terça-feira, 31 de maio de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - (99/?)

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS  

CÂNTICO DOS CÂNTICOS – 1/4

O “nosso” comentador introduz-nos: “ (…) O livro é uma colectânea de 
cantos populares de amor (...) A forma final do livro (…) remonta ao 
séc. V ou IV a.C. Como interpretar o Cântico? (…) Amor humano ou 
divino? Podemos dizer que o Cântico celebra ambos inseparavelmente, 
pois a criatura humana é imagem e semelhança do Criador (…) O Cântico 
e o que ele descreve - o amor humano - podem e devem ser lidos como 
uma parábola incomparável que revela a paixão e ternura de Deus pela 
humanidade.” (ibidem)
Difícil de aceitar tal interpretação, sobretudo o dizer que Deus revela 
paixão e ternura, sentimentos próprios de Homem e não de Deus! Mas… 
que humano não ficará perplexo ao ler este admirável poema, impregnado 
de uma tão forte e crua sensualidade, podendo-se quase visualizar os dois 
amantes, beijando-se, desnudando-se, possuindo-se na embriaguez do 
amor, contemplando-se, desejando-se irresistivelmente?… Como pensar 
tal livro como divino, não o sabemos. Inspirado? - Claro! Por Deus? 
- Se toda a inspiração boa e bela vem de Deus… E não é bom e belo o a
mor? Amor no corpo, na alma, no coração, no sonho, na realidade? 
Depois – que “milagre”! – a mulher deixou de ser a tentadora do 
Homem para se igualar a ele, ambos desejando-se, ambos cometendo 
o mesmo “divino pecado” do amor, ambos comendo a mesma maçã 
do paraíso, bebendo o mesmo vinho celestial da Terra! Simplesmente 
fantástico!



- “Beija-me com os beijos da tua boca!
   Os teus amores são melhores do que o vinho,
   o odor dos teus perfumes é suave,
   o teu nome é como óleo perfumado a escorrer,
   e as donzelas enamoram-se de ti…
   Arrasta-me contigo, corramos!
   Leva-me, ó rei, aos teus aposentos
   e exultemos! Alegremo-nos em ti!
   Mais que ao vinho, celebremos os teus amores!
   Sou morena mas formosa (…)
   Não repareis na minha tez morena (…)
   Os filhos de minha mãe (…)
   obrigaram-me a guardar as vinhas
   e a minha vinha, a minha…
   não a pude guardar.
   Avisa-me, amado da minha alma,
   onde apascentas e fazes descansar
   o rebanho ao meio-dia
   para que eu não ande vagueando perdida (…) (Ct 1,2-7)”
Que “amado” não responderá a tal chamamento? E que vinha é a sua que 
não pôde guardar?
- “Minha amada, (…)
   Que beleza as tuas faces entre os brincos
   o teu pescoço com colares!”
- “Um saquinho de mirra
   é para mim o meu amado
   repousando entre os meus seios.
   O meu amado é para mim
   um cacho de cipro florido (…)”
- “Como és bela, minha amada
   como és bela!…
   Os teus olhos são pombas”
- “Como és belo, meu amado
   e que doçura!
   O nosso leito é todo relva (…)”
- “Como açucena entre espinhos
   é a minha amada entre as donzelas.” (Ct 2,2)

Encantados, só perguntamos: Porquê, para ele, seriam “espinhos” as 
outras donzelas?

segunda-feira, 23 de maio de 2016

FÁTIMA, verdade ou mentira? E o “corpo de Deus”, o que é?


