quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 81/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS
  
O livro de JOB 4/6

- E ainda o terceiro amigo, já repetindo-se: “Tu não sabes que (…) o 
triunfo dos injustos é passageiro (…)? Da abundância cairá na miséria
e os golpes da desgraça cairão sobre ele.” (Job 20,5-22)
- Mas Job já não aceita: “Porque é que os injustos continuam vivos 
envelhecem cada vez mais ricos? (…) Eles diziam a Deus: Passa 
longe de nós, pois não nos interessa conhecer os teus caminhos. 
Quem é o Todo-poderoso para que O sirvamos? O que é que 
ganhamos rezando-Lhe? Pois bem! (…) Quantas vezes (…) a
desgraça cai sobre eles ou a ira de Deus os castiga com sofrimentos?
(…) O perverso é poupado no dia da catástrofe (…) E (…) na morte,
o justo, sem nunca ter provado a felicidade e o injusto que teve na mão
a felicidade (…) ambos se deitam juntos no pó, cobertos de vermes.”
(Job 21,7-30)
- Ora aqui está o realismo de Job: justo e injusto “deitam-se juntos no 
mesmo pó”! A questão é talvez uma das mais importantes que se coloca
ao Homem, do ponto de vista existencial: «Vale a pena ser justo, bom,
honesto, se tudo acaba com a morte, quer para o justo que viveu
praticando o bem quer para o injusto que viveu oprimindo o seu próximo,
explorando-o?» A pergunta é pertinente já que a vida eterna depois da
morte é pura efabulação das religiões, efabulação que não merece
qualquer credibilidade para um ser racional que pensa, que questiona.
É deprimente e frustrante, mas é absolutamente certo que não há nada
que prove a existência da eternidade para Homem. Ilusão apenas! Ilusão
ou invenção de um Céu com Deus e os seus anjos e santos, para os justos,
o Inferno com os seus cornudos diabos para os injustos. Então?! Não 
estará a recompensa do justo somente no seu prazer de 
fazer o bem e de ser bom para consigo, os seus e os outros? 
Obviamente, para muitos, será pequena recompensa já que o dar-se 
aos outros implica muitas vezes provas e privações. Enfim…
- Retoma o amigo: “Acaso pode o Homem ser útil a Deus? O que é 
que importa ao Todo-poderoso se tu és justo? O que é que Ele ganha?”
E ataca injustamente Job de quem Deus dissera no início: “Na Terra, não
existe nenhum como ele: é um homem íntegro e recto que teme a Deus e
evita o mal.” (Job 1,8) “Será que é por causa da tua fidelidade que Ele te
reprova? Não será antes pela tua grande maldade e pelas tuas incontáveis
culpas?” (Job 22,4-5) E, repetindo-se: 
“Vamos, reconcilia-te e faz as pazes com Deus (…)” (Job 22,21)
- Aqui, Job já não argumenta com a sua inocência mas renova o seu 
lamento: “(…) Revolto-me porque a mão de Deus agrava os meus
gemidos. Oxalá eu soubesse como encontrá-Lo! (…) Eu discutiria
lealmente com Ele e definitivamente ganharia a minha causa. Mas (…)
não O vejo! (…) Ele porém (…) faz tudo o que quer.” (Job 23)
- Também nós, amigo Job, também nós não O vemos! Também nós 
não O encontramos! E quão grande é o nosso desejo de encontrá-Lo
para Lhe colocar todas as perguntas que apoquentam o teu espírito,
o nosso espírito inconformado!  Ah, que Deus é este que se esconde
do Homem? Ou será que este Deus não se esconde porque
simplesmente não existe, sendo mais uma efabulação da mente humana,
necessitada mais do que sequiosa de uma realidade divina? Ou Deus
não é definitivamente esse SER humanóide que retalia, quer, se ira, ama
ou detesta…, mas o TODO QUE É O TUDO EXISTENTE E NÃO
EXISTENTE, ETERNO E INFINITO, CONTENDO TODO O TEMPO
E TODO O ESPAÇO, como advogam Espinoza e Einstein?
- Os amigos intervêm com argumentos semelhantes aos anteriores 
e Job também não se cala: “Pelo Deus vivo que me nega justiça, pelo
Todo-poderoso que me enche de amargura (…), vou declarar-me
inocente até ao meu último suspiro.” (Job 27,2-5) E, inconsolável:
“Quem me dera voltar aos tempos de outrora, aos dias em que Deus
me protegia (…)” (Job 29) “Agora (…), Deus agarra-me 
com violência (…) e atira-me para o meio da lama. (…)” E, 
dirigindo-se a Deus: “Clamo a Ti e Tu não me respondes. Eu insisto
e Tu não Te importas comigo. Tu transformaste-Te em meu carrasco.
(…)” (Job 30) E, finalmente, invectivando: “Será que a desgraça não
é para o criminoso e o fracasso para o malfeitor? (…) Acaso caminhei
com a mentira? (…) Comi sozinho o meu pedaço de pão sem o
repartir com o órfão? (…) Coloquei a minha confiança no ouro? (…)
Alegrei-me com a desgraça do meu inimigo? (…) Que o Todo-poderoso
me responda!” (Job 31)

