficos?
4 - Concordam com o cientista Carl Sagan, no seu livro "Um mundo Infestado de Demónios", que nenhum dos fenómenos atribuídos ao paranormal, metafísico, sobrenatural, transcendente, mundo dos espíritos resiste à aplicação do método científico da experimentação?
5 - Perante o Conhecimento científico que vai do quarkz ao Universo (infinito? eterno?), onde as distâncias se medem em milhares de milhões de anos-luz, passando pelo mísero Homem, habitante de um pequeno Planeta de uma estrela perdida entre biliões de outras..., não deveriam os teólogos e os cientistas crentes ser capazes de honestidade intelectual e crítica, abjurando as religiões que defendem e os livros ditos sagrados que as suportam?
6 - Porque não provam aquilo que afirmam como Verdades, tais como: "Deus criou o Universo e criou-o por amor."; "Se o finito (Homem) tem fome e sede de infinito e interpela o Infinito é porque tem algo de infinito nele."?
7 - Haverá outras respostas à pergunta formulada, a não ser: a) O Deus das religiões, por antropomórfico, desaparecerá logo que o conhecimento crítico chegue a toda a Humanidade; b) O Deus de Einstein - que é o mesmo de Espinoza - a HARMONIA DO TODO E DO TUDO - não acreditando num Deus que se interessa pela sorte dos seres vivos que aparecem e desaparecem no Tempo, num eterno retorno do mesmo ao mesmo através do diverso..., viverá para sempre, porque Realmente Infinito, realmente Eterno?

Bastam estas perguntas embora muitas outras se pudessem formular.
Mas sejamos honestos e realistas: a religião continua a ser para os crentes uma certa certeza de um além feliz e eterno, uma esperança, um sonho, o que, sem dúvida ajuda a viver esta vida que é a certa e a única verdadeira. Resta saber se, com a crença no Deus de Einstein, não se conseguirá a mesma paz e harmonia de alma, atingindo também assim a felicidade...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (39/?)

