quinta-feira, 31 de março de 2016

Os pés de barro das três religiões monoteístas 2/3



2 - O  cristianismo

As origens objectivas do Cristianismo são mais claras e mais conhecidas, pelo menos na civilização ocidental, que as do Judaísmo ou Islamismo:
1 – Historicamente, o judeu Jesus nasceu de uma mulher chamada Maria, de pai desconhecido, supondo-se que tenha casado, já grávida de Jesus, com José, do qual teve outros filhos.
2 – Jesus, pelos trinta anos, sentiu-se inspirado para pregar uma nova doutrina, em parte oposta à da sua cultura judaica, baseada num princípio: o da Fraternidade Universal de todos os Homens, já que todos filhos do mesmo Deus a quem ele não chamava Javé (o Deus dos judeus) mas Pai. E isto contra a sociedade de então, baseada na escravatura e nas classes dominantes e exploradoras dos mais fracos, imperando a lei do sábado e a lei de Talião, do “olho por olho, dente por dente”, cortando com ambas, defendendo que “o sábado foi feito para o Homem e não o Homem para o sábado” e o “dar a outra face” perante uma agressão. (Diga-se, em abono da verdade, que a Lei de Talião é totalmente justa – “Amor com amor se paga!” – embora em nada ajude à acalmia entre desavindos…)
3 – O ambiente histórico de então era propício ao aproveitamento de ideias revolucionárias, como esta da Fraternidade Universal:
3.1 – Israel estava sob o domínio romano.
3.2 – Havia várias seitas religiosas que se queriam impor ao povo, como a dos fariseus, a dos saduceus, a dos essénios e até a dos zelotas, esta de cariz mais guerreiro, organizando-se para lutar contra o ocupante romano.
3.3 – Havia, entre o povo, a ideia de que o Messias anunciado, desde séculos, pelos profetas, estaria prestes a vir salvar Israel do seu opressor.
3.4 – O povo humilde e trabalhador era subjugado por impostos e pelas classes dominantes quer políticas quer religiosas, quando não escravizado.
4 – Jesus consegue reunir uma dúzia de discípulos à sua volta, discípulos que começam a considerá-lo como o Messias, o salvador, o prometido por Javé nos tempos passados, Messias que viria instaurar o reino definitivo de paz e prosperidade para Israel. É provável que Jesus se tenha convencido de tal prerrogativa: ser ele o Escolhido, o Eleito de Javé, já que possuía alguns poderes invulgares, como os de curandeiro e de adivinho. No entanto, declarou: “O meu reino não é deste mundo…”, criando a desilusão já entre os discípulos, já entre o povo que, depois de o aclamar: “Hossana, hossana ao Filho de David!”, gritou, perante Pilatos: “Crucifica-o, crucifica-o!”, considerando-o um impostor…
5 – Jesus morre. E cerca de 20 anos mais tarde, pelo ano 50, aparece Paulo de Tarso que, de perseguidor dos primeiros seguidores de Jesus, se torna um apóstolo, construindo a primeira teologia baseada num Jesus suposto filho de Deus que desceu do Céu à Terra para salvar a humanidade: judeus e gentios. Paulo - um homem culto e certamente com pretensões a ficar na História... -  é, sem dúvida, o criador do Cristianismo, uma seita religiosa a que ele teria o orgulho de presidir, organizando comunidades, com ou sem a colaboração dos discípulos.
6 – Entre 70 e 100 dC, escrevem-se os quatro evangelhos, dos quais não possuímos nenhum original mas apenas cópias do séc. III dC. Ali se elaborou toda uma história de um Jesus divinizado e, “obviamente!”, Filho de Deus.
É interessante constatar que os evangelistas – ou os copistas durante os dois séculos em que os originais se perderam – inventaram tudo o que puderam para divinizar Jesus e firmar na fé os entretanto muitos crentes que foram aderindo à nova religião, sobretudo os das classes mais baixas, escravizadas e exploradas, pois era sumamente convidativa a ideia da “Fraternidade Universal”, ao contrário do que acontecerá com o islamismo, 600 anos mais tarde, cujo convencimento foi feito pela espada. O resto das crenças ou… “crendices”, dogmas e credos, quer naquele tempo, quer ao longo dos séculos, veio por acréscimo. Aliás, a nova religião, para sê-lo, tinha de “meter” Deus e os seus mistérios no meio daquele revolucionário conceito. Outro conceito, este mágico: a Fé! “Quem crê em mim e na minha palavra terá a vida eterna!”; “Quem me vê a mim vê o Pai que me enviou!”; etc.
Os exemplos da tentativa de divinização de Jesus são notórios em cada passagem evangélica. Estão patentes sobretudo nos inúmeros milagres atribuídos a Jesus, milagres obviamente falsos e inventados, pois a terem sido verdadeiros, não teria havido ser humano à face da Terra então conhecida, desde Roma à Índia, que não tivesse vindo a Israel ver tal “fenómeno” produtor de milagres. Nem tão pouco os seus irmãos judeus o teriam odiado tanto a ponto de pedirem a sua morte e morte de cruz. É que isto de ressuscitar mortos com um abrir e fechar de olhos e de pôr cegos de nascença a ver ou coxos a andar… não é para qualquer um! E nada desta procissão de humanos consta da História! Assim, Lucas ocupou-se de divinizar Jesus ao modo dos deuses solares, fazendo-o nascer de uma virgem, com fenómenos celestiais a acompanhar tão fantástico acontecimento: Deus vindo do Céu à Terra, tomando a carne humana, em forma de menino… Marcos e Mateus encarregaram-se da invenção de milagres, mais este que aquele, culminando nos milagres que rodeiam a morte e ressurreição de Jesus, um deles totalmente fantasmagórico: os mortos terem-se levantado dos túmulos e terem passeado pela cidade… Sucedem-se as narrativas contraditórias do chamado fenómeno da ressurreição! E João empenhou-se, na esteira de Paulo, em elaborar uma teologia a condizer com os “factos” narrados pelos seus antecessores.
O cristianismo teve o seu grande impulso, quando o imperador Constantino, nos princípios do séc. IV, o declarou como religião oficial do Império, tornando-se imparável, a partir desse momento, espalhando-se por todo o vasto Império.

