segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 118/?


À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 10/15


- “ (…) Quem procura enriquecer age sem escrúpulos.” (Eclo 27,1)
- Verdade! Tanto há dois mil e duzentos anos como nos nossos dias…
- “Quando se agita a peneira, ficam os restos e quando a pessoa 
discute, aparecem os seus defeitos. (…) Quem cava um buraco, 
nele cairá; quem prepara uma armadilha ficará preso nela.” 
(Eclo 27,4 e 26)
- É mais uma recolha de provérbios antigos. Certos, claro! Mas 
nada têm a ver com a suposta inspiração divina do texto…
- “Perdoa ao teu próximo o mal que te fez e (…) Deus te perdoará os 
pecados que tiveres cometido.” (Eclo 28,2)
- Faz lembrar o “Pai Nosso” de Jesus Cristo. Mas porque é que os 
judeus não seguiram este conselho do Livro Sagrado e 
continuaram - continuam! - com o “Olho por olho, dente por dente”, 
a lei de Talião?
- “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar. Lembra-te da corrupção 
e da morte e persevera nos mandamentos.” (Eclo 28,6)
- O pensamento da morte deveria repor tantas coisas na vida!… 
Mas não: após a vivência, mais ou menos traumática, de vermos 
um ser vivo “partir”, continuamos agarrados às nossas pequenas 
coisas e às nossas birrinhas, sem vermos mais além que o espaço do 
nosso umbigo. E a vida esvai-se-nos por entre os dedos… Depois, 
um ser humano “inteiro” deveria cumprir as leis, os mandamentos, 
com a alegria do dever cumprido e não com o medo do castigo da 
corrupção e da morte, o perene temor de Deus…
- “ (…) O homem raivoso atiça a briga (…) Se sopras uma fagulha, 
ela inflama-se e se lhe cospes em cima, ela apaga-se. Nota bem que 
as duas coisas saem da mesma boca.” (Eclo 28,8-12)
- Não há dúvida! E mais máximas ou constatações se seguem em 
Eclo 28, sobre a força e o perigo da palavra; em Eclo 29, sobre o 
emprestar e o não emprestar, o aprender a partilhar, o arriscar-se 
pelo próximo, a dignidade e a humildade no viver; em Eclo 30, o 
educar com bom senso, a saúde e a riqueza, a alegria de viver; 
em Eclo 31, os inconvenientes da riqueza e o comportamento num 
banquete. Tudo pertencente ao domínio do bom senso ou a um código 
de boas maneiras. Mais nada…
- “A língua intrometida (…) destrói cidades fortes (…) Empresta 
ao próximo quando ele tiver necessidade e devolve ao próximo no 
tempo combinado. (…) Ajuda o teu próximo conforme as tuas 
posses, mas tem cuidado não te arruínes tu também. (…) É melhor 
viver vida de pobre numa barraca do que banquetear-se em casa 
alheia. (…) Quem ama o próprio filho castiga-o com frequência, para 
no fim se alegrar. (…) Quem mima o próprio filho, depois terá que lhe 
curar as feridas. (…) Dá muito mimo ao teu filho e ele far-te-á surpresas 
desagradáveis (…) É melhor um pobre robusto e sadio do que um rico 
cheio de doenças. (…)” (Eclo 28,14; 29;30)
- Mais uma vez, velhos provérbios, sabedoria eterna! A humanidade a 
revelar-se… E Deus, onde se encontra?!
- “É melhor a morte do que uma vida amargurada e o descanso eterno 
vale mais do que uma doença crónica. (…) De que serve oferecer frutos 
ao ídolo? Ele não come nem tem olfacto. Assim é aquele que é 
perseguido pelo Senhor: observa e suspira como um eunuco abraçado 
a uma jovem.” (Eclo 30,17-20)
- É a apologia da eutanásia? Deliciosa, deliciosa é a comparação com o 
eunuco a suspirar abraçado a uma donzela! Leva ao sorriso maroto…


domingo, 18 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS! É NATAL!


