quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 86/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

O livro dos SALMOS 3/6

- “Quantas maravilhas realizaste, Javé, meu Deus, quantos projectos 
em nosso favor! (…) Não queres sacrifícios, nem ofertas (…) Tu não pedes 
holocaustos pelo pecado.” (Sl 40 6-7). Como? Acabou-se o gosto de Javé 
pelos “suaves” odores dos animais imolados em sua honra? Esta Bíblia é 
mesmo incongruente!
- “Nisto reconhecerei que me amas: se o inimigo não triunfar sobre mim.” 
(Sl 41,12) É assim, Javé: ou me livras do meu inimigo ou já não acredito 
no teu amor!...
- “Como a corça suspira pelas águas correntes, assim a minha alma anseia 
por Ti, ó meu Deus! (…) A minha alma tem sede de Deus (…) Vou 
dizer a Deus: Meu rochedo, porque Te esqueces de mim? Porque devo 
andar pesaroso sobre a opressão do inimigo?” (Sl 42, 2-10) Belo! Bucólico! 
Mas… o eterno inimigo!
- O salmo 44 é uma “oração” em três tempos: vitória, derrota, súplica: 
“Tu mesmo maltrataste nações, para estabeleceres os nossos pais. (…) 
Não foi com espada que eles conquistaram a Terra nem foi o braço deles 
que lhes trouxe a vitória e sim a tua direita e o teu braço (…) porque os 
amavas.” Isto é, no mínimo, cínico: pôr Javé a roubar a Terra aos 
cananeus para a dar aos Israelitas, “abençoando” todos os crimes 
cometidos, é inconcebível! Obviamente, Javé foi um subterfúgio dos israelitas 
para justificarem todas aquelas atrocidades quando se apoderaram da 
chamada “Terra prometida”. “Agora, rejeitas-nos e envergonhas-nos 
e já não acompanhas os nossos exércitos. Tu fazes-nos recuar frente ao 
opressor (…), entregas-nos (…), vendes o teu povo (…), fazes de nós o 
ultraje (…).” “Desperta, Senhor! Porque dormes?”
- “O meu coração transborda em belo poema, eu dedico a minha obra a um 
rei. (…) Tu és o mais belo dos homens (…) O teu trono é de Deus e 
permanece para sempre!” (Sl 45 2-7) Bonito, mas…
- “(…) Aclamai a Deus com gritos de alegria! Porque Javé Altíssimo é terrível 
(…)! Ele submete as nações ao nosso poder e coloca os povos debaixo dos 
nossos pés!” (Sl 47,2-4) Quem se atreve a considerar “sagrado” ou “de 
inspiração divina” tal texto, quando a escravidão de um povo por outro povo 
está bem patente?!
-“ (…) Os sábios morrem, perecem juntamente com o imbecil e o insensato, 
deixando a sua fortuna para outros. (…) Este é o caminho dos que confiam 
em si (…) Quanto a mim, ó Deus, tira-me das garras da morte e toma-me 
contigo.” (Sl 49,11-16) É um prenúncio do mito da ressurreição do justo. 
No entanto, a haver ressurreição para um humano, teria de haver para 
todos igualmente. Mas como é um mito…
- “Javé, o Deus dos deuses, fala, convocando a Terra, do nascente ao 
poente. (…) À sua frente, vem um fogo devorador (…) (Sl 50, 1-29) A 
expressão “Deus dos deuses” remete-nos para um Júpiter romano ou um 
Zeus grego! O resto faz-nos lembrar o juízo final anunciado por Jesus Cristo 
em Mt 24,29-30. Mas… que juízo final será esse? Um dia, veremos ou, mais 
sensatamente, não veremos!…
- “Eis que nasci na culpa e minha mãe já me concebeu pecador.” (Sl 51,7) 
Como? Que obsessão pelo pecado, santo Deus! Como é possível “ver” 
pecado no acto criador da VIDA! Como é possível?!… Sagrado tal livro? 
De inspiração do mesmo Deus que é dado como criador do ser humano?
- “Preferes o mal e não o bem, a mentira e não a franqueza. (…) Por isso, 
Deus te destruirá para sempre.”(Sl 52,5-7) Infelizmente, se o maldoso e 
mentiroso não sofrerem castigo durante a sua vida terrena, não será na outra 
que irá ser punido, simplesmente porque a outra não existe…