E aí temos uma religião que, após dois milénios de ter sido inventada, é praticada ou seguida por cerca de dois mil milhões de seres humanos, tendo-se, entretanto, dividido em três: católicos, ortodoxos e protestantes, divisão símbolo das lutas pelo poder: o de Roma, o de Constantinopla e o de Inglaterra, havendo inúmeras seitas de um e de outro lado. Todas estas cisões só revelam que Deus anda bem arredado dos que dizem – desonestamente, senão perfidamente! – pregá-lo, adorá-lo, segui-lo: os gurus ou “papas” de todas essas seitas.

Uma religião verdadeira e credível? – Não, obviamente! Aliás, os Homens “da Igreja”, com as suas hierarquias, adulteraram a mensagem original de Fraternidade Universal de Jesus, Jesus a quem, arrogando-se de possuir a VERDADE, chamam Filho de Deus e Nosso senhor!



quarta-feira, 23 de março de 2016

Os pés de barro das três religiões monoteístas 1/3



A origem das três religiões monoteístas – religiões que, por coincidência estranha, apareceram praticamente na mesma zona da Terra: o Médio Oriente, Jerusalém (Judaísmo e Cristianismo) e Meca (Maometismo) que distam cerca de 1000 kms uma da outra – não difere muito da origem de todas as outras religiões politeístas que apareceram à face da Terra, inventadas por homens (e não mulheres?!) influentes nesta ou naquela sociedade e que as impuseram aos seus povos ignorantes e propensos à 
crença no Desconhecido, sobretudo no Além ou no post-mortem. Analisemos essa origem, muito resumidamente, e tiremos as devidas conclusões:

