sábado, 28 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 123/?


À procura da VERDADE nos livros Sapienciais – 123/?


O ECLESIÁSTICO – 15/15

- Estamos aproximando-nos do fim da análise de mais um livro 
bíblico.
Antes de terminar o seu livro, Ben Sirá olha à sua volta e para 
o céu e tece um hino à grandeza de Deus que se manifesta na 
Natureza e no firmamento, concluindo: “Ele é tudo”. 
(Eclo 42; 43,27) Depois, recorda a História, evocando mais de 
três dezenas de antepassados hebreus, entre os quais, Noé, 
Abraão, Isaac e Jacob, Moisés, Josué, Samuel, David, Salomão 
(Eclo 44-50). Pura História que apenas interessará ao povo judeu! 
Fazem ainda parte do livro, um apêndice com dois textos 
acrescentados ao livro, para o encerrar com o tema do 
agradecimento e o da procura da Sabedoria. Estes acrescentos ao 
original revelam, no mínimo, a inspiração instável da divindade…

Causando alguma perplexidade a expressão “Ele é tudo”, 
expressão que pode apontar para um panteísmo natural, onde Deus 
estaria presente em tudo e em toda a parte, tudo sendo partículas 
dele…, apressa-se o “nosso” comentador a dizer: “ (…) Não 
em leitura panteísta, mas na sua transcendência, estando acima de 
tudo e sendo o Senhor de tudo, Senhor que nunca ninguém viu 
(cf Ex 33,20; Jo 1,18; 1Jo 4,12). De todos os seres, o Homem é o 
único que pode tomar consciência de Deus, que é o mistério supremo 
escondido por trás de todos os outros mistérios. Paulo dirá que o 
sentido último da vida é louvar a Deus (cf Ef 1,5-6).” (ibidem)

Embora compreendendo o “nosso” comentador, já que está 
hipotecado à doutrina da Igreja, tendo os exegetas cristãos de 
encontrar explicações para tudo o que a Bíblia diz, dentro dos 
cânones estabelecidos…, não vemos que falta de lógica haverá em 
considerar que tudo seja Deus, já que, por ser Infinito, tudo está 
nele, tudo faz parte dele, sendo Ele mesmo o TODO EXISTENTE! 
Não é muito melhor concepção do que considerar Deus um ser 
invisível, misterioso, da fé? Porque não somos nós partículas 
do TODO que é Deus, um TODO visível e invisível, temporal, 
para as coisas que têm tempo ou vivem no tempo, eterno para as 
realidades desconhecidas que estão fora do tempo, e infinito para o 
espaço que só o é por uma relação entre uma coisa e outra? Acaso, 
poderemos algum dia, conhecer os limites do Universo? E 
mesmo que os conhecêssemos, outra pergunta permaneceria 
exactamente como hoje: “O que há para além dos limites?” 
Ora, repugna à nossa inteligência dedutiva que haja dois infinitos: 
um o Universo, outro Deus. Aliás, imaginemos uma linha recta 
que passe diante de nós. Acaso conseguimos ver-lhe o princípio 
ou o fim? Dizemos, por isso, que é mistério ou dizemos que é infinita? 
Ora, se é infinita, pertence ao único infinito possível de existir e 
a quem podemos chamar, com toda a propriedade, DEUS!

Finalmente, e pondo em causa a autoridade de Paulo – realmente, o 
grande criador do cristianismo – perguntamos o que é isso de 
“o sentido último da vida ser louvar a Deus”. Deus precisa de ser 
louvado? Deus quer ser louvado? “Precisar”, “querer” não são verbos 
puramente humanos? Põe-se sempre a mesma questão de definirmos 
Deus. O cristianismo definiu-o como um Pai/Amor/Criador que se 
interessa pelos Homens e interfere na sua História; antropomorfizou 
Deus, atribuindo-lhe, à moda do Javé dos judeus, sentimentos, não 
de ódio e de vingança, como eram os daquele, mas de ternura, 
compaixão e amor. No entanto, tal definição, embora o torne um 
ser simpático que leva à emoção, não cabe na mente racional do 
Homem que pensa. Esse Deus nunca poderá ser o Deus Infinito e 
Eterno, mas – mais uma vez – um Deus criado à imagem e 
semelhança do Homem; logo, um Deus inexistente, tal como o 
Javé que supostamente inspirou a Bíblia – sendo pois a palavra 
de Deus! – que, afinal, iria ser corrigida por Jesus, o seu suposto filho…, 
já não falando na Bíblia do NT, interpretada, acrescentada, adulterada 
pelos padres dos primeiros três séculos, a começar pelos evangelistas.