- Job quebra aqui, com outra tradição: não festejava Israel as vitórias 
sobre os seus inimigos? Não exultava e oferecia holocaustos em honra
de Javé libertador? Job, não! Só mais tarde, Jesus Cristo veio pregar o
amor ao inimigo para que a nossa atitude tenha algum valor, pois amar
o seu amigo qualquer pagão o faz. (Mt 5,43-48)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

É Natal! Nasceu o Menino Jesus!


O Menino Jesus ou o Menino Deus?



Todos os que têm alguma cultura na área das religiões – a começar 
pelo papa, passando por toda a hierarquia da Igreja e acabando no 
mais simples cristão – sabem que o Natal é um mito. Nada do que 
se comemora, do ponto de vista religioso, com os presépios a fazer 
sorrir as crianças e adultos e os mesmos a cantarem calorosamente 
hinos ao Deus Menino e missas onde se recita o evangelho de Lucas..., 
nada do que se comemora existiu. Tudo inventado pelos fundadores 
do cristianismo, pontificando, neste caso, o evangelista Lucas.



Provas do que afirmo podem ser consultadas em quatro pequenos textos 
aqui escritos em finais de Dezembro de 2010 e princípios de Janeiro 
de 2011.
Mas, queiramos ou não, seja embora um dos mitos mais bem concebidos 
da Humanidade pela sua influência ao nível da História global, temos, 
todos os anos, de festejar o Natal. E diz-se “festa da família”, com todos 
os problemas que isso acarreta de espaço para a reunir, de um membro 
que se disponibilize para ceder esse espaço e ter as despesas inerentes ao 
evento onde os comes e bebes têm a primazia quase absoluta, de comprar
prendas para este e mais aquele, a começar por filhos e afilhados, mas
também maridos e esposas, irmãos, pais, tios e sobrinhos… E diz-se “pai natal”,
figura inventada pela coca-cola para promover o seu 
produto sobretudo nesta época festiva… E diz-se “grande ansiedade” de 
comerciantes que querem recuperar, no fim do ano, o fraco desempenho de 
vendas, pensando que têm de pagar aluguer de loja, mais luz, mais 
empregados, mais… E diz-se “consoada” para os sem-abrigo que vivem nas 
ruas das cidades… E diz-se “recolha de alimentos e brinquedos” para 
famintos e crianças pobres… E diz-se "Árvore de Natal", enfeitada de luzes
e anjinhos.
E, então, o Menino Jesus? E, então, o Menino Deus? – Esse serviu para criar 
o evento festivo. Agora, para que o querem os Homens? Claro que nas igrejas 
se celebram missas natalícias, se cantam “Glórias”, se vestem anjinhos, se 
beija a imagem do Menino que estará no presépio construído ao lado do altar.
Os gurus religiosos têm de continuar a alimentar o mito. Não é que ele faça
falta ao Homem, agora que o profano tomou conta da festa, mas faz-lhes
falta a eles e à igreja, pois sem Menino Deus, não há Jesus, a quem chamaram
de Cristo e tudo o mais de invenção que a religião cristã comporta.
(Note-se que, em termos de invenção, não há nenhuma religião que não tenha
sido inventada por homens ditos iluminados, obviamente sem qualquer prova,
sempre com objectivos socio-políticos, escudando-se numa qualquer revelação
divina. Delas falaremos a seu tempo.)
Para quem tiver coragem – não muita, porque os temas tratados, em textos de 
rápida leitura, são sempre desafiantes e cativantes – leia tudo quanto publiquei 
neste meu blog, desde Outubro de 2010, sobretudo, o que é mais polémico e 
contundente como: “O Deus das religiões conhecidas não pode existir”, 
“A ressurreição, mito impossível” (21/3/2011 – 23/5/2011); 
“O inacreditável Credo católico” (12/03/2012 – 09/04/2012).