1 – O judaísmo

O judaísmo apareceu por volta do século XVIII a.C., quando supostamente Deus mandou Abraão, o patriarca dos Hebreus, sair da sua terra – a Mesopotâmia (actual Iraque) – e ir em demanda da Terra Prometida: Canaã, território que constitui hoje Israel e a Palestina.
Os judeus (hebreus ou israelitas) acreditam que YHWH (Javé ou Jeová) é o único Deus e foi/é exclusivo do povo de Israel. O livro sagrado dos judeus é o Torá ou Pentateuco, revelado diretamente por Deus a Moisés, um Deus cheio de todos os defeitos dos Homens: ciumento (proibindo a idolatria, ou seja, a prática de adoração a ídolos e imagens representantes de outros deuses), colérico, sanguinolento, partidário, exclusivo... e, de vez em quando, compassivo, tolerante, mas sempre exigindo sacrifícios e abluções para que a sua ira seja aplacada…
As relações de Israel com o seu Deus Javé vêm exaradas na Bíblia Judaica, onde pontuam os cinco primeiros livros – O Pentateuco ou Tóra – seguidos dos livros Sapienciais e Proféticos. Todos considerados sagrados por terem sido de inspiração divina. Ora tais livros foram escritos e reescritos ao longo de, pelo menos um milénio, o milénio AC, supondo-se que a maior parte tenha sido compilada – já que muitas das histórias ali narradas eram transmitidas oralmente de geração em geração – aquando do cativeiro na Babilónia, cidade da Mesopotâmia, pela classe sacerdotal. Javé foi, pois, um Deus que necessitou de c. de mil anos para produzir aquelas poucas dezenas de pequenos livros…
Não se consegue descortinar onde tenha estado, historicamente, a inspiração divina para tais textos. Do ponto de vista de conteúdos, além de serem uma compilação de contos, provérbios, lendas, histórias que não eram só dos judeus mas comuns aos povos daquela zona, existem incongruências, contradições, desumanizações que, obviamente, não abonam em nada da sua suposta inspiração divina para que sejam considerados livros sagrados. Um dos exemplos mais flagrantes e mais sintomáticos é o Decálogo mosaico ou dez Mandamentos, que aparece duas vezes na Tóra: Êxodo e Deuteronómio, reproduzindo mutatis mutandis o Código do rei da Babilónia Hamurabi, que viveu pelo ano 1700 AC, e aqui referenciado, abusivamente, claro, como tendo sido outorgado por Deus a Moisés no Monte Sinai.
Toda a Bíblia judaica não passa da história da suposta relação do povo de Israel com o seu suposto Deus Javé, relação que ajudou muitíssimo os estrategas militares e religiosos daquele tempo a conduzirem o seu povo – um “povo de cabeça dura”, como refere a mesma Bíblia – para onde queriam e do modo como queriam, dizendo ser a vontade de Javé: “Javé o quer!”
Conclusão: Alguém consegue descortinar, nesta breve história da origem do Judaísmo, fundamento para que se possa acreditar em algo de divinamente consistente, racional e humanamente aceitável? – NÃO! NADA! Então, porque existe tal religião?
O que é certo é que é religião que continua, após três milénios, a congregar todo um povo, povo que tem tanto de odioso como de admirável, povo que foi sempre perseguido ao longo da História, iniciando a sua diáspora pelo mundo, aquando da aniquilação de Jerusalém pelo imperador romano, no ano 70. Durante quase vinte séculos, espalharam-se pelos cinco continentes, sem nunca se terem tornado “espécie infestante”, mas, partindo do nada, guindavam-se ao topo das sociedades onde se inseriam, pela sua capacidade já de estudo, invenção e aprendizagem, já de habilidade em negociar, quase sempre com artifícios pouco claros e enganadores, não sendo despiciendo, para os católicos, o terem matado Jesus Cristo. Estas, algumas razões porque foram expulsos de certos países, como Portugal e Espanha, mas acolhidos por outros, como a Holanda, onde contribuíram largamente para o seu desenvolvimento, razões também apontadas para a camuflada aceitação do povo alemão do holocausto nazi. Sem se multiplicarem em demasia – são cerca de vinte milhões – conseguiram desde 1947, o seu Estado de Israel, pelo qual têm lutado e morrido heroicamente. E, desde que há Prémio Nobel, os judeus levam larga vantagem sobre qualquer outro povo no número de agraciados com tal Prémio. Em relação ao povo muçulmano, a percentagem é de 100 para 6. Sintomático, não é?!