Comemoramos, segundo a Igreja, o nascimento do Menino Jesus, filho da Virgem Maria, Virgem por ter sido fecundada pelo Espírito santo e, por isso, o menino é Filho de Deus.
Toda a história é narrada pelo evangelista Lucas – e, estranhamente, só por Lucas! – e conta-se em poucas palavras: “A caminho de Belém, a Virgem, por não haver lugar na estalagem, deu à luz um menino, numa gruta, e apareceram anjos cantando no céu e pastores trazendo presentes; mais tarde, guiados por uma estrela, viriam, também com presentes, os reis magos. Regressados a Nazaré, talvez dois anos depois, dá-se a fuga para o Egipto, para escapar à suposta ordem de Herodes de mandar matar todas as crianças de até dois anos. Aos 12 anos, Jesus apresenta-se no Templo perante os doutores. Aos 30, começa a sua pregação de um Novo Reino, pregação da qual dão conta os quatro evangelistas, recheando-a de milagres.”
Fixemo-nos apenas no Natal. Afinal, como é que tudo começou? Eis uma hipótese totalmente plausível:
Lucas era médico de Paulo. Ora, Paulo, o grande iniciador/obreiro/fundador do cristianismo, deu-se conta de que teria de apresentar o Jesus que ele queria divinizar, com uma origem que se assemelhasse às origens/nascimentos dos deuses antigos, sobretudo egípcios, os deuses solares, também eles nascidos de virgens, também eles perseguidos, também os seus nascimentos acompanhados de cânticos celestiais. E terá encarregado Lucas de tal missão. O resultado aí está. Bonito! Comovente! Depois, a Tradição – a poderosa Tradição que serviu para fundamentar muitas das crenças actuais – encarregou-se de criar, à volta desta narrativa, todo um conjunto de cenários românticos, pastoris, celestiais, revelados nas inúmeras canções, nas inúmeras pinturas e esculturas, culminando na invenção do presépio por S. Francisco De Assis, em 1223, mas continuados pelos pintores e escultores renascentistas e modernistas, até aos nossos dias.


Pergunta-se, então, onde está a verdade do Natal. E a resposta, intelectualmente honesta, só pode ser uma: O Natal não existiu! Foi uma bonita invenção, uma efabulação, uma cópia romanceada que Lucas fez das histórias antigas sobre o nascimento dos deuses solares.
E, se quisermos continuar a ser intelectualmente honestos, temos de concluir que: 1 – Maria não foi virgem nem fecundada pelo Espírito Santo (Existe esta terceira pessoa de uma suposta trindade divina, trindade também imitando outras antigas? Onde as provas credíveis?). 2 – Não houve nem reis magos, nem pastores, nem coros de anjos cantando nos céus. 3 – O nascimento de Jesus não foi a 25 de Dezembro, mas provavelmente na Primavera, tempo em que já há pastores a dormir ao relento: foi colocado pela Igreja nesta data para substituir a celebração pagã dos deuses solares que renasciam no solstício do Inverno. 4 – Enfim – e o mais importante – o Menino Jesus não é o Menino-Deus ou o Filho de Deus (a 2ª pessoa da tal suposta trindade divina) simplesmente porque Deus não pode ter um Filho; é que, se o tivesse, deixava de ser Deus: O TODO ONDE TUDO SE INTEGRA, TEMPO E ESPAÇO, ENERGIA E MATÉRIA, SENDO, POR ISSO, INFINITO E ETERNO.
Mas… é NATAL! Há presépios dentro e fora das igrejas! Há cânticos, lindos cânticos, ecoando pelos ares! Há luzes, muitas luzes, mais nas ruas que em obscuros recônditos de oração! Há árvores de Natal que nada têm a ver com o evangelho de Lucas! Há pais-natais que o comércio inventou para vender prendas, muitas prendas, prendas que damos a familiares e amigos, muitas vezes mais por dever do que por devoção ou querer… (Talvez daí, a reacção de muitos, dizendo que “É Natal sempre que o Homem quiser!”) Há movimentos de solidariedade que são sempre bem-vindos, sobretudo para os mais pobres… E tudo isso é bom, muito bom!
Então, inteligentes, gozemos tanta beleza que nos inebria os sentidos, desde o olfato, ao gosto, ao ouvido, aos olhos que ficam estonteados com tanta luz que ilumina a noite! Comamos e bebamos, cantemos e dancemos, demos beijos e abraços e prendas! Mesmo que sejam cantigas que não contam senão lenda e fantasia. É que são melodiosas, lindas, cheias de ritmo e de encanto: o Adeste Fideles (Apressai-vos, ó fiéis), do nosso rei D. João IV, o Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas), o Alegres, correi pastorinhos, o Alegrem-se os céus e a Terra, O Menino está dormindo, o inglês Jingle bells (Tocam os sinos) ou o alemão O tannenbaum (Ó pinheirinho de Natal). Estas e muitas mais. Afinal, é festa! E a vida é para se viver em festa!
Por isso,

BOAS FESTAS NATALÍCIAS E UM ANO NOVO EM QUE CADA UM SAIBA SER FELIZ E, SOLIDARIAMENTE, DEIXE OS OUTROS SEREM FELIZES!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 117/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 9/15