Mas também 
“A inverdade de Fátima” (30/05/2011 – 01/09/2011) ou o meu livro inédito 
“Quem me chamou Jesus Cristo? O menino Jesus existiu?”, aqui publicado 
entre 01/10/2012 e 12/12/2013.

Sem mais delongas, me despeço, desejando a todos BOAS LEITURAS E, 
SOBRETUDO, UM SANTO E FELIZ NATAL, seja qual for o significado 
religioso ou profano que cada um lhe atribuir.


                                               BOAS FESTAS!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 80/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

O livro de JOB 3/6

- Novamente, um dos amigos: “Tu estás a destruir a religião e a eliminar 
a oração. (…) É a tua própria boca que te condena. (…) Para onde te 
arrasta o teu coração (…) quando te encolerizas contra Deus e a tua boca 
solta tais protestos! Como pode o Homem ser puro, como pode ser 
inocente quem nasceu de mulher? Deus não confia nem mesmo nos seus 
anjos, nem o céu é puro aos seus olhos. Quanto menos o Homem 
detestável e corrompido (…)! O injusto vive em contínuo tormento. (…) 
Quem concebe a maldade dá à luz a desgraça.” (Job 15,4-35)
- Quantos crentes, que não críticos, lendo-nos, não terão para connosco 
exactamente o mesmo discurso, condenando-nos pela nossa própria 
boca? Mas, nós, sem nos julgarmos plenos de razão contra Deus, 
continuamos a questioná-Lo, porque Ele é a VERDADE e é afinal Ele 
que finalmente procuramos! Onde estais, meu Deus, que não Vos 
encontramos?!
A voz do amigo faz lembrar velhos preconceitos bíblicos, como a impureza 
da mulher que dá à luz, mas não comentemos… E que dizer que Deus 
nem sequer confia nos seus anjos? Já se terá inventado o diabo – o mais 
brilhante anjo do céu, Lúcifer, que quis ser igual a Deus? E é fiável afirmar 
que o injusto vive em contínuo tormento? De qualquer modo, Job não se 
conforma: “Já ouvi mil discursos semelhantes! (…) Eu também poderia falar 
como vós, se estivésseis no meu lugar (…) Mas ainda que fale, a minha 
dor não desaparece (…) Deus esgotou-me e destruiu toda a minha família 
(…) A sua ira ataca-me e dilacera-me. (…) Eu vivia tranquilo e Ele 
esmagou-me.” (Job 16,2-12)
- No entanto, refugia-se em Deus em petição e lamento: “Sê Tu o meu 
fiador diante de Ti mesmo, pois nenhum outro se empenharia em ser 
meu fiador. (…) Onde está a minha esperança? Alguém viu por aí a 
minha esperança?” (Job 17,3-15). És divino, Job! És divino! Realmente 
só Deus pode ser nosso fiador perante Ele mesmo! Só Deus!
- Ainda não o dissemos, tal é o nosso espanto e admiração pela ousadia de Job. 
Mas Job é a construção de uma bela personagem por um autor que se 
excede em mestria de linguagem, em jogos de raciocínio socrático, para 
nos conduzir avidamente até ao desenlace da história…
- Nesta saga romanesca dramática, outro amigo intervém: “Dilaceras-te com 
a tua própria raiva. Será que a Terra vai ficar desabitada por tua causa? (…) 
A luz do injusto apagar-se-á e o fogo do seu lar não brilhará mais. 
(…) Os terrores rodeiam-no e amedrontam-no (…) A doença devora a sua 
pele (…) Será expulso da luz para as trevas (…)” (Job 18,4-18).
Job defende-se, sem medo de invectivar Deus: “Quereis cantar vitória 
lançando-me na cara a minha vergonha? Ficai sabendo que foi Deus quem 
violou o meu direito (…) Despojou-me da minha honra (…) A Sua ira 
inflamou-se contra mim e Ele trata-me como a um seu inimigo. (…) A minha 
mulher tem nojo do meu hálito (…) A minha carne apodrece por baixo 
da pele (…). Porque me perseguis como Deus e não vos cansais de me torturar?” 
(Job 19,5-22)