À procura da VERDADE no DEUTERONÓMIO - 3




- Pensando nós que as maldições e aberrações de Javé tinham acabado, 
com o canibalismo antes referido, comendo pais e mães os próprios filhos, 
ficamos estupefactos ao ler: “E ainda mais: Javé lançará contra ti todas 
as doenças e pragas que não estão escritas neste livro da Lei, até que 
sejas exterminado. (…) Uma vez que não obedeceste a Javé teu Deus, 
então do mesmo modo que Javé tinha prazer em vos fazer o bem e vos 
multiplicar, assim também terá prazer em vos destruir e exterminar (…)” 
(Dt 28,61-63).
- Ficamos sem palavras! Que Deus é este que tem prazer em fazer o bem 
e… em exterminar? Não é! Não é… DEUS! Simplesmente!…
- “(…) Javé disse a Moisés: O dia da tua morte aproxima-se.” (Dt 31,14)
- É a vida, não é, grande Moisés! Também a tua tinha de ter um fim, 
um fim não ignorado pelo autor, não fosses tu o seu herói durante 
todos estes cinco livros, chamados Pentateuco!
- “Quando acabou de escrever num livro toda esta Lei, Moisés ordenou 
aos levitas (…): Tomai este livro da Lei e colocai-o ao lado da arca 
da aliança de Javé vosso Deus. Ele ficará ali como testemunho contra 
vós porque eu conheço bem o vosso espírito rebelde e a vossa cabeça 
dura. Se vos revoltais contra Javé enquanto ainda estou vivo, o que 
acontecerá depois da minha morte?” (Dt 31,24-27) Então, do peito 
inflamado de Moisés, brotou o célebre “Cântico de Moisés”, onde, em 
forma poética, revive toda a história de Israel, povo escolhido e salvo 
por Javé, Deus único - “Eu sou Eu e fora e Mim não existe nenhum 
outro Deus.” (Dt 32,39) - mas com as suas múltiplas fraquezas, os seus 
permanentes pecados…
Aqui, Moisés - ou o autor sagrado? ou simplesmente o autor? - 
excede-se na beleza de algumas formas literárias:
“Desça como chuva o meu ensinamento
e a minha palavra se espalhe como orvalho. (…)
Como a águia que cuida do seu ninho
e revoa por cima dos filhotes
Ele tomou-te, estendendo as suas asas
e levou-te sobre as suas penas. (Dt 32,2 e 11)
- E o grande Moisés - o único a falar face a face com Deus: “Em Israel, 
nunca mais houve outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia 
face a face.”(Dt 34,10) - morre sem chegar à Terra Prometida: 
“Porque me fostes infiéis no meio dos israelitas, junto das águas de 
Meriba em Cades, no deserto de Sin, e não reconhecestes a minha 
santidade no meio dos israelitas (…) por isso, só a contemplarás de 
longe (…)” (Dt 32,51-52)
- É estranho, não é? Porquê esta razão que parece tão mesquinha da 
parte de Javé para castigar assim um Moisés, seu intérprete junto 
do povo, seu interlocutor e mensageiro privilegiado?
- Mesquinha? Não! É sobretudo injusta, após todos aqueles discursos 
inflamados para que o povo não se afastasse de Javé mas cumprisse 
as suas leis. Ou - mais uma vez! - não foi este o modo que o autor 
encontrou para resolver a morte natural de Moisés que, mesmo 
sendo-se Moisés, não se pode durar sempre?
- Mas… são pormenores de análise que não interessam. O que importa 
é que, chegados ao fim de mais um livro, e ao fim da análise dos 
primeiros cinco livros da Bíblia – o Pentateuco – sentimo-nos 
completamente frustrados por nada termos neles encontrado de verdade 
acerca do nosso fim último, rumo a uma eternidade tão desejada e tão 
pouco conhecida, eternidade num Céu ou num Inferno que fosse – mas 
eternidade! – sempre prometida pela religião que se fundamenta nestes 
textos ditos sagrados. É que nós, embora cientificamente saibamos tal 
ser impossível, pois quem nasce no Tempo pertence irremediavelmente, 
inexoravelmente ao Tempo, incongruentemente desejamos ser eternos, 
ser uma espécie de semi-recta que começou num ponto, num dado 
momento do tempo, e se prolonga pela eternidade sem fim. Que insensatos, 
santo Deus! Que estultos, santo Javé desta famigerada Bíblia!

- Uma certeza nos fica, porém: foi grande, enorme, fantástica a 
invenção/criação de um Javé, pelos estrategos político-religiosos do tempo, 
a começar por Moisés a quem são atribuídos estes cinco livros ou 
Pentateuco. Foi um Deus concebido exactamente à medida das 
necessidades daquele povo que procurava uma terra onde se instalar – a 
Terra Prometida! – chacinando tudo quanto se opusesse à sua conquista. 
E tudo – quase sempre crimes dos mais hediondos! – por ordem, vontade, 
desejo deste Javé inventado. Aos estrategos político- religiosos juntava-se, 
neste conluio de invenção/criação, uma forte classe sacerdotal que escrevia 
os textos, inspirados – sempre!!! – pelo mesmo Javé que haviam 
inventado! Grande táctica, grande inteligência revelada, grande astúcia e 
sentido do poder sobre as massas incultas e predispostas à crença ou à 
crendice! Infelizmente, tal táctica, tal inteligência, tal astúcia perdura 
nos nossos dias. E não é que o povo crente continua a deixar-se levar e 
a acreditar nos novos deuses que se vão criando? Desde o Pai de Jesus 
Cristo ao Alá de Maomé, ao dinheiro dos nossos corruptos políticos e 
banqueiros que cativaram o poder? E sempre revestidos de vestes 
brancas, símbolo exterior da sua total inocência perante as desgraças 
que eles provocam no mundo dos vivos… Ah, “querida” malfadada 
Bíblia que só nos deste, até agora, maus exemplos da convivência entre 
os Homens!