 Fátima
Já escrevemos aqui uma dezena de textos sobre a “Inverdade de Fátima”, de 30/05/2011 a 01/09/2011, analisando o fenómeno à luz da própria mensagem da Virgem aos pastorinhos, havendo também a presença de um outro ente celestial, meio anjo meio sacerdote.
Concluiu-se, obviamente, pela falsidade do fenómeno e da mensagem, partindo do conteúdo medievesco e fundamentalista dessa mesma mensagem. Não vamos repetir aqui o que então dissemos. Convida-se à leitura daqueles textos, uma leitura fácil e rápida.
E sobre o tema, há algumas verdades incontestáveis:
1 – O fenómeno impôs-se a nível nacional e internacional, arrastando multidões para o local, sobretudo nos dias 13 de Maio, onde se queimam toneladas de cera e se deixam muitos milhares de euros em ofertas ao santuário e à Virgem (leia-se Igreja!), pagando ou não promessas feitas em casos de aflição. O turismo da região – cama e mesa e comércio – agradece, embevecido com o “milagre” da Virgem, embora sazonal…
2 – A fé move os crentes. Alguns vão a pé. Não só uma mas várias vezes. Bolhas nos pés e dores nas pernas, tudo é superado pelo fervor de “ver” e de acenar com lenços brancos à Virgem (diga-se imagem…), na hora do Adeus que, de comovente, deixa a lágrima toldando o olhar. E partem felizes, cheios do amor divino, seja lá isso o que for!
3 – E tudo baseado em falsidades, em suposta Virgem – que não o foi: teve vários filhos além de Jesus! – Virgem que desceu do Céu à Terra para visitar a lusa gente e trazer-lhe uma mensagem não de salvação, mas de terror e de pavor, revelando pecadores chamuscando-se num inventado Inferno…
4 – Então, já pelo comércio realizado tanto pelo turismo local como pela Igreja, já pelas alegrias de que vão inundados os crentes quando partem do local santo, não vale a pena uma mentira, mentira, diga-se, muito bem orquestrada pela classe sacerdotal de Ourém de 1917?

Falando da crença na Virgem de Fátima, pode dizer-se o mesmo das crenças em qualquer suposto divino apregoado por todas as religiões, religiões cujos gurus levam os crentes a acreditar alegremente em coisas bizarras do Aquém e do Além, fazendo-as passar por verdades incontestáveis, já que com o aval desse suposto divino supostamente vindo à Terra para inspirar livros supostamente sagrados. Uma certeza: só é crente quem é acrítico ou inculto. As religiões acabarão – esfumar-se-ão na espuma da História – no dia em que toda a humanidade tiver os conhecimentos que a Ciência já hoje lhe proporciona e que, certamente, irá proporcionar à medida que for desvendando mais segredos da Vida e do Universo. Por enquanto, os povos quanto mais incultos mais crentes.
Então, ser ou não ser… a escolha é sua!

O corpo de Deus? – Obviamente, uma falácia! Uma aberração completa, aberração que não se percebe como é que a Igreja, ela própria, a impõe aos fiéis.
Então, Deus não é puro espírito? Ah dirão – estás esquecendo-te da eucaristia: Deus desce do Céu à Terra, sob as espécies do pão e do vinho, pela força das palavras do sacerdote… Inacreditável! Um humano com a capacidade que lhe foi outorgada por outro humano – o bispo ou o papa! – de fazer descer Deus do Céu à terra e ficar ali encurralado num pouco de pão e num pouco de vinho. Ao que a fé obriga os crentes, santo Deus!

E é esse suposto corpo que dá direito a um feriado nacional e leva muitos crentes à "Missa do Corpo de Deus" e a participarem em procissões em que o sacerdote, cantando alegremente, levanta a custódia reluzente que transporta a hóstia dita consagrada! O corpo de Deus! Se não fosse deprimente aos olhos da Razão, era senão perverso, pelo menos ridículo!

terça-feira, 17 de maio de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 98/?