Diríamos mesmo que inventar um Deus-Pai-Amor, Criador do 
Homem e que interfere na sua História, é amesquinhar a ideia de 
Deus: ser infinito e eterno que, forçosamente, tem de estar fora desta 
mesquinhez em que o tornaram. É nitidamente uma concepção 
medieval, revelando completa ignorância do que é a realidade Terra, 
dentro da realidade Universo. Agora, sabemos que o Homem não é 
mais que o elo de uma cadeia de vida que apareceu há c. de 3.500 
milhões de anos no planeta Terra, também ela pequena partícula 
perdida na imensidade do espaço onde pontuam milhões de galáxias, 
cada uma delas com biliões de estrelas semelhantes ao nosso Sol. 
Que presunção, santo Deus, querer um Deus a interessar-se por essa 
partícula absolutamente irrisória para o Universo/Espaço e Tempo! 
Enfim, tudo uma invenção trapalhona e bem humana que não merece 
qualquer credibilidade…

E acabámos a análise crítica de mais um livro que, apesar de algumas 
ideias interessantes, são ideias que não passam o campo puramente 
humano. A suposta inspiração divina esfumou-se na imaginação de 
quem o disse inspirado…

domingo, 22 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 122/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 14/15



- “Ó morte, como é amarga a tua lembrança para o Homem que vive 
tranquilo entre os seus bens (…) Tu, porém, não temas a sentença da 
morte. (…) Esta é a sentença do Senhor para todo o ser vivo (…) Quer 
vivas dez, cem ou mil anos, na mansão dos mortos ninguém discutirá 
sobre a vida. (…) Na hora da morte, (…) os injustos irão da 
maldição para a ruína (…) mas o bom nome permanece para sempre.” 
(Eclo 41,1-13)
- Que a morte é amarga para todo o ser vivo, sendo por um lado uma 
necessidade inerente ao acto de ter vindo à vida, num dado 
momento do Tempo, por outro, o interromper mais ou menos doloroso 
do instinto mais forte do ser vivo: preservar a mesma vida…, não há 
dúvida. Já a última afirmação parece-nos gratuita ou baseada na 
certeza da fé que, afinal, não é certeza nenhuma. Certo é que ficam 
votados ao esquecimento eterno tanto os injustos como os de “bom 
nome”. E, se alguma memória perdura, ela perdura tanto para os 
malvados como para os santos, tanto para os Hitlers como para as 
Madres Teresas de Calcutá!
- “Envergonha-te (…) por dirigires olhares para uma prostituta (…), 
por dirigires olhares cobiçosos para uma mulher casada (…), por 
ter relações sexuais com uma escrava (…). Não te envergonhes 
de discutir o preço com o comerciante, nem de corrigir os 
filhos com severidade, nem de ensanguentar as costas do escravo 
preguiçoso. Com a mulher curiosa é bom lacrar os documentos e 
usa a chave onde houver muitas mãos. Conta e pesa bem tudo o que 
deixares em depósito e anota por escrito tudo o que deres ou 
receberes (…)” (Eclo 41,22-24; 42,5-7)
- Tudo à… “judeu”! Sem ponta de divino! E perguntamos, com 
óbvia ironia: ocupar-se-ia Deus a dar/inspirar assim conselhos de 
tão comezinho viver do dia-a-dia, seja do senso comum, seja do 
trivial saber-viver? Depois, qualquer homem gosta de apreciar a 
beleza feminina, seja mulher solteira, casada ou prostituta. 
Confrange o desprezo manifestado em relação aos escravos. 
Aqui, foi certamente o diabo que inspirou o autor e não Deus! 
Nem falta o toque machista, no quotidiano desconfiar da 
curiosidade da mulher…