E não podemos esquecer: são judeus dois dos maiores vultos humanos que já apareceram à face da Terra: Jesus, pai da Fraternidade Universal e a quem os discípulos chamaram de Cristo – e assim continua (JC), tendo dividido a História em aC e dC – e Einstein, o pai da Teoria da Relatividade e do aproveitamento da energia contida no átomo. São também judeus os que têm dominado o império do petróleo, do ouro e dos diamantes. E ainda é a eles que se deve a invenção da USURA (dinheiro ganho com empréstimos de dinheiro…) sistema que pontifica no mundo da finança actual com todas as perversidades que tal sistema gera…

segunda-feira, 21 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 93/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 4/4

Terminando, diz o “nosso” comentador: “Esta colecção de “palavras 
dos sábios” (Pr 22, 23 e 24) inspira-se claramente no livro egípcio 
conhecido por Sabedoria ou Ensinamentos de Amenemope que, por 
volta do ano 1000 a.C., já circulava pelo Médio Oriente. (…) São trinta 
máximas que se inspiram na estrutura do texto egípcio, adaptado à 
perspectiva da religião javista.” E nós não entendemos: Afinal a 
inspiração veio de Deus, ou do povo egípcio ou, simplesmente da 
experiência de toda uma cultura? Quando se mistura o humano e o 
sagrado, a confusão instala-se… Bem, eis algumas mais significativas:
- “Não explores o fraco (…) Não faças amizade com pessoa colérica 
(…) Não sejas como aqueles que se comprometem facilmente (…) 
Não mudes os marcos das terras (…) Não te empenhes em adquirir 
riquezas (…) Não comas na casa do injusto (…) Não percas tempo a 
falar com o insensato (…) Disciplina a tua mente (…) Não deixes 
de disciplinar o jovem (…) Não tenhas inveja dos pecadores (…) Não 
te juntes aos beberrões e comilões (…) Não desprezes a velhice (…) 
Não conspires contra a casa do justo (…) Não te alegres quando o teu 
inimigo cai e não rejubiles quando ele tropeça (…)” (Pr 24,17) - 
No geral, tudo bons propósitos, bons conselhos. Nesta última, faz 
lembrar Jesus Cristo quando diz: “Amai os vossos inimigos!”. De 
qualquer modo, contradiz-se totalmente com o anterior AT onde 
se implora a Javé que destrua o inimigo, inimigo a quem Javé 
dedica muito do seu ódio… Aliás, parecendo ter notado tal 
incongruência, acrescenta:  “Javé poderia ver isso, ficar 
descontente e retirar dele a sua ira.” (Pr 14,18) Estragou tudo! 
E o motivo de Javé é, simplesmente, perverso!!!
- “Nunca digas: Vou fazer-lhe o mesmo que ele me fez a mim. Vou 
pagar-lhe como ele merece.” (Pr 24,29) - A ideia é não pagar o mal 
com o mal. Aqui, sim! Ultrapassa-se a lei de Talião do “Olho por 
olho, dente por dente” Soberbo! Quase divino!... Raro no AT. 
Mas… quem poderá contestar que a lei de Talião não é justa? Se me 
