segunda-feira, 29 de junho de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 68/?

À procura da VERDADE no livro de TOBIAS – 3/3

- Os anjos! Os anjos, normalmente simpáticos, a começar pelo nosso 
Anjo da Guarda, não deixam de ser figuras-mistério que confundem 
as nossas mentes racionalistas.


A figura típica de um anjo "adulto"
 A pergunta é simples: Porque precisa 
Deus de… anjos? Porque que é que, umas vezes, é Javé que aparece 
directamente aos seus eleitos, outras vezes, envia os seus anjos? 
Apetece, jocosamente perguntar: Acaso Deus anda tão ocupado com 
outros afazeres que não tem tempo para acudir pessoalmente a 
todo o lado? Na Terra, no céu e… no Universo? Claro que esta 
humanização de Deus, simplesmente nos repugna. Realmente, os anjos 
parecem mesmo serem desnecessários na “economia” do céu, na 
economia de Deus! No entanto, sendo Céu e Deus entidades inventadas 
pelos Homens, os anjos serão mais um complemento a essa brilhante 
invenção, humanizando o senhor do Céu, como necessitando de ter 
um trono e servidores que O sirvam, como são servidos e têm tronos 
os senhores e poderosos desta Terra! Claro que não deixa de ser uma 
humanização totalmente imprópria de um Deus que fosse real e 
verdadeiro.
- Sim senhor, tudo muito racional! Nem Céu nem Deus e anjos nele! 
Mas… é uma enorme frustração! Não será muito mais cativante admitir 
que tais entidades existam para que nós – humanos – tenhamos a 
esperança de sermos eternos e de ter uma vida num Além paradisíaco, 
junto de um Deus realmente existente e não inventado? Que frustração! 
Assim, resta-nos esta vida, vida que é tão curta e normalmente tão mal 
gasta por quem teve o privilégio de a ela ter tido acesso – tal como 
nós. Ora, então, sejamos razoáveis e conciliadores: se esta vida é a única 
certa e a outra pertence ao domínio da fantasia e da Fé, gozemos esta em 
todo o seu esplendor e sonhemos com a outra. Alguma coisa do sonho 
há-de restar quando definitivamente partirmos…
- Ainda há os anjos maus, os demónios ou diabos ou príncipes das 
trevas. Mas desses, por serem feios, cornudos e maus, não nos ocupemos. 
Que fiquem lá com o seu inferno que nós preferimos sonhar com o 
paraíso!...


Uma das muitas interpretações do diabo
- O livro acaba-se com o inspirado cântico de Tobias:
     “Bendito seja Deus
     que vive eternamente
     E bendito o seu reino
     que dura para sempre.” (Tb 13,2)
E invoca um Deus castigador, um Deus piedoso, uma Jerusalém que mais 
parece celeste que terrena:
     “As portas de Jerusalém
     serão reconstruídas
     com safiras e esmeraldas
     e todas as suas muralhas
     com pedras preciosas.
     As torres de Jerusalém
     serão construídas com ouro
     e com ouro puro os seus baluartes.
     As ruas de Jerusalém serão calcetadas
     com turquesas e pedras de Ofir (…) (Tb 13,17)
- Acabamos como começámos: “Antes de morrer, ainda pôde alegrar-se com 
a desgraça de Nínive e bendisse o Senhor Deus para todo o sempre.” 
(Tb 14,15)

- Alegra-se com a desgraça e bendiz o Senhor! Enfim… compensações! 
E nós? Alegrámo-nos por termos visto a Luz?

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 67/?