- “Diz o insensato no seu coração: Deus não existe!” (Sl 53,2) Mas 
que Deus? O deus das religiões – nitidamente inventado pelo Homem à sua 
imagem e semelhança, tal como esse Javé – não existe. Existe o Deus que 
é o TODO EXISTENTE E NÃO EXISTENTE, INFINITO E ETERNO, 
TUDO CONTENDO NO TEMPO E NO ESPAÇO EXACTAMENTE 
PORQUE ETERNO E INFINITO. Este é o verdadeiro e único Deus 
possível que tem tudo de divino e nada de humano como os deuses que os 
Homens foram criando ao longo da História.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sinto uma estranha angústia existencial



É estranha esta sensação de agora ou hoje, eu estar aqui e saber que logo ou amanhã, já cá não estarei. Verdade absoluta! Verdade inexorável!
E questiona-se a validade da existência. Para quê existo, se num momento sou, noutro deixo de o ser e… para sempre? Terá sentido a vida, a própria VIDA? Para quê existem os vivos já que fazem parte de um ciclo inexorável: nascimento, crescimento, vivência, morte, ciclo, afinal, semelhante aos não vivos que também vão aparecendo e desaparecendo na voragem do Tempo, tal como as estrelas, tal como o Universo?
A Ciência descobriu-nos muitos dos mistérios da matéria e alguns dos segredos do Universo. E sabemos que a Terra tem os seus dias contados, com o inexorável desaparecimento do Sol, dentro de c. quatro mil e quinhentos milhões de anos, tendo começado a existir há igual tempo. E até sabemos que este Universo, de que fazemos parte, existe há c. 15 mil milhões de anos, Universo do qual apenas conhecemos c. 4%  – a matéria luminosa – sendo os outros 96% de matéria escura…, e que a VIDA na Terra existe há c. 3.500 milhões, ignorando-se completamente quantos Universos existirão e tantos outros mistérios que desafiam a Ciência, no seu estado actual totalmente incipiente!
O Homem – esse ser tão importante! – existe apenas há c. 4 milhões de anos, sendo, até agora, o términus de uma cadeia de evoluções desde os primeiros seres vivos, as bactérias que se formaram da argila inerte no fundo de lagos e lagunas aquecidos pelo todo-poderoso Sol, tendo passado pelos gigantes dinossauros que dominaram a Terra durante c. 200 milhões de anos.
E eu? E tu, ele, nós? O que temos realmente de diferente dos outros seres vivos? Apesar de racionais, não continuamos a ser apenas elos de uma cadeia evolutiva, com a nossa temporalidade determinada desde o nascimento?
As religiões bem quiseram – querem! – catapultar o Homem para fora do sistema, inventando deuses criadores, céus, infernos, eternidades impossíveis. Mas – infelizmente para as nossas emoções, felizmente para o nosso racionalismo – tudo não passa de invenções, fantasias, efabulações! Provas? – ZERO! A realidade é outra: o ciclo inexorável de nascimento, vida e morte. E isto sem qualquer paranoia do fim da vida. Aliás, para um ser pensante, a ideia da morte será ou deverá ser sempre o maior incentivo a que se desfrute ao máximo da vida.
Assim, resta-nos o prazer de estar aqui, o prazer de estar vivos, prazer ligado a tantos outros pequenos prazeres, no corpo e na alma, das emoções do amor e do sonho, das emoções da própria razão que a mesma razão não compreende, e os prazeres da carne, do comer ao beber ao participar no milagre que é a transmissão da vida a outros seres que nos seguirão como nós seguimos os nossos pais e antepassados, elos de uma cadeia que só o todo-poderoso Tempo um dia interromperá.
A VIDA? – A vida é bela! Viva, pois, e nós fazendo parte dela!