matas o meu filho, não tenho o direito/dever de matar o teu? – Enfim, 
perdoar é mais difícil mas, sem dúvida, bem mais “divino”…
- “Se encontraste mel, come apenas o suficiente para não ficares enjoado 
e o vomitares.” (Pr 25,16) - Dirão mais tarde os latinos: “In médio, virtus.” 
(No meio, está a virtude.)
- “Não frequentes demasiado a casa do teu próximo para que ele não se 
canse e aborreça de ti.” (Pr 25, 17) - É como o sal na comida…
- “Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de 
beber.” (Pr 25,21) - Já faz lembrar Jesus Cristo! E, mais uma vez, é uma 
reviravolta total em relação aos livros anteriores. Mas, também mais uma 
vez, o autor parece arrepender-se: “Deste modo, fá-lo-ás corar de 
vergonha e Javé te recompensará!” (Pr 25,22).
- “É melhor uma repreensão franca do que uma amizade fingida.” (Pr27,5) - 
Claro!
- “Goteira a pingar em dia de chuva e mulher desordeira são coisas iguais. 
Querer segurá-la é como segurar o vento ou reter o azeite com a mão.” 
(Pr 27,15-16) - Decididamente, a mulher não era das simpatias deste autor 
ou destes sábios antigos eivados de um machismo primário! “Esta Bíblia 
não é, de certeza, de inspiração divina!” – dirá qualquer mulher que esteja 
atenta à vida… Ou… talvez não. É que o autor termina o seu livro com 
um hino de suposto louvor à mulher: “Quem poderá encontrar uma 
mulher forte? Ela vale mais que as pérolas. O seu marido confia nela e não 
deixa de encontrar vantagens. Ela traz-lhe a felicidade (…) Adquire lã e 
linho (…) É como navio mercante (…) Ela levanta-se ainda de noite (…) 
Examina um terreno e compra-o (…) Prepara-se para o trabalho (…) mesmo 
de noite, a sua lâmpada não se apaga (…) Abre as mãos ao pobre (…) 
Tece mantas (…) Abre a boca com sabedoria (…) Supervisiona o 
andamento da casa (…) e o seu marido elogia-a: Muitas mulheres são fortes 
mas tu superaste-as a todas!” (Pr 31,10-29) - Será um elogio à mulher ou… 
à escrava do lar e… escrava do marido?! Afinal, qual o trabalho de tal 
marido?!
- A propósito, comenta-se: “Mais do que o elogio a uma determinada esposa, 
o poema proclama a sabedoria personificada como esposa ideal que 
encaminha o homem para a justiça, honra, prosperidade e vida. É a 
companheira ideal para todos, homens e mulheres.” (ibidem) Enfim… é 
mais uma honesta tentativa, deste exegeta, de salvar a face da Bíblia! 
Salvará?! Aliás, os exegetas são peritos em descortinar interpretações 
metafóricas daqueles textos da Bíblia que, se tivessem sido inspirados por 
Deus, deixariam o mesmo Deus ficar com péssima reputação. Por isso… 
Contudo, é inadmissível, porque intelectualmente desonesto, que os 
exegetas, quando lhes “convém”, interpretem a Bíblia em sentido literal; nos 
outros casos – que são muitos! – socorrem-se dos subterfúgios 
interpretativos que normalmente dão para tudo…