O leitor é facilmente levado a simpatizar com Job. É que ele incarna 
exactamente todas as dúvidas dos crentes que não querem acreditar cegamente 
e que põem em causa todos os ensinamentos que receberam na catequese…

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A desilusão existencial do actual ser humano que se tem por inteligente e bom



Estou muito feliz:

1 – Nasci num país que me permitiu, obviamente com o meu esforço, aceder a uma cultura superior, um país que pertence a um Continente onde ainda há valores universais, pelo menos, depois da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade – a velha Europa, Europa que está a ser actualmente invadida por corpos estranhos e assassinos…
2 – Pertenço a uma geração que nasceu num país de vidas de subsistência e de muito trabalho, sobretudo agrícola, mas cheio de valores universais, com ou sem influência religiosa: o amor à vida, o amor ao próximo, a solidariedade, a lealdade da palavra dada, o respeito pelos mais velhos…
3 – A minha geração assistiu e participa numa das mais fantásticas aventuras e conquistas do Homem: o desvendar dos segredos do Universo que, embora tão poucos, nos permitem ver para além das estrelas…; a descoberta do genoma humano; o boum das novas tecnologias que revolucionou as comunicações e permitiu à Ciência catapultar-se a níveis nunca antes alcançados.

Mas… estou muito infeliz:

1 – O Homem criou sociedades injustas, desiguais, sem controle de natalidade em muitos países – quanto mais subdesenvolvidos, maior o índice de natalidade – tendo-se tornado espécie infestante da Terra, consumindo todos os seus recursos, pouco deixando para os outros seres vivos – animais e plantas – que têm tanto direito à Vida como o mesmo Homem.
2 – Reapareceram os antigos fundamentalismos religiosos julgados erradicados, há muito, do Planeta, não se falando mais, nem em santas inquisições (apesar do recentíssimo nazismo), nem em escravatura, nem no “ou te convertes ou morres” usado pelos conquistadores cristãos das Índias e Américas ou pelos muçulmanos, no Norte de África e Ásias. Isto, apesar de todas as religiões continuarem a saga da mentira, dizendo-se de origem divina quando todos os intelectuais sabem que são apenas produto da mente de alguns ditos iluminados e que outros, por conveniências as mais diversas, abraçaram como se fosse a maior das Verdades e assim a pregam, arrastando atrás de si muitos e muitos milhões…
3 – Os senhores do mundo – políticos, economistas e financeiros - deixaram-se dominar pelo egoísmo atroz e pela corrupção desenfreada, acumulando fortunas colossais, em detrimento de toda uma população mundial que vai morrendo de fome e de doenças, quando não é pelas guerras que é obrigada a suportar, guerras impostas pelos mesmos senhores, para venderem os milhões de armas que diariamente saem das suas fábricas, tendo posto ao serviço da inovação em armamento muito do que a Ciência tem inventado e descoberto. Símbolo máximo: a bomba atómica, sem esquecer as armas químicas propagando vírus letais, as minas anti-pessoais, as bombas de fragmentação, mas tudo culminando na maior aberração de sempre: os kamikases, agora tanto na moda, que se fazem explodir, em nome sabe-se lá de quê…