À procura da VERDADE no livro de TOBIAS – 2/3

- O enamoramento de Tobias por Sara é mesmo amor, não à 
primeira vista, pois dela apenas tinha ouvido falar, mas ao primeiro 
sinal dela: “(…)Ela foi-te destinada desde a eternidade (…)” 
(Tb 6,18). Quando Tobias ouviu o que Rafael lhe dizia e soube que 
a jovem era sua parente (…), ficou tão enamorado que o seu 
coração não conseguia separar-se dela.” (Tb 6,19)
- “Desde toda a eternidade…” Acreditaria o anjo Rafael no Destino?… 
Melhor, haverá algum anjo Rafael? Ou…, haverá anjos? E demónios, 
e Céu e Inferno e santos e Paraíso? E arcanjos e potestades e outros 
seres celestiais? Todo o raciocínio que sobre o assunto se possa fazer 
leva a crer que não! Tudo invenções, tudo fantasias de humanos que 
se disseram iluminados pelo divino…, um divino também ele inexistente!
- E já havia higiene naqueles tempos, ou não fosse esta história um conto 
exemplar: “Depois de se lavarem e se purificarem, sentaram-se à mesa.” 
(Tb 7,9)
- “Comovente” é a oração dos noivos antes de consumarem o casamento: 
“Por favor, tem piedade de mim e dela e faz com que juntos cheguemos 
à velhice.” (Tb 8,7) E foi festa em casa de Raquel durante quatorze dias…, 
enquanto Tobit e Ana, pais de Tobias, desesperavam com a longa 
demora do filho em voltar…
- Comovente também, mas de outro modo, é o milagre da reposição da 
vista nos olhos cegos de Tobit com o fel do peixe miraculosamente 
apanhado no rio. Quantos cegos de hoje não suspirarão por um milagre 
semelhante ou por um Cristo que lhes fizesse luz onde só há escuridão! 
Não foram inúmeros os cegos curados por Cristo? Porquê só então e não 
agora e… sempre? Ou, acaso houve alguma vez milagres à face da Terra? 
Embora haja milhões de crentes em tais manifestações divinas, qualquer 
raciocínio elementar leva a crer que não! Tal como as fantasias de Céus e 
Infernos e anjos e demónios neles, assim também os milagres não passarão 
de falsas piedosas invenções com o intuito de divinizarem o humano Jesus!

Tobias cura seu pai sob indicação do Arcanjo S. Rafael,
Vicente Lopez Portaña, Valência, 1789
- O anjo Rafael imita Cristo, ao dizer, despedindo-se: “Vou voltar para 
Aquele que me enviou.” (Tb 12,20) Ora, quem é que realmente o enviou? 
É Rafael real ou imaginário, não passando tudo de um sonho que Tobias 
tivera, transformando o autor em real uma figura imaginária? Falaremos, 
então, um pouco mais destes seres simpáticos, seres alados para poderem 
fazer a ponte entre o Céu (lá em cima, no espaço!) e a Terra (um 
pequeno planeta de um pequeno sistema solar, numa estrela média de 
tamanho, entre as 200 biliões da Galáxia Via Láctea, Galáxia entre milhões 
de outras que povoam o Universo infindo…). Quando se pensa em todas 
estas grandezas, qualquer análise que se faça dos conceitos religiosos que 
foram chegando até nós fica tão sem sentido, não é? Mas…

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 66/?

À procura da VERDADE no livro de TOBIAS – 1/3

- “Os livros de Tobias, Judite, Ester (…) são novelas ou romances. 
(…) Os dois livros dos Macabeus apresentam os acontecimentos que 
se desenvolveram entre 175 e 134 a.C.” (Introdução a OUTROS 
LIVROS HISTÓRICOS, ibidem)
- Novelas, romances, relatos de acontecimentos… Livros divinos? 
De verdades eternas? Da VERDADE? Curioso, Não é? Mas dá 
vontade de dizer, embora convencidos que verdades divinas 
dificilmente encontraremos em tais livros: anda daí e… vamos ler!
- Finalmente! Uma história encantadora, plena de religiosidade! 
Apenas um senão, no final:  “Antes de morrer, Tobias ainda pôde 
alegrar-se com a desgraça de Nínive (…)” (Tb 14,15)