- E… terminámos! Mais um livro! Cheio de verdades boas para a vida 
do Homem na Terra. Para a sua eternidade no céu, NADA!… 

terça-feira, 15 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 92/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 3/4

- “Javé criou-me como primeiro fruto da sua obra (…) Fui estabelecida
 desde a eternidade (…)” (Pr 8,22-23)
- A sabedoria… criada ou eterna? Nasceu de Deus com o Homem e 
para o Homem ou é fruto da experiência do próprio Homem?
  Seguem-se 376 máximas de cunho moral, atribuídas a Salomão. Vamos 
escolher algumas. No entanto, diz o já citado comentador: 
“Os provérbios aqui agrupados são muito antigos (…) Este pequeno tratado 
de moral social procura orientar as pessoas relativamente aos problemas 
de convivência social (…)”. Nada, portanto, de divino aqui se 
descortinará, nem nós nem tão pouco o “nosso” comentador. Mas que 
muitas máximas são verdades “eternas”, lá isso…
- “O ódio provoca rixas, mas o amor cobre todas as ofensas.” (Pr 10,11)
- Quem duvidará?
- “Ao injusto acontece o que ele teme; aos justos é dado o que eles 
desejam.” (Pr 10,24)
- Quantas vezes, é o contrário, Santo Deus!
- “A esperança dos justos acaba em alegria, mas a esperança dos injustos 
termina em fracasso.” (Pr 10,28)
- Infelizmente, outra é a verdade! Na Terra, a justiça actua sobre os pobres. 
Os ricos nunca ou raramente são condenados pelos seus crimes. Faz falta 
haver um Céu e um Inferno para, ao menos no Além, haver justiça. Mas… 
que pena: tudo – TUDO! – leva a crer que não há, nem Céu para os bons 
nem Inferno para os maus.
- “Anel de ouro em focinho de porco é a mulher bonita mas sem bom 
senso.” (Pr 11,22)
- Interessante comparação! E que será o homem bonitão 
mas… insensato?
- “Quem dá generosamente, a sua riqueza aumenta ainda mais; quem 
acumula injustamente, acaba na miséria.” (Pr 11,24)
- Só se for no céu, que na Terra…
- “Mulher forte é coroa para o seu marido; mulher de má fama é cárie nos 
ossos.” (Pr 12,4)
- Ao ler tal máxima, qualquer mulher retorquiria: E o que é para a mulher, 
marido de má fama? Esqueceu-se o autor de falar do homem? Não 
admira: num reino machista em que vivia…
- “Cada um satisfaz-se com aquilo que diz, mas receberá conforme aquilo 
que faz.” (Pr 12,14)
- Deveria ser, mas, infelizmente para o povo trabalhador, muitas vezes 
verifica-se o contrário: quem bem fala muito recebe, mesmo que 
pouco faça.
- “Quem poupa a vara, odeia o seu filho; mas aquele que o ama, aplica-lhe 
a correcção.” (Pr 13,24)
- Que filho aceita de boa mente tal “vara”? – Certamente nenhum; mas 
a educação com responsabilidade dialogante nem sempre resulta entre pais 
e filhos. Por isso,…
- “Resposta calma aplaca a ira; palavra mordaz atiça a cólera.” (Pr 15,1)
- Belo conselho para uma relação humana! Aliás quem se irrita é vítima da 
sua própria irritação…
- “É melhor um pedaço de pão seco na tranquilidade do que a casa cheia 
de banquetes e desavenças.” (Pr 17,1)
- É! Tal como é “Melhor sozinho que mal acompanhado.”
- “Um amigo ama em qualquer tempo, é um irmão no dia do perigo.” 
(Pr 17,17)
- O amigo verdadeiro, claro!
- “O Homem de bom senso reprime a ira e tem como honra ignorar uma 
ofensa.” (Pr 19,11)
- Mas é tão difícil não responder com uma agressão a outra que nos atinge!
- “É melhor morar no deserto do que com uma mulher desordeira e 
mal-humorada.” (Pr 21,19)
- Lá isso não há dúvida! Mas, para onde iria morar mulher que tivesse em 
casa tal homem? Mais uma vez, o autor se esquece de que a mulher 
também é “ser humano”…

  

quarta-feira, 9 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 91/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 2/4