À procura da VERDADE
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS 

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 5/5

- “ (…) O dia da morte é melhor que o dia do nascimento (...) pois 
aquele faz reflectir os vivos. É melhor a tristeza que o riso (…)” 
(Ecl 7,1-3)
Não! Totalmente em desacordo! O pensamento da morte só nos deve 
levar a tirar o melhor partido da vida! E o riso… sempre! A tristeza… 
nunca! Aqui, o Deus inspirador estava de mau humor!
- “Não te irrites facilmente porque a irritação abriga-se no peito dos 
insensatos.” (Ecl 7,9)
 Claro: quem se irrita perde, para sempre, momentos de viver feliz.
- “Vi o justo perecer apesar da sua justiça e o injusto viver 
longamente apesar da sua injustiça. Não sejas demasiadamente justo 
nem te tornes sábio demais. Para quê arruinares-te? Não sejas 
demasiadamente injusto nem te tornes insensato. Para que irias morrer 
antes do tempo?” (Ecl 7,15-17)
Lá que o “injusto” tenha melhor vida que o “justo”, é bem visível por 
esse mundo fora! Agora, que ser justo ou injusto tenha limites de 
conveniência, talvez seja calculismo a mais e, obviamente, muito pouco 
divino…
- “Apliquei-me de novo a conhecer (…) a sabedoria (…). Então, descobri 
que a mulher é mais amarga do que a morte, porque é uma armadilha, o 
seu coração é uma rede e os seus braços são cadeias. Quem agrada a 
Deus conseguirá fugir dela, mas o pecador será apanhado por ela. 
(Ecl 7,25-26)
Também tu, Coélet? Também tu te manifestas tão machista, esquecendo-te 
completamente que andaste nove meses no ventre de uma mulher, a tua 
mãe? Certamente, tiveste alguma paixão totalmente frustrada ou… 
eras do “outro” grupo! É que te esqueceste do prazer que é fazer amor, 
para além do comer e do beber que atrás apregoaste! Que pena! Aqui 
até o “nosso” comentador teve de desabafar: “A observação sobre a 
mulher é típica de uma sociedade patriarcal machista.” E nós de perguntar: 
“Não é Coélet um autor sagrado? Como pôde Deus inspirar tal 
machismo?” - perdoe-se-nos a pergunta eivada de total ironia…
- E o machismo mesquinho e parcial persiste: “Pesquisei e (…) entre mil 
consegui encontrar um homem, mas entre as mulheres não encontrei 
nenhuma.” (Ecl 7,28) Simplesmente intolerável!
- “Ninguém é capaz de dominar a sua própria respiração (…)” (Ecl 8,8)
Tal como não dominamos o bater do nosso coração, o nosso metabolismo, 
o nosso reproduzir de células, o nosso caminhar para a degradação. Tudo 
está dentro e tão fora de nós!… É a dependência total ou quase do 
desconhecido. Afinal, quão pouca é a nossa propalada liberdade!
- “O pecador sobrevive mesmo que cometa cem vezes o mal (…). Não 
haverá nenhuma felicidade para o injusto (…) porque não teme a Deus.” 
(Ecl 8,12-13)
É, pelo menos, contraditório. E, olhando à nossa volta, totalmente falso!
- “ (…) Eu exalto a alegria porque não existe felicidade para o Homem 
debaixo do Sol, além de comer, beber e alegrar-se.” (Ecl 8,15)
Continua contradizendo-se com o dito anteriormente e… a insistir 
no prazer dos sentidos. É a total desconfiança de que a eternidade exista! 
Uma decepção divina!
- “O mal que existe em tudo o que se faz debaixo do Sol é o facto de todos 
terem o mesmo destino.” (Ecl 9,3)
Realmente, se todos temos o mesmo destino, porquê ser justo, sábio, bom, 
sensato? Mas serão estas palavras de inspiração divina? Até para se viver 
melhor esta vida - que é a certa! – é bom ser-se bom, justo, sábio, sensato, 
não é?!…
- “ (…) Os mortos (…) o seu amor, ódio e ciúme desaparecerá com eles.” 
(Ecl 9,6).
 Desaparecerá? Sem certezas do Além, obviamente que sim.
- “Portanto, vai, come o teu pão com alegria e bebe o teu vinho com 
satisfação (…) Goza a vida com a esposa que amas (…) Tudo o que 
puderes fazer, fá-lo enquanto tens forças (…)” (Ecl 9,7-10)
Interessante: também, pela mesma época, em Atenas, Epicuro diria o mesmo. 
A diferença é que o apelo aqui é o dos sentidos mas… dentro da 
sensatez, não enveredando por desregramentos… E aquela “esposa que 
amas” será, certamente uma mulher “aproveitável” em mil!
- “Doce é a luz e agradável para os olhos ver o Sol (…). Jovem, alegra-te (…) 
sê feliz (…); segue os impulsos do teu coração e os desejos dos olhos (…). 
Expulsa a melancolia do teu coração (…) Lembra-te do teu Criador (…) antes 
que cheguem os anos em que dirás: «Já não sinto prazer em nada. (…)» É 
porque o Homem já está a caminho da sua morada eterna (…) Então, o pó 
volta para a terra de onde veio e o sopro da vida retorna para Deus que o 
concedeu.” (Ecl 11,7-10 e 12,1-7).