Se também sentir esta existencial angústia e o desejo ardente de aproveitar ao máximo da vida, deixe um comentário de… solidariedade!

A Igreja, as igrejas



Eis o meu comentário ao artigo de Anselmo Borges, na sua página semanal do DN, no sábado passado, sobre as reformas necessárias na Igreja católica – comentário que foi retirado talvez por algum fundamentalista pouco dado a ideias contrárias às suas:
Falando de Igreja, melhor de igrejas, diria:
1 – Todas as igrejas – não me refiro ao espaço, pois a grande parte das igrejas são belas obras de arte, magnificamente decoradas, no interior e no exterior – sejam elas igrejas católicas, protestantes ou ortodoxas, sejam mesquitas, sinagogas, templos hindús ou budistas…, são, na sua essência, locais de lavagem ao cérebro dos crentes, prometendo-lhes realidades inexistentes, uma condenação ou uma salvação num desconhecido ALÉM inexistente, apelando para um suposto sobrenatural, para céus e Deus ou os deuses nele, para infernos de fogo ardente com todos aqueles simpáticos diabos, e mais anjos, arcanjos e querubins e potestades, e ainda santos e santas…, uma multidão de seres alados servindo um Deus majestático sentado no seu etéreo trono! Obviamente, tudo fantasias, tudo invenções, tudo sem qualquer fundamento ou possibilidade de prova. Então, sem nada poder ser provado, refugiam-se os crentes na Fé, dizendo-se despudoradamente: “Quem acredita será salvo, quem não acredita será condenado. E para todo o sempre! E para toda a eternidade!” Que Fá, santo Deus!
2 – As igrejas e suas crenças foram, ao longo destes cerca de dois mil anos, repositórios de cultura, estando na origem das mais belas peças construídas pelo Homem, em todos os domínios das artes, da arquitectura, à escultura, à pintura, à música…, obras que deliciam os nossos sentidos ávidos de beleza ou da Natureza ou criada pelo Homem, e que podemos admirar e saborear em museus, mosteiros e conventos, em salas de concerto ou mesmo na pacatez da nossa casa.
3 – Às igrejas também se devem muitas obras de solidariedade social, de acolhimento dos mais desfavorecidos, de obras de beneficência e, por isso, merecem todo o nosso respeito e apoio. Depois, não há dúvida de que as religiões – face ao sofrimento, à dor, seja física seja psicológica, tão inerente à vida humana – são uma panaceia para atenuar esses sofrimentos, um último refúgio, um alimentar de esperança em algo que se desconhece mas que se acredita ser realidade, algures fora do Tempo, fora do Espaço, fora da Matéria. E isso é muito bom!

4 – Estou convicto de que, quando todos os Homens possuírem o Conhecimento que a Ciência vai permitindo alcançar, e tiverem o sentido crítico cartesiano da dúvida metódica, então, abdicarão de todas as religiões actuais, exactamente porque baseadas em falsidades, ou fantasias, em deuses e demónios criados à imagem e semelhança do mesmo Homem, sem qualquer hipótese de credibilidade. E descobrirão que são capazes de substituir, por outras formas, aquelas benesses das religiões que ajudam a colmatar dores, sofrimentos e privações. E descobrirão que Deus será o TODO QUE TUDO CONTÉM, POR SER INFINITO E ETERNO, TODO O TEMPO E TUDO O QUE PERTENCE AO TEMPO, TODO O ESPAÇO E TUDO O QUE NELE SE ENCONTRA. Será uma NOVA RELIGIÃO, uma religião de cunho universal, única na sua diversidade, como já foi apresentada no meu blog “Em nome da Ciência”, em sete textos, de 10/06 a 31/07 de 2012. Sugere-se a sua leitura.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 85/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS
  