- “Meu filho, não percas de vista a sensatez, conserva a reflexão (…), 
o teu sono será tranquilo.” (Pr 3,21 e 24)
- Sem dúvida! Será a melhor forma de vida…
- “(…) Javé detesta o perverso mas é amigo dos justos. Javé amaldiçoa (…)
 mas abençoa (…) zomba (…) mas favorece (…)” (Pr 3,32-34)
- Um Javé contraditório, um Deus apoucado, não acham? Apouca-se, 
ao detestar, amaldiçoar, zombar do injusto ou perverso. O homem tem 
tais sentimentos, Deus não os pode ter!
- “Filhos, obedecei à disciplina paterna (…)” (Pr 4,1)
- Era bom para os pais, não era?
- “O princípio da sabedoria é adquirir a sabedoria.” (Pr 4,7)
- Redundante? – Talvez, embora se compreenda que o primeiro acto 
de ser sábio é procurar a sabedoria. Mas é algo contraditório com Pr 2,6 
quando se diz que “É Javé quem dá a sabedoria”?
- “ (…) Pratica a disciplina porque ela é a tua vida (…)” (Pr 4,13)
- Teremos alternativa?
- “Os lábios da estrangeira destilam mel e as suas palavras são mais 
suaves do que o azeite. No final, porém, ela é amarga como fel (…). Os 
seus pés levam à morte (…)” (Pr 5,3-5)
- Teria o autor “sagrado” provado tal mel? Porque lhe soube a fel, no final? 
Remorso ou… cinismo?
- “ (…) Alegra-te com a esposa da tua juventude: ela é uma corça querida, 
uma gazela formosa. Que as suas carícias te embriaguem sempre e o seu 
amor te satisfaça continuamente.” (Pr 5,18-19)
- É amoroso, não é? Mas… para o homem! De mulher a alegrar-se 
com a juventude do marido e suas carícias, não se dá notícia! Porquê?! – 
Talvez por ser apenas o homem o prevaricador: “Meu filho, porque te 
deleitas com mulher estranha e abraças o peito de uma estrangeira?” 
(Pr 5,20) Em termos de desmandos e pecados, parece que o homem 
sempre levou vantagem!...
- “ (…) Se fizeste acordo (…), te comprometeste, dando a tua palavra (…), 
caíste em poder do teu próximo. Para te livrares, (…) vai, insiste e 
incomoda o teu próximo (…), liberta-te (…)” (Pr 6,1-5)
- Egoísmo ou… precaução? – Inclinamo-nos para a precaução pois, 
quem sabe afinal em que próximo podemos confiar?
- “Até quando vais ficar a dormir, preguiçoso?” (Pr 6,9)
- Boa pergunta!... Ouçam, agora, esta deliciosa narrativa sobre a 
mulher estrangeira que seduz. Estava inspirado, comprazendo-se, o autor! 
A descrição é visual, as palavras soltas, precisas. Têm vida e 
dão vida à cena. Uma cena banal, até escandalosa, diríamos, mas… “digna” 
da Bíblia sagrada!... É em Pr 7:
- “Eu estava à janela da minha casa e olhava por entre as grades…”
- Estava espiando, o malandro!… Com que olhinhos gulosos, maliciosos?!
- “… Vi alguns jovens ingénuos e notei que um deles não tinha juízo 
(…) e dirigiu-se para a casa da estrangeira. Já caía a noite de Lua nova (…) …”
- É uma noite quase sem Lua… O escuro convida ao pecado, ao deleite…
- “… Uma mulher foi ao encontro deles, vestida como prostituta e cheia 
de malícia. Era ousada e insolente (…) …”
- Não há dúvida: o deleite é grande, a vontade de despir o pouco que cobre 
o corpo voluptuoso da prostituta, muita!
- “… Então ela agarrou e beijou o rapaz…”
- O deleite permanece, a imaginação lúbrica inunda de volúpia o autor, a 
cena é de vida!
- “… Depois, falou-lhe descaradamente: Estava ansiosa por te ver e acabei 
por te encontrar. Cobri a minha cama com colchas e coloquei nela lençóis 
do Egipto. Perfumei o quarto com mirra, aloés e cinamomo. Vem, vamos 
embriagar-nos com carícias até de manhã. Vamos saciar-nos com amores…”
- Que ouvidos apurados para tanto ouvir da sua janela!… Ou… que viver 
em imaginação o que outro estaria saboreando na realidade!… Aliás, que 
homem resistiria a tal mulher, a tal chamamento, a tais perfumes, colchas 
e lençóis?! Nem S. Jerónimo!... E seria solteira, esta senhora que tanto 
empolga o “nosso” autor?
- Não, caros crentes! O autor pensa que o escândalo tem de ser total! “(…) 
porque o meu marido partiu para longa viagem e não está em casa. 
Ele levou a bolsa com dinheiro e não voltará até à Lua cheia.”

- Pois é: se o marido voltará antes daquele tempo é questão que não se põe 
perante tamanha sede de amor, sede que o marido, haveria tempo, não 
colmatava, talvez atraiçoando-a com outras e ela sabendo disso… Aliás, 
a escolha da mulher tinha sido perfeita: um belo jovem! Mas, não 
esqueçamos: isto é um texto sagrado, isto é Bíblia; portanto, haverá uma 
lição a tirar: uma chamada de atenção para os perigos vários 
proporcionados por mulheres e homens insensatos. E… nada mais!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 90/?