E eu que queria ter passado pela Vida, por este belo Planeta, deixando-o mais belo do que o encontrei, e tendo contribuído para uma sociedade mais justa, mais humana, mais racional e mais fraterna!
Pura ilusão! Agora, estou certo – tenha ou não ainda muitos anos de vida – ir-me-ei com a mágoa de pouco ou nada ter conseguido de tão magnos objectivos, embora tenha lutado muito por eles. Ao meu modo, claro! Não saindo – se calhar covardemente… - do meu cantinho de prazer e de conforto.
Mesmo assim, poderei dizer, quando se me fecharem os olhos e sorrindo à vida que se foi, “Eu vali a pena!”?


Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 79/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS
  
O livro de JOB 3/6

- E ainda outro amigo: “Acaso pretendes sondar o íntimo de Deus 
ou penetrar na perfeição do Todo-poderoso? Ela é mais alta do que o 
céu. O que podes tu fazer? (…) Se dirigires o teu coração para Deus, 
(…) esquecerás as tuas desgraças (…). A tua vida brilhará como o Sol 
(…), terás tranquilidade e esperança (…).” (Job 11,7-18)

                                                            
                                                              Uma das muitas imagens de Job

- E Job de responder: “Quem é que não sabe tudo isso? Nas suas mãos, 
está a vida de todos os viventes. (…) Mas… engrandece as nações e 
depois arruína-as (…)” (Job 12,3-23). E insiste, com ousadia desmedida: 
“(…) Eu quero acusar o Todo-poderoso, desejo discutir com Deus. (…) 
Agora eu vou falar (…). Vou arriscar tudo, vou arriscar a minha própria 
vida. Mesmo que Ele me queira matar, não me importo (…). Quantas 
são as minhas culpas e os meus pecados? (…) Porque me escondes o 
Teu rosto e me tratas como inimigo? Porque (…) persegues uma palha 
seca?” (Job 13,3-25) “Se os dias do Homem já estão contados, e Tu 
sabes o número dos seus meses, (…) afasta dele o Teu olhar e deixa-o 
em paz (…) Para onde vai o Homem quando expira? Acaso voltará a viver 
um Homem que já tenha morrido?” (Job 14,5-14)
- A ideia de ressurreição aparecerá bem mais tarde, embora afirmada sem 
qualquer credibilidade… Aqui, a angústia da eternidade desconhecida. 
Angústia de Job, a nossa angústia! E perguntaríamos com ele: 
“Acaso voltará a viver um Homem que já tenha morrido?” Em que 
vida? Em que eternidade, já que, no tempo, tal será de todo impossível?

- É! Aqui, está o cerne da questão, da nossa questão, porque é exactamente 
esta a VERDADE que vivamente procuramos! Acusar o Todo-poderoso 
não será certamente o nosso objectivo. Só se for invectivando-O por 
criar em nós tantas expectativas de eternidade e nenhuma certeza nos dar 
de que não serão completamente frustradas! Mas também poderíamos dizer 
com o destemido Job: “Mesmo que Ele nos queira matar, não nos 
importamos!” Aliás, que temos, que teríamos a perder, caro Job? E isto, sem 
recorrer ao determinismo a que tu recorreste, dizendo que Deus sabe 
perfeitamente que os dias do Homem já estão contados desde que nasceu do 
ventre materno!…