É o convite final ao fruir da vida até ao limite. Tal como nós pensamos. 
Que somos pó, já o sabemos. Que a vida vem de Deus e para Ele 
voltará, já é… mistério! Mas… que poderíamos dizer, terminando, desta 
filosofia de vida tão… tão realista, em que Deus tem um papel quase 
irrelevante, a eternidade praticamente não existe e a vida se resume ao 
comer, beber e… ser feliz, em suma, ao todo-poderoso PRAZER? Ah, 
como é bom SORRIR, ao terminar a leitura deste belo livro certamente 
inspirado, não por Deus, mas pelo realismo da VIDA humana!

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 97/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS 

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 4/5

- “(…) Um Homem sozinho (…) não deixa de se afadigar, nem de se 
fartar com riquezas. Para quem se afadiga ele e se priva da felicidade?” 
(Ecl 4,8)
Que felicidade? Estará ela no “dolce fare niente” ou na realização do 
Homem pelo trabalho? (cf. Ecl 3,22)
- “ (…) Quando fizeres uma promessa a Deus, não tardes em cumpri-la, 
porque Ele não é benévolo para com os insensatos. Cumpre o que 
prometeste. É melhor não fazer uma promessa do que fazê-la e não 
cumpri-la. (…) Deus ficaria irritado (…) e arruinaria o trabalho das tuas 
mãos (…). Teme a Deus!” (Ecl 5,3-6)
O que é realmente prometer a Deus? 
Sempre as religiões apoiaram – incentivaram! - as promessas dos crentes. 
Quer em dádivas materiais ao Templo, quer em doações corporais e 
sofrimentos físicos. Mas, terão algum sentido as promessas se não forem 
apenas o propósito de melhorar a nossa forma de vida? Então, não prometas 
a Deus! Promete a ti mesmo ou a ti mesma e mesmo que não cumpras 
toda a tua promessa, ao menos ficou o desejo e o esforço de sempre 
caminhar para a… perfeição! E ainda: Deus não ser benévolo, ficar irritado 
e vingar-se arruinando o trabalho das minhas mãos, é de um fraco Deus, 
na linha de autores anteriores que nunca souberam desumanizar o 
Deus apregoado como único e verdadeiro… Aqui, Coélet manifestou 
pouca inspiração, quer humana quer divina.
- “Quem gosta de dinheiro nunca se sacia de dinheiro (…) Que vantagem 
tem o proprietário além de saber que é rico? Com muito ou com pouco, 
o sono do trabalhador é agradável enquanto a fartura do rico não o deixa 
dormir.” (Ecl 5,9-11)
Não há dúvida: para uma pessoa inteligente, valerá bem mais um sono 
agradável do que um dormir apoquentado! Afinal, o rico pouco mais tem 
do que o prazer de saber-se rico e ser superior aos seus semelhantes. Ai 
o prazer! Parece ser o objectivo último e primeiro do Homem. Tanto 
na Terra como no céu! Mesmo o sofrimento apregoado por Cristo e pelos 
santos não tinha - não tem! - como único objectivo alcançar o prazer eterno 
do estar face a face com Deus? Todas estas verdades não nos deixam senão 
ficar perplexos. Perplexos perante a vida, mas mais ainda perante o 
Além-vida onde não conseguimos descortinar senão mistérios! Mas a vida 
é para ser vivida em festa. Então, valha-nos o sorriso, enquanto há vida, pois 
a eternidade desconhecida pode bem esperar…
- “(...) O rico (…) nu saiu do ventre de sua mãe e assim voltará; e das suas 
fadigas não ganhará nada para levar consigo (…) Que proveito tirou em 
se ter afadigado por nada? (…) Consumiu os seus dias entre aflições, 
abatimentos e irritações.” (Ecl 5,14-16)
Verdades repetidas…
- “Concluí que a felicidade para o Homem é comer e beber, usufruindo de 
toda a fadiga que ele realiza debaixo do Sol, durante os dias de vida que 
Deus lhe concede. Essa é a sua porção.” (Ecl 5,17)
Continua repetindo-se, embora seja a verdade. E diz o “nosso” comentador: 
“Repete-se aqui o pensamento-chave do autor. (…) Vivendo na alegria 
do momento presente, a pessoa descobre que a eternidade - experiência de 
Deus e da vida - não consiste em viver muito, mas sim em viver 
intensamente cada momento, sendo a felicidade sempre limitada e parcial.” 
(ibidem) Estranho! Então, a eternidade é “viver intensamente cada 
momento”? A que conclusões isso nos levaria, Santo Deus! Depois, a 
apologia do satisfazer os sentidos - “comer e beber” - esquece tão 
facilmente que somos também alma! E deixa por resolver o nosso desejo da 
eternidade que está para além do Tempo. E ignora que também há a 
felicidade em dar sem se receber, a felicidade de ver os outros felizes! 
Realmente muito materialista era este “nosso” Coélet! Mas, sem dúvida, 
simpático, realista, humano, não vendo nada para além do tempo… Tal como 
nós que da eternidade nenhuma certeza temos!
- “Que vantagem tem o sábio a mais que o insensato? Que vantagem tem o 
pobre em saber portar-se bem na sociedade?” (Ecl 6,8)
Como já antes se disse, ambos têm o mesmo destino: a morte, o pó e nada 
mais! A eternidade é… fantasia! O convite à revolta do pobre contra o rico 
é evidente. Implícita fica a exigência de que o Homem seja capaz de 
construir a Fraternidade Universal, onde cada um receba e viva conforme 
o seu desempenho.
- “Quem sabe o que convém ao Homem durante a vida (…) na qual ele 
passa como sombra? Quem poderá dizer ao Homem o que vai acontecer 
depois dele, debaixo do Sol?” (Ecl 6,12)