O livro dos SALMOS 2/6

- “Javé examina o justo e o injusto. (…) Fará chover sobre os injustos,
brasas e enxofre (…) e os corações rectos contemplarão a sua face.” 
(Sl 11,5-7) Será? Este era o dilema de Job.
- “Javé, até quando me esquecerás? (…) Até quando o meu inimigo vai 
triunfar?” (Sl 13,2-3) É Job sempre presente!
- “Não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. Mas (…) eles vão 
tremer de medo porque Deus está com os justos.” (Sl 14,3 e 5) Hum! 
Job disse exactamente o contrário…
- “(…) Poderá hospedar-se na Tua tenda (…) quem despreza o injusto e 
honra os que temem Javé.” (Sl 15, 1 e 4) Estamos perante uma religião 
baseada no medo, num Deus que atemoriza.
- “Javé, Tu és o meu bem! Os deuses e senhores da Terra não me 
satisfazem.” (Sl 16,2) Não seria bem assim: sabemos pela própria Bíblia 
que os israelitas eram propensos a adorar ídolos. Influências certamente 
das religiões antigas egípcias, mesopotâmicas e caldaicas.
- “Tu és a minha força! Eu invoquei Javé e fui salvo dos meus inimigos! (…) 
Persegui (…) os meus inimigos (…) derrotei-os (…) caíram debaixo dos 
meus pés!” (Sl 18,1 e 4 e 38-39) Trata-se de David que agradece a Javé a 
vitória. Uma oração de guerreiro vencedor. Compreensível, embora sem 
nada de divino.
- “Que Javé realize todos os teus pedidos!” (Sl 20,6) É bem humano tal 
desejo. Mas… é o que todos desejamos sinceramente, ou talvez não, aos 
amigos: “Bom ano!”, “Feliz aniversário!”, “Oxalá tenhas sorte!”…
- “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”(Sl 22,2) - começa este 
belo salmo de lamentações, salmo que será o grito de desespero que Jesus 
lançou a seu Pai, do alto da cruz onde agonizava. (Mt 27,46) Poderemos 
fazer duas perguntas, talvez hereges mas… bem sentidas por perturbantes: 
“Que sentiste, ó Cristo, naquela hora de sofrimento atroz, pés e mãos 
rasgados pelos pregos, em relação a teu Pai que Te fez passar por tamanha 
humilhação?” “E Tu, Pai, como foste capaz de deixar morrer numa cruz o 
Teu filho muito amado?” Mais herege ainda: “Haverá alguma prova 
credível de que Jesus era filho de Deus, Deus a quem chamava Pai?”
- “(…) Entre si repartem as minhas vestes e sorteiam a minha túnica.” 
(Sl 22,19) Assim fizeram os soldados, após terem crucificado Jesus, 
cumprindo – ou talvez não! – o salmo profético! (Jo 19, 23-24) Mas o 
salmista termina louvando a Javé: “Javé far-me-á viver para Ele, a minha 
descendência (…) contará a sua justiça (…)” (Sl 22,31) Será?
- “Javé é o meu pastor, nada me falta.” (Sl 23,1) Bonito, poético, bucólico! 
Mas… a realidade da vida é bem diferente!
- “É Javé o herói valoroso! É Javé o herói das guerras!” (Sl 24,8) “Vê os 
meus inimigos que se multiplicam (…) Guarda-me a vida!” (Sl 25,19) 
“Que um exército acampe contra mim (…) pois Ele oculta-me na sua tenda. 
(…) Não me entregues à vontade dos meus adversários. (…).” (Sl 27,3-12) 
Na realidade, e no campo de batalha, se a táctica não for de vitória, a derrota 
será certa! De nada valerá a força de Javé!
- “Javé, meu Deus, eu gritei por Ti e Tu me curaste. (…) Por isso o meu 
ser canta para Ti. (…) Eu Te louvarei para sempre.” (Sl 30,3-13) 
Agradecimento! Louvor! Será que Javé precisa de louvor ou somos nós 
que precisamos de O louvar porque sem Ele não nos entendemos? E foi 
Javé que curou? Que provas?
- “Os injustos sofrem muitos tormentos mas o amor envolve quem confia 
em Javé.” (Sl 32,10) “Que a Terra inteira tema a Javé. Que o temam todos 
os habitantes do mundo. (…) Javé cuida daqueles que O temem.” 
(Sl 33 8-18) “Vou bendizer a Javé em todo o tempo (…) Provai e vede como 
Javé é bom (…) Teme a Javé (…) pois nada falta aos que O temem.” 
(Sl 34,2-10) Sempre o temor de Javé! Porquê tanto temor, meu Deus?!
- Tirando as referências a Javé, o salmo 37 dá bons conselhos: “Não te irrites 
(…), não tenhas inveja (…), confia em Javé (…), pratica o bem (…), vive 
tranquilo (…), coloca em Javé o teu prazer (…) entrega o teu caminho a 
Javé (…), deixa a ira, abandona o furor: só farias o mal.” (Sl 37,1-34)