À procura da VERDADE
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 1/4

“Os provérbios são ensinamentos deduzidos da experiência que o povo 
tem da vida. (…) A maioria deles (…) passou de boca em boca e foi 
depois recolhida, burilada e editada por sábios (…) desde Salomão 
(950 a.C.) até dois séculos depois do exílio (400 a.C.) (…). Também 
este livro é Palavra de Deus que transmite vida.” (Introdução ao Livro
 dos Provérbios, ibidem)
- Este início é pouco ou nada prometedor para quem procura a 
VERDADE.  É que é totalmente gratuita a afirmação de que este 
livro é “Palavra de Deus”. Teremos de aceitar como VERDADE que 
Vox populi, vox Dei!”? Será a voz do povo, a voz de Deus? Que 
tem realmente Deus a ver com os ensinamentos que tiramos da nossa 
experiência e… da vida? Que sábios burilaram estes provérbios para 
que sejam considerados de inspiração divina? Mas… coragem! Vamos 
à descoberta!
- “Provérbios (…) para adquirir disciplina e sensatez, justiça, direito e 
rectidão; para ensinar sagacidade aos ingénuos, conhecimento e reflexão 
aos jovens (…) O temor de Javé é o princípio do saber (…) (Pr 1,1-7)
- Belos, belíssimos propósitos mas… simplesmente humanos! E porque 
é que “o temor de Javé é o princípio do saber”? – A resposta até parece 
fácil: quem não O teme, não cumpre as suas Leis. Já viram alguém 
cumprir uma lei se não tiver medo do castigo no caso de a infrigir? 
Problema é que estas supostas leis divinas foram escritas por 
Homens e apenas por Homens que alguns consideraram – sem qualquer 
fundamento, claro! – inspirados por Deus.
- “Tal é o destino do ganancioso: a cobiça acaba com o cobiçoso.” 
(Pr 1,19).
- Nem sempre! Basta olhar à nossa volta e veremos que os gananciosos 
prosperam e os honestos e solidários vivem, muitas vezes, de migalhas…
- “A Sabedoria grita pelas ruas: (…) Recusastes os meus conselhos 
e não aceitastes o meu aviso. Por isso, também eu vou rir da vossa 
desgraça (…) Recusastes o conhecimento e não escolhestes o temor de 
Javé (…) Pois bem! Comereis o fruto do vosso comportamento (…)” 
(Pr 1,20-29)
- Que conselhos? Que aviso? Que conhecimento? – Certamente os da 
nossa experiência, pois que Deus… Só se considerarmos Deus a parte 
boa e positiva do Homem. Mas sê-lo-á?
- “De facto é Javé quem dá a sabedoria e da sua boca vêm o conhecimento 
e o entendimento.” (Pr 2,6)
- Onde o fundamento de tal afirmação? – Simplesmente… não há!
- “A Sabedoria livrar-te-á da mulher estrangeira (…) que seduz com 
palavras (…)” (Pr 2,16)
- Pobre da mulher! A Bíblia contribuiu perversamente para a desumanização 
da mulher, ao longo da História da civilização judaico-cristã, sobretudo 
ao atribuir-lhe o primeiro pecado da Humanidade, dando a Adão a maçã 
proibida, ilibando – obviamente por machismo – o homem de qualquer 
culpa! Se a Bíblia tivesse sido escrita por mulheres, qual seria a sorte do 
homem na civilização ocidental? E porque se alimenta, neste caso, a 
discriminação em relação à mulher não judaica? É tão pouco divino, não 
é?! Mas – infelizmente para todas as mulheres do mundo – depois da 
Bíblia do AT, e com algumas exepções no NT – apareceu o cúmulo do 
total desrespeito pela mulher: o Corão de Maomé. Já abordámos aqui este 
tema. Voltaremos a ele quando nos ocuparmos do Corão, numa análise 
objectiva, como estamos fazendo agora.
- “Não te consideres sábio: teme a Javé e evita o mal. Isto trará saúde ao teu 
corpo (…)” (Pr 3,7)

- A humildade e sensatez são fonte de vida, claro! Continua-se é a apelar 
para o temor de Javé, sem qualquer sentido objectivo.