- “ (…) O homem que trai o leito matrimonial (…) será castigado 
na praça da cidade (…). O mesmo acontece à mulher que 
abandona o marido.” (Eclo 23,18-22)
- Estranha esta evolução! O mesmo castigo para o homem 
e para a mulher?! Simplesmente inacreditável ou… 
contraditório com tantas outras sentenças discriminatórias 
da mulher. Que dizer, por exemplo, de Eclo 42,9-14: 
“É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher: 
a mulher causa vergonha e chega a expor ao insulto.”?
- “(…) Nada é melhor que o temor do Senhor e nada é 
mais doce do que observar os seus mandamentos.” (Eclo23,7)
- Que relação haverá entre temer a Deus e amar a Deus? 
E que doçura haverá em observar os mandamentos se, como 
se lamentam Job e Coélet, na hora da morte, todos temos o 
mesmo destino, os que observaram e os que não observaram: 
o… pó? E quais são realmente os mandamentos de Deus? Os 
dez mandamentos mosaicos copiados dos ancestrais 
mesopotâmicos?
- “Vinde a mim todos os que me desejais e ficai saciados com 
os meus frutos (…). Possuir-me é mais doce do que o favo de 
mel.” - diz a sabedoria (Eclo 24,18-19)
- E diz o “nosso” comentador: “A sabedoria é a Lei (…) Com 
a sabedoria contida no Pentateuco, os Homens são capazes de 
transformar a terra árida em paraíso fértil, segundo o 
simbolismo cósmico dos rios que correm no Paraíso.” (ibidem) 
Mas isto é misturar o terreno e o divino e não saber realmente 
o que é o paraíso. Se na Terra, se no céu! Então, são afirmações 
que não passam de poesia…
- “Nenhuma ferida é como a do coração e maldade nenhuma 
é como a da mulher! (…) Prefiro morar com um leão ou um 
dragão do que morar com uma mulher maldosa. (…) 
Qualquer maldade é leve, comparada com a maldade da mulher; 
caia sobre ela a sorte dos pecadores! (…) Não te deixes 
prender pela beleza de uma mulher, nem te apaixones por ela. 
Motivo de irritação, desprezo e grande vergonha é a mulher 
sustentar o marido. (…) Coração abatido, rosto triste e coração 
ferido é obra da mulher má. (…) Foi pela mulher que começou 
o pecado e é por culpa dela que todos morremos (…) Feliz o 
marido que tem uma mulher virtuosa; a duração da sua vida 
será o dobro. (…) Uma boa mulher é uma sorte grande que será 
dada aos que temem o Senhor (…) Mulher má é como um jugo 
mal ajeitado e querer dominá-la é como pegar num escorpião. (…) 
Reforça a vigilância sobre a filha impetuosa (…) Cuidado com 
os seus olhos desavergonhados (…) Como viajante sedento, ela 
abre a boca e bebe qualquer água que encontra (…) Mulher 
graciosa alegra o marido (…) Mulher discreta é dom do Senhor (…) 
Mulher modesta duplica o seu encanto (…) Como o Sol que 
se levanta sobre as montanhas do Senhor, assim é a beleza da 
mulher na sua casa bem arrumada. Como lâmpada que brilha no 
candelabro sagrado, tal é a beleza do rosto num corpo bem acabado. 
Colunas de ouro sobre bases de prata, assim são as belas pernas 
sobre sólidos pés.” (Eclo 25,12-24; 26,1-18)



Não há dúvida: 
A mulher foi, até hoje, a mais bela concepção de ser vivo, elaborada na Natureza!
Mas... que se esconderá por detrás de tão belo rosto? Um coração de oiro...?

- Desculpando-se a longa citação, pela sua importância, temos de 
referir que a confusão é muita! Não se consegue distinguir entre 
mulher e mulher má. Os elogios à mulher boa e virtuosa não 
apagam o virulento antifeminismo a propósito da outra, embora 
se digam por ali algumas verdades… A estultícia é total, 
obedecendo, aliás, à tradição bíblica inscrita no Génesis, na 
afirmação de que “Foi pela mulher que começou o pecado e é 
por culpa dela que todos morremos.”! Chocado, também o “nosso” 
comentador tem de afirmar: “Esta descrição da mulher reflecte, 
de forma acentuada, os preconceitos da sociedade patriarcal: 
o único lugar para a mulher era o matrimónio.” (ibidem) E 
poderíamos nós acrescentar: “para servir e agradar ao marido.”! 
Enfim, mais uma vez tem cabimento a pergunta: “Como pode 
tal concepção da mulher ser de inspiração divina”? Ou estoutra: 
“Como pode Deus deixar-se levar pelos conceitos da sociedade 
patriarcal daquele tempo”?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO


No dia 8 de Dezembro, celebra-se a festa da Imaculada Conceição de Maria. O dogma, i.é., a afirmação de que Maria, mãe de Jesus, foi concebida sem pecado original, sentença a ter de ser obrigatoriamente aceite por todo o mundo católico, sob pena de excomunhão, foi proclamado pelo Papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854.
Ora, isto merece-nos algumas considerações:
1 - O dogma foi proferido pela papa, na sua qualidade de “vox infalibilis” (voz infalível), também baseada noutro dogma que, ao tempo estava na forja, o da infalibilidade do papa quando fala “ex-catedra”, supondo-se que esteja sob a acção e inspiração do Espírito Santo, dogma mais tarde publicado pelo mesmo papa, em 1870. Obviamente, a infalibilidade do papa não existe: ele é falível como qualquer humano; e este é o primeiro dogma a ser um total non-sense. O dogma da Imaculada Conceição é outro non-sense, e ainda mais non-sense que o anterior, pois teria que se provar primeiro que houve realmente um pecado original que seria transmitido de geração em geração com os genes dos pais, para que alguém fosse concebido sem ele. O suposto pecado original – eivado de anti-feminismo – foi o cometido por Adão e Eva no paraíso, quando esta deu a comer àquele a maçã proibida. Tal suposto facto de tal suposto pecado, levou a um repúdio ancestral da mulher, a um machismo inveterado, tanto na Bíblia, como posteriormente em práticas medievais, algumas perdurando até aos nossos dias. Além disso, o espermatozóide e o óvulo da união dos quais resultou Maria teriam de já não estar afectados por tal pecado, e não sabemos como é que foram purificados… Logo, tudo não passará de pura invenção fantasista, em épocas medievais, por Maria vir a ser a mãe do filho e Deus, o que, do ponto de vista religioso, até se afigura lógico: como é que uma mulher impura poderia ser mãe de Deus?



2 – Assim, com todo o carinho e respeito que tenho por todas as mães do mundo, obviamente também por Maria, mãe de Jesus, tenho de concluir que, no dia 8, vamos festejar uma inverdade, ou uma falsidade baseada em várias falsidades.
3 – Obviamente, não existiu nenhum pecado original. Aliás, é completamente descabida a ideia de que, pelo facto de Adão e Eva terem pecado, todos os seus descendentes teriam a mesma marca de pecado. Tal ideia coube na cabeça de Paulo e, mais tarde, na de -obtusos medievais que, no entanto, a impuseram à Igreja e esta, até hoje, continua a ensiná-la às crianças na catequese. Uma perversidade e uma desonestidade intelectual! Então, não sabem que não houve nem Adão nem Eva e que o Homem apareceu pela evolução das espécies, como provou Darwin? Se sabem, porque continuam a pregar e ensinar uma total inverdade, baseada num criacionismo romântico, tudo se passando num paraíso inexistente? É que nem pela Fé se consegue explicar tal atitude.
4 – Com a saga da Missão atribuída a Jesus, filho de Maria, de salvar a humanidade e de redimi-la do tal suposto pecado original, deturpando aliás as palavras de Paulo, Rom 5-12 “da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos pecaram.”, chegou-se a afirmar que “Se por uma mulher veio o pecado ao mundo, por outra – Maria – veio a salvação que é Jesus. O Redentor”, Jesus a quem, sem qualquer fundamento credível, chamaram de Cristo, o Ungido de Deus, o seu próprio Filho. Uma efabulação fantástica, mas óptima para fundamento de uma religião que emergia no seio das diversas seitas judaicas da época e bem aproveitada por Paulo, o grande impulsionador dessa mesma religião.
5 – O dogma da Imaculada Conceição está conluiado com o dogma da Virgindade de Maria, Maria que teve vários filhos além de Jesus. Jesus teria sido concebido por obra e graça do Divino Espírito Santo, como a Igreja continua a ensinar na catequese. Como? – Mistério divino ou… mais uma fantasia imposta aos crentes como verdade!
Conclusão: se a Fé não pode explicar tudo, também não deve aceitar tudo. Tem de haver um pouco de razoabilidade e de humanidade: o Homem, por ser crente, não pode ser enganado com fantasias que alguns conjecturaram, ao longo dos tempos.
No entanto…
BOAS FESTAS! Qualquer festa é boa pois a vida é para se viver em FESTA, SORRINDO!