E, sobretudo, quem dirá ao Homem o que lhe vai acontecer depois da morte? 
Para um crítico racionalista, a resposta será: NINGUÉM!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 96/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 3/5

- “Debaixo do céu, há momentos para tudo (…): para nascer (…), morrer (…),
 plantar e arrancar (…), matar e curar (…), destruir e construir (…), chorar 
e rir (…), gemer e bailar (…), atirar e apanhar pedras (…), abraçar e 
separar-se (…), ganhar e perder (…), guardar e deitar fora (…), rasgar e 
coser (…), calar e falar (…), amar e odiar (…), guerra e paz.” (Ecl 3,1-8)
Rol de contrários interessante e real mas pouco inovador…
- “ (…) Deus (…) colocou o senso da eternidade no coração do Homem 
mas sem que o Homem possa compreender (…) Então, compreendi 
que não existe para o Homem nada melhor do que alegrar-se e agir bem 
durante a vida.” (Ecl 3,10-12)
De acordo, caro Coélet! Tal como no teu tempo, há cerca de dois mil e 
quinhentos anos depois, realmente não se entende isto de o Homem 
ter desejos de ser eterno e de se continuar, de algum modo, em outra vida 
após a morte. É que é tão insensato para quem conhece a realidade 
implacável que se aplica a quem pertence ao tempo: aparecer num dado 
momento e noutro, inexoravelmente, se acabar e se integrar no “donde 
veio” sem deixar qualquer rasto da sua individualidade! Enfim, tal como 
para ti, resta-nos a alegria de estar vivos. Por enquanto…
- “Compreendi que tudo o que Deus fez dura para sempre (…). O que 
existe já existia; o que existirá também já existiu (…). Deus fez assim 
para ser temido (…) “ (Ecl 3,14-15)
É! Se a criação é eterna e se só Deus é eterno, a criação – onde nós 
nos inserimos – será o próprio Deus manifestando-se, no TODO que 
roda, passando do mesmo ao mesmo através do diverso, nada se 
perdendo, tudo se transformando! Ou abusarei da lógica do 
raciocínio? Só não se vê que “interesse” tem Deus em ser temido. 
Vendo bem, nós somos partículas dele!
- “Em lugar do direito, encontra-se a injustiça e em lugar do justo, o 
injusto.” (Ecl 3,16)
 Infelizmente, é o que continua acontecendo nas sociedades actuais. 
Só quando o Homem conseguir criar a Fraternidade Universal, será 
o inverso…
- “De facto, o destino do Homem e do animal são idênticos: (…) vêm 
do pó e voltam para o pó. Quem pode saber se o sopro vital do 
Homem sobe para o alto e o do animal desce para debaixo da terra? 
Percebo que não há nada melhor para o Homem do que alegrar-se 
com as suas obras (…) De facto, ninguém lhe fará ver o que 
acontecerá depois dele.” (Ecl 3,19-22)
A pura verdade! E lá se vai o nosso gostinho de eternidade… É que 
nem Jesus Cristo, três séculos mais tarde, com todo o seu carisma de 
suposto Filho de Deus, apregoando tal prerrogativa com a força dos 