- “(...) Todo o homem não passa de um vazio, todo o homem é apenas 
aparência. O homem vai e vem como sombra e labuta por um nada: amontoa 
e não sabe quem vai recolher.” (Sl 39,6-14) Bem realista, não é? Veremos o 
mesmo pensamento no Eclesiastes 9. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 84/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS  

O livro dos SALMOS 1/6

- “O livro dos Salmos, com cento e cinquenta orações, é o coração do Antigo 
Testamento. (…) Os salmos são as orações que manifestam a fé que os 
pobres e oprimidos têm no Deus aliado. Como este Deus não aprova a situação 
dos desfavorecidos, o povo tem a ousadia de reivindicar os seus direitos, 
denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até mesmo questionar o 
próprio Deus.” (Introdução aos SALMOS, ibidem)
- Mas, afinal, Deus é apenas ou existe apenas para os desfavorecidos, os 
pobres, os fracos? Este Deus não é um Deus universal, tanto para pobres 
como para ricos? E não são os Homens que devem resolver os problemas 
dos fracos, dos pobres, dos desfavorecidos?
Na abordagem a este livro, para não nos alongaremos fastidiosamente, 
reflectindo sobre salmos repetitivos; focar-nos-emos apenas em alguns mais 
significativos e mais conhecidos.
- “Feliz o Homem que não vai ao conselho dos injustos (…)” Sl 1,1) 
Repete-se a eterna dicotomia: justo-injusto…
- “Os reis da Terra revoltam-se (…) contra Javé e o seu Messias (…) 
Aquele que habita no céu ri-Se, Javé diverte-Se à custa deles. E depois 
fala-lhes com ira (…) Ó reis, sede prudentes! (…) Servi a Javé com 
temor, prestai-Lhe homenagem tremendo, para que Ele não Se irrite e vós 
pereçais no caminho, pois a sua ira inflama-se depressa.” (Sl 2,2-12) O Deus 
que aqui nos aparece é o mesmo de sempre, cheio de sentimentos 
próprios dos humanos e, como se ira facilmente, é preciso temê-lo! “Isto” 
não é Deus nenhum, pois não?!…
- “(…) Golpeias no queixo os meus inimigos e quebras os dentes dos 
injustos. (…) É Javé quem me sustenta.” (Sl 3,6-8) Se Javé faz tudo 
pelo Homem, se o defende dos seus inimigos, se o sustenta, este que 
precisará de fazer? Mais tarde, Cristo também dirá: “(…) Não vos 
preocupeis com a vida, com o que comer (…)” (Mt 6,25). Tudo um 
completo nonsens. Valerá certamente muito mais o ditado popular: “Deus 
ajuda a quem se ajuda!”
- “Javé, escuta as minhas palavras (…). Ouve atento o meu grito por socorro 
(…)” (Sl 5,2-3) - “Javé, não me castigues com a Tua ira, não me corrijas 
com o Teu furor. Piedade, Javé, que eu desfaleço (…) Sinto-me esgotado 
de tanto gemer (…)” (Sl 6, 2-7) Oração de louvor e de pedido de protecção 
a um Deus castigador… Que real efeito terão as orações junto 
de Deus? O tema da oração é interessantíssimo. Sem nos alongarmos, 
apenas pomos à consideração: será Deus que atende as nossas orações 
ou seremos nós que trabalhamos para que o que pedimos nos aconteça 
de verdade. Já difícil será entender o efeito da oração quando rezamos 
pelos outros. Pensar e dizer que Deus interfere no processo através das 
nossas orações, oferece-nos todas as reservas.
- “Levanta-Te, Javé, com a Tua ira! Ergue-Te contra o abuso dos meus 
opressores! (…) Deus ameaça a cada dia. Se não se convertem, Ele afia a 
espada (…)” (Sl 7,7-13) “O que é o Homem para dele Te lembrares? (…) 
Tu o fizeste pouco menos do que um deus (…)” (Sl 8,5-6) Não parece que 
assim seja. Vejamos a crueldade com que ele mutila, mata, extermina o 
seu irmão - a que chama inimigo - por discordância ou cobiça! E a Bíblia 
está carregada destes horrores e abençoados por Javé, quando cometidos 
pelo povo eleito ou pelo seu “braço” vingador?
- “Javé, eu Te agradeço de todo o coração, proclamando as Tuas maravilhas! 
(…) A esperança dos pobres jamais se frustrará.” (Sl 9,8 e 19) As promessas 
de um céu, no bem-bom do face a face com Deus, sempre foram a 
consolação do pobre, do doente, do deserdado da sorte. Aliás, a que outra 
coisa poderá ele agarrar-se? Pena que tudo não passe de efabulações da fantasia…