                                                      Uma de várias pinturas de Tobias

- É mais a história de Tobit, pai, do que do filho Tobias. “Sempre dei 
ajuda aos meus irmãos e compatriotas (…) O terceiro dízimo dava-o 
aos órfãos, às viúvas e aos estrangeiros (…) Eu dava o meu próprio 
alimento aos que estavam com fome (…)” (Tb 1,3,8,17)
- Apesar disso, religiosamente nada ganhou: também cegou 
e… desesperou: “Sim, é melhor morrer do que viver aguentando
esta prova (…)” (Tb 3,6) Ficou-lhe, no entanto, certamente o gosto
de ter dado, de ter partilhado o que era seu, sentido que é muito mais
realista do que praticar tais actos pensando numa recompensa eterna,
na glória do Céu! (Céu e eternidade supostamente existentes, está claro!)
- Outra história estranha é a de Sara que “tinha casado com sete homens, 
mas Asmodeu, o pior dos demónios, tinha matado cada um deles antes 
que tivessem relações conjugais com ela.” (Tb 3,8) E também Sara
desespera: “Já perdi sete maridos. Para quê viver mais?” (Tb 3,15) Sete!
Um dos números mágicos da Bíblia! Que significado tem este facto que,
a ter-se concretizado – o que é fortemente duvidoso - aponta para uma
paranóia qualquer de Sara ou/e dos seus maridos?
- No entanto… milagre! O desespero deles transforma-se em oração que vai 
ser atendida por Javé, enviando-lhes o anjo “Rafael para os curar: tirar as 
manchas dos olhos de Tobit e fazer com que Sara se casasse com Tobias (…), 
livrando-a de Asmodeu.” (Tb 3,17)
- E que belos conselhos os de Tobit a seu filho Tobias! Que lição de amor ao 
próximo e de solidariedade! Só destoa aquele: “Não te cases com mulher 
estrangeira, que não seja da tribo de teu pai, porque somos filhos de profetas.” 
(Tb 4,12)
- Então, já não se refere o perigo de contaminação com crenças noutros 
deuses? É apenas o evitar da “contaminação” com mulheres de outra tribo, 
de outra casta que não de profetas?!
- Belo também, embora familiar e humano, é aquele encontro do anjo Rafael 
com Tobit, oferecendo-se para guiar Tobias à procura da soma “perdida”. 
Desculpa-se a mentirinha de Rafael que, sendo anjo, anunciou chamar-se 
“Azarias, filho do grande Ananias”! (Tb 5,13)
- Ternurenta ainda - e bem humana e maternal - a cena da mãe que chora ao 
ver partir o filho.
- No entanto, outro milagre! O aparecimento do peixe no rio Tigre, ao qual 
Rafael manda arrancar o fel, o coração e o fígado.  É um milagre que tem o 
seu quê de magia como mágicas são as mezinhas com que Rafael irá 
afugentar o diabo do quarto de Sara e curar os olhos cegos de Tobit.


terça-feira, 9 de junho de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 65/?


À procura da VERDADE nos livros de ESDRAS e
NEEMIAS – 2/2

- E como aceitar a “decisão” de Javé proibir aos israelitas casarem 
com mulheres estrangeiras? (Esd 9,12) Pior! Para repararem a “ofensa” 
de não terem cumprido tal “decisão”, abandonaram mulheres e filhos!… 
(Esd 10,44)
- Alguns apologéticos dirão que seria para proteger os israelitas e a 
religião das influências politeístas dos outros povos. Mas não seria 
antes um explícito xenofobismo, um “proteger da raça”, o que continua 
actualmente a dividir as consciências mesmo as mais bem intencionadas? 
Se és branco, que sentirias se um filho teu te apresentasse uma negrinha 
com a qual queria casar? Ou a tua filha, um negro com os mesmos intentos? 
A pergunta torna-se repetida mas pertinente: Era Javé que proibia ou os 
“doutores” da Lei que o faziam em nome de Javé, imbuídos de um 
exacerbado nacionalismo?
- Já entrados em Neemias, eis que surge, finalmente, uma boa decisão 
bíblica - e não atribuída a Javé: “Vamos perdoar essa dívida. 
Devolvei-lhes hoje mesmo os seus campos (…) Perdoai também as 
penhoras (…)” (Ne 5,10-11)

- E outra: “Ide para casa, fazei uma bela refeição, bebei um bom vinho e 
reparti com os que não têm nada (…)” (Ne 8,10)
- Aqui, é Esdras que fala. Simpático este Esdras! E bem humano: comer, 
beber e… repartir! Se toda a Bíblia fosse assim! Quase que apetece 
dizer, hereticamente, claro: Se Javé procedesse de modo semelhante, 
em vez de apelar continuamente à guerra, ao extermínio, ao ódio, à ira, 
ao ciúme, ao temor de Javé! Mas… não! Logo, em Neemias 9, 
aparece uma oração, dita penitencial, certamente para aplacar a ira de 
Javé!
- E o texto é belo como belas são tantas obras de arte que, ao longo dos 
séculos de civilização judaico-cristã, saíram de mãos de artistas, na 
pintura, escultura, música e outras artes, inspiradas nesta Bíblia que 
tanto tem de apelativo apesar de todas as suas incongruências:
     “Bendito sejas Tu, Javé, nosso Deus,
     desde sempre e para sempre.
     Bendito seja o teu nome glorioso
     que supera toda a bênção e louvor!” (Ne 9,5)
E continua, evocando os feitos de Javé, desde a criação do mundo 
a Abraão, a Moisés, às leis, às infidelidades, aos castigos, às graças 
concedidas ao povo de Israel. (Ne 9,5-17)
- No entanto, espanta a quantidade de oferendas para o Templo a que o 
povo se obrigou! (Ne 10,33-40)
- Coitado do povo! Melhor do que “se obrigou”, seria dizer que “foi 
obrigado”, sempre pressionado na sua consciência, pelos servidores 
do Templo, apoiados no “santo” temor de Javé!…
- E que dizer da implementação do dízimo? (Ne 10,38 e 13,12) 
Não é baseados nestas palavras que os “sacerdotes” - agora chamados 
“pastores”! - de muitas igrejas exigem aos fiéis pelo menos 10% dos 
seus ordenados?
- Enfim, em Neemias 13,23-27, repete-se o “grave” pecado do 
casamento com mulheres estrangeiras! E nós… sem mais comentários…
- Acabámos! Chegados ao fim de mais uma leitura, valerá a pena 
perguntar se encontrámos a VERDADE que procurávamos, que… 
procuramos?