inúmeros supostos milagres, conseguiu dar-nos provas irrefutáveis 
a nós seres racionais, de que o Além realmente existe e que a nossa 
única preocupação nesta vida terrena, deveria ser preparar, como 
Ele nos ensinou, a… ETERNA! Assim, ficamos destroçados como 
Coélet, sem certeza alguma de que não nos acontecerá exactamente 
como aos animais: “tudo” o que nós fomos, somos, seremos, 
tudo para debaixo da terra… sem contemplações… sem recordações… 
Esta é a certeza absoluta que temos, porque bem vivida, bem 
sentida desde que o Homem se sente como ser pensante e enterra 
os seus mortos. Só teríamos certezas se os mortos falassem e se, 
acaso estivessem na eternidade, Céu ou Inferno que fosse, viessem cá 
dizer-nos o que por lá se passa. Mas… nada! Assim, o Além é o total 
desconhecido. O que temos são meras tentativas de explicação de 
alguns espíritos ditos iluminados que só convencem os crentes 
acríticos. Mesmo Jesus, a quem chamaram de Cristo, com as suas 
palavras de suposta vida eterna, não nos merece qualquer 
credibilidade. A pena é muita! Resta-nos o SORRISO!
- “ (…) Há o choro dos oprimidos e não há quem os console (…) 
Então, proclamei os mortos (…) mais felizes do que os vivos (…) 
Mais feliz que ambos é quem não nasceu ainda (…)” (Ecl 4,1-3)
 É, sem dúvida, pessimismo a mais! Inexplicável! Que “Deus” inspirou 
este Coélet? O dom da vida - dádiva de Deus ou do Destino - só é 
dado a quem se actualiza nas infinidades de hipóteses de ser que 
ficam por realizar. Um privilégio! Uma dádiva totalmente gratuita que 
temos de fazer por merecê-la! Então, digamos todos os dias: 
“Bendito seja quem me permitiu ter vida! Bendito o Sol que me aquece 
corpo e alma, bendita toda a beleza que os meus olhos vêem, 
benditos os prazeres que os sentidos me oferecem!” Que bom ter vindo 
à VIDA! No entanto, há os que vivem sem consolação, na privação, no 
contínuo sofrimento. E, quando a dor é muita, a vontade é de acabar 
logo ali com a luz dos dias e amaldiçoar o dia em que se nasceu! 
Acaso, na desgraça, haverá sempre uma luz ao fundo do túnel, uma 
esperança em cada manhã, uma janela que ao longe se abre, 
conseguindo-se assim afastar lúgubres pensamentos? De qualquer 
modo, há que pensar: só porque temos vida, conseguimos tais 
pensamentos e, enquanto há vida, há esperança…
- “ (…) Todo o empenho que o Homem põe nas suas obras é fruto de 
competição recíproca (…) (Ecl 4,4).

Se já no seu tempo era assim, que diria Coélet, se pudesse voltar à 
vida nos tempos de hoje? Morreria de susto, ao ver a competição 
desenfreada que corre entre indivíduos e nações, competição que 
se, por um lado, leva à descoberta e ao desenvolvimento, por outro, 
impede qualquer tentativa de criação da desejada Fraternidade Universal, 
do Oriente ao Ocidente, de Norte a Sul da Terra!