- “O injusto gloria-se da sua própria ambição (…). As suas empresas têm 
sempre sucesso (…). Levanta-Te, Javé! Não Te esqueças dos pobres!” 
(Sl 10,3 e 12) Faz lembrar as lamentações de Job; mas, como vimos, é um 
Job que não tem sucesso no seu questionar Deus.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 83/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS
  
O livro de JOB 6/6

- Javé continua: “Vê o hipopótamo que Eu criei como te criei a ti (…). 
Quem poderá agarrá-lo pela frente (…)? És capaz de (…)? 
Será que (…)? Poderás (…)? Quem (…)? E muitas mais perguntas 
sem… cabimento! Então, Job responde: “Eu reconheço que tudo 
podes (…). Por isso, eu retrato-me e arrependo-me, sobre o pó e a 
cinza.” (Job 42,2 e 6)
- Apetece-nos dizer: Ganhaste, ó Deus, ó Javé, ó Todo-poderoso! Mas 
não pareces contente por teres vencido o desgraçado do justo Job!… 
O próprio autor - ou outro no seu lugar - também não está contente 
com este final. E põe na boca de Deus, dirigindo-se a um dos amigos: 
“Estou irritado contra ti e os os teus dois companheiros, porque não 
falastes correctamente de Mim como falou o meu servo Job.” (Job 42,7)
- Há por aqui, uma certa confusão de ideias e de personagens. 
O autor pôs argumentos desajeitados na boca de Javé. Deus sai “apoucado” 
deste debate! A força das razões de Job perde-se naquele final do 
retratar-se perante o poder de Deus. Mas… como nas histórias e lendas, 
o desenlace tem de ser feliz e… de sorrisos!… Deus “redime-se” do 
mal-entendido entre Ele e o seu servo Job: “Javé abençoou Job ainda 
mais do que antes. E possuía agora catorze mil ovelhas (…) Teve sete 
filhos e três filhas (…) Viveu ainda cento e cinquenta anos (…)” 
(Job 42,12-16)
- É! Tudo está bem quando acaba bem! A prosperidade rapidamente 
faz esquecer dores e privações... Na prosperidade, quem se lembra de 
Vós, meu Deus?! Recorremos a Vós, nas aflições, invectivamos-Vos 
na desgraça ou na doença! E lamentamo-nos como Job: “ De que 
me serviu e o que é que ganhei em não pecar?” (Job 35,3)
- Realmente, se Deus existe, a nossa relação com Ele é apenas de interesse. 
Aliás, que outra poderia ser?
- E, se bem pensarmos, mesmo para os que dizem “Entreguei-me todo 
a Deus.” Mas a grande, a eterna, a demolidora pergunta permanece: 
Que é o Homem perante Deus? Partículas de um Todo que se nos afigura 
sem limites, que somos nós, perante um Deus que não pode estar 
nos limites mas para além de tudo o existente? Que Deus criámos à 
nossa imagem e semelhança? Deus arrasa-nos com a sua eternidade, 
a sua omnisciência, a sua infinita grandeza, o seu mistério. E nós, aqui, a 
imaginá-lo semelhante a nós!!! Que insensatos! Que inconsequentes!
- Afinal, que nos fica da leitura de Job?
- Tal como ele, continuamos sem entender/aceitar a dor, o sofrimento do 
Homem justo e bom; se vale a pena o não-pecar. Os argumentos dos 
seus amigos e do próprio Deus não convenceram Job, embora o 
deixassem arrasado. A nós também não convenceram. Arrasados? - 
A falta da VERDADE acerca da vida eterna é que nos arrasa!…


sábado, 2 de janeiro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 82/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS
  