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 64/?

À procura da VERDADE nos livros de ESDRAS 
e NEEMIAS – 1/2

- “Os livros de Esdras e Neemias continuam a história de Israel relatando 
os acontecimentos entre 538 e 400 a.C. O tema central é a organização da 
comunidade que se formou a partir do regresso dos judeus exilados na 
Babilónia.” (Introdução aos livros de Esdras e Neemias, ibidem)
- Novamente… a História! Que me importa a mim, que nos importa a 
nós, a história deles? Porquê, uma história é inspirada por Deus e é livro 
que se venera como divino? Enfim, com a frustração de não termos 
alternativa, vamos ver se descobrimos alguma Verdade.
- “(…) Javé, cumprindo o que tinha dito pelo profeta Jeremias, despertou 
a consciência de Ciro, rei da Pérsia, que proclamou (…): Ciro, rei da Pérsia, 
decreta: Javé, o Deus do céu, entregou-me todos os reinos do mundo. Ele 
encarregou-me de Lhe construir um Templo em Jerusalém. (…)” 
(Esd 1,1-2)


                                                       Templo construído por Salomão


                                                      Templo reconstruído por Ciro
- Mais uma vez, é Javé que tudo comanda: desde a voz do profeta à 
decisão de Ciro. E o Templo é reconstruído. (Esd 5-6) Mas… não é isto 
apenas e não mais do que História, embora com uma suposta interferência 
de Javé?!
- E que ideia é aquela de Ciro dizer que foi Javé que lhe entregou 
todos os reinos do mundo? Que credibilidade poderá ter tal afirmação? 
É: estamos perante a inversão completa da realidade.
Aliás, aqueles reinos – que, obviamente, não eram todos os reinos do 
mundo – tinha-os simplesmente conquistado Ciro, derramando o sangue 
dos vencidos. Nada mais! Então, para quê atribuir a Javé os seus feitos?
- “Cheios de alegria, os israelitas, ou seja, sacerdotes, levitas e outros 
repatriados, celebraram a dedicação do Templo de Deus. Nessa ocasião, 
ofereceram em sacrifício cem bezerros, duzentos carneiros, quatrocentos 
cordeiros e, como sacrifício pelo pecado de todo o Israel, doze bodes de 
acordo com o número de tribos de Israel. Estabeleceram também os 
sacerdotes, divididos conforme as suas classes, e os levitas segundo os seus 
turnos, para servirem no culto de Deus em Jerusalém, como manda a Lei de 
Moisés.” (Esd 6,17-18)
- Porquê se reduzem, aqui, os israelitas aos sacerdotes e levitas e outros 
repatriados? Onde foram estes “homens do Templo” buscar os bezerros, 
carneiros, cordeiros e bodes que imolaram? Por quem distribuíram a carne 
imolada? Ou deixaram queimar tudo para que o “suave” perfume chegasse 
a Javé?!!! Estas classes de sacerdotes e levitas, vivendo dos dízimos pagos 
ao Templo, não criam simpatia em nós… Porque será?
- “O nosso Deus protege aqueles que O servem, mas o poder e a ira dele 
recaem sobre todos aqueles que O abandonam.” (Esd 8,22).

- Talvez aqui tenhamos a resposta à pergunta anterior. Afinal, o que era 
servir a Deus? Não era cumprir a Lei de Moisés e pagar o dízimo ao 
Templo? Que serviço, santo Deus! E não causa repulsa este permanente 
dualismo bíblico: protecção divina - ira divina?