O livro de JOB 5/6

- Aparece então um outro contraponente que “ficou indignado com Job 
porque este pretendia ter razão contra Deus.” (Job 32,2), argumentando: 
“ (…) Eu digo que tu não tens razão porque Deus é maior que o Homem.” 
(Job 33,12) “Deus fala ora de um modo ora de outro, mas as pessoas 
não prestam atenção. Ele fala em sonhos. (…) Às vezes, Deus também 
corrige o Homem com o sofrimento. (…) Longe de Deus praticar o mal, 
longe do Todo-poderoso praticar a injustiça! Deus paga ao Homem 
conforme as suas obras, (…) não age de modo injusto, (…), nunca viola 
o direito. (…) Quem é inimigo do direito conseguiria governar? 
(…) Deus não é parcial a favor dos poderosos nem favorece o rico contra 
o pobre. (…) Job não sabe o que diz. (…) Ao pecado, junta a revolta, 
(…) semeia a dúvida entre nós e multiplica os seus protestos contra 
Deus.” (Job 33 e 34). E repete o que outros já disseram: “Se pecares, que 
mal fazes a Deus? Se és justo, o que é que Lhe estás a dar?” (Job 35) E 
envaidece-se: “Os meus argumentos não são falsos; tens diante de ti um 
sábio consumado.” (Job 36,4) E termina, repetindo: “Deus é poderoso e 
não despreza o coração sincero. Ele não deixa viver o ímpio e faz justiça 
aos pobres. Não afasta os seus olhos dos justos (…)” (Job 36,5-6)
- Aqui, Job talvez cansado de argumentar, nada disse, embora certamente 
lhe apetecesse gritar: «Comigo, Deus faz exactamente o contrário do 
que dizes!»? Na realidade, todos sabemos que os mais corruptos e 
criminosos deste mundo são os que, em princípio, vivem mais 
faustosamente e sem quaisquer problemas de subsistência.
- Então, perante o inusitado silêncio de Job, o outro acrescenta: 
“Deus, porém, salva o pobre através da aflição e abre-lhe os ouvidos por 
meio do sofrimento.” (Job 36,15). É, obviamente, uma afirmação de 
total nonsens! Não é exactamente isto que Job reprova em Deus? Não 
é contra o sofrimento que todo o Homem luta, lutando sempre pela 
sobrevivência e por uma vida feliz no corpo e na alma, afastando a morte 
até não a poder vencer mais, pela velhice inexorável?
- Mas diz mais: “Não te voltes para a injustiça porque foi por causa dela 
que foste provado através da aflição. Vê como Deus é sublime. (…) Quem 
é que Lhe ensina o caminho ou pode acusá-Lo de injustiça?” 
(Job 36,21-23). Ora, acusá-Lo de comprovada injustiça é o que Job tem 
estado a fazer desde o início das suas lamentações…
- Job tanto invectivou Javé que Este lhe respondeu, “do meio da 
tempestade” (para criar um maravilhoso distante e… temeroso!), em desafio: 
“Se és homem, prepara-te; vou interrogar-te e tu responder-Me-ás.” 
(Job 38,1-3) E Javé começa, altivo, Todo-poderoso: “Onde é que estavas 
quando Eu lancei os fundamentos da Terra? (…) Sabes quem (…) ? Quem (…)? 
Quem (…)? Alguma vez na tua vida, deste ordens ao amanhecer (…)? 
Acaso deste ordens à Terra (…)? Já desceste às fontes do mar (…)? 
Já examinaste (…)? Já entraste (…)? Quem (…)? Quem (…)? És tu que (…)? 
És tu que (…)? Conheces (…)? És capaz de (…)? Porventura a tua voz (…)? 
Quem pôs (…)? Quem está (…)? És tu que (…)? Sabes quando (…)? Quem 
solta (…)? (Job 38-39)
- E muitas mais perguntas o Criador faz a Job, concluindo de forma 
sarcástica: “O adversário vai querer continuar a discutir com o 
Todo-poderoso? Quem critica a Deus irá responder?” (Job 40,2) Perante 
tamanha avalanche de invectivas de Javé, Job suspira: “Sinto-me arrasado. 
Que posso eu replicar?!” (Job 40,4)
- Mesmo assim, Javé não desiste, insistindo: “Se és homem, prepara-te: vou 
interrogar-te e responder-Me-ás. Atreves-te a anular a Minha justiça e a 
condenar-Me para te justificares a ti mesmo? Tens um braço semelhante 
ao braço de Deus? A tua voz (…)? Então, reveste-te de majestade (…) 
Espalha o ardor da tua ira (…) Humilha com o teu olhar arrogante e esmaga 
os injustos (…) Enterra-os (…) amarra-os (…)”. E termina, ironizando: 
“Então, também Eu te louvarei (…)” (Job 40,7-14)
- É, pelo menos, triste para um Deus ironizar assim com um justo como 
era Job!… Depois, este Deus - “inventado”, claro, pelo autor! - dá uma 
ideia de Si mesmo tão, tão, tão mesquinha! Que ideia fará realmente, como 
autor clarividente que parece ser, do Deus da História dos seus antepassados? 
Não é este afrontar de Deus a Job um caricaturar o Deus bélico, irado, o Deus 
forte e guerreiro, o Deus dos Exércitos, o Todo-poderoso que a todos 
vence e ordena chacinas e mortandades? Não pretende exactamente 
o ridículo?

- Fica a pergunta. Uma acha mais para a fogueira da nossa condenação, 
condenação da religião judaica e do seu Javé sanguinolento, irado, 
ciumento, bem como da religião cristã cujos autores e fundadores 
deturparam, perversamente e a seu belo prazer, a mensagem de Jesus, 
para atingirem os seus objectivos de domínio dos povos e das consciências. 
E nasceu o mito de Deus ter vindo à Terra, encarnando em Jesus, com 
todo aquele cerimonial inventado pelo evangelista Lucas, tornando Jesus 
FILHO REAL DE DEUS, um deus que – vá-se lá saber porquê! – já não 
era o sanguinolento Javé que, portanto, acabava ali de… morrer!