- “Uma filha é para o pai uma preocupação (…): se é virgem, receia 
que seja violada e fique grávida (…); se tem marido, receia (…) 
que seja estéril. Vigia bem a filha libertina para que não faça de ti 
objecto de zombaria dos inimigos, assunto da cidade, 
envergonhando-te diante de todos. Não te detenhas na beleza de um 
ser humano, nem te sentes no meio das mulheres, porque da roupa 
sai a traça e da mulher, a malícia feminina. É melhor a maldade 
do homem do que a bondade da mulher: a mulher causa vergonha 
e chega a expor ao insulto.” (Eclo 42,9-14)
- Tresloucou, de vez, o autor! Que mulher desculpará tais 
vexatórias afirmações a uma Bíblia dita sagrada? O autor – ou 
supostamente Deus através dele – atingiu o auge do absurdo! E 
diz o “nosso” comentador: “Os costumes fazem parte do contexto 
cultural e não perdoam. O autor cede à mentalidade antifeminista 
até ao paradoxo. Jesus veio corrigir muitas coisas. Descobrimos 
hoje que só integrando a dimensão feminina, a humanidade pode 
reencontrar a sua alma e a sua sensibilidade criadora.” (ibidem). 
Estas palavras sensatas em nada apaziguam a nossa revolta. 
Aliás, são próprias dos exegetas das suas religiões, neste caso, 
o cristianismo: tudo o que na Bíblia é absurdo ou totalmente 
inaceitável, desculpa-se com a cultura da época, esquecendo-se 
que antes afirmaram que “Toda a Bíblia é de inspiração 
divina”. Para nós uma parcialidade imperdoável! Depois, que 
dizer de uma Bíblia, inspirada por Deus, mas que tem de ser, mais 
tarde, corrigida por Jesus Cristo? E que religião é esta que só hoje 
descobre que a humanidade precisa da dimensão feminina para 
reencontrar a sua alma? E como é que a inspiração divina não 
se sobrepõe aos costumes que “não perdoam”?

A beleza de um ser humano é certamente a mais bem conseguida pela Natureza, no seu processo criativo. E a beleza do corpo é abrilhantada pela beleza da alma, obviamente quando esta cria arte, fraternidade, amor, equilíbrio no ser de que faz parte e nos seres que a rodeiam.



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 121/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais


O ECLESIÁSTICO – 13/15


- “Meu filho, derrama lágrimas pelo morto (…) Chora amargamente, 
bate no peito e observa o luto (…) para evitar os comentários do 
povo; e depois, consola-te da tristeza. Porque a tristeza leva à morte, 
e qualquer aflição do coração consome as forças. Na desgraça, a tristeza 
permanece e uma vida triste é insuportável. Não entregues o teu 
coração à tristeza, pensando no fim que terás. Não te esqueças: da 
morte, não há retorno. A tua tristeza em nada servirá ao morto e 
acabarás por te prejudicar. Lembra-te: a sorte dele será também a tua. 
Eu ontem e tu hoje. Quando o morto repousa, deixa de pensar nele. 
Consola-te porque o espírito dele já partiu.” (Eclo 38,16-23)
- Fantástico, simplesmente! Que realista este autor! Que “divina” 
comédia! Que delicioso aquele fingido chorar! Não se vislumbra é 
nada de eternidade ou… de divino, como sempre! Apenas, o aproveitar 
ao máximo esta vida que é a certa, no prazer e na alegria de viver, 
afastando-se a tristeza que consome vida, esta vida. A outra… 
Bem, não há dúvida: os mortos deveriam mesmo vir cá dizer o que se 
passa no Além. Ou Jesus Cristo, ou os santos ou os anjos ou um dos 
nossos próximos antepassados… Assim, acreditaríamos e 
“salvar-nos-íamos”. Cristo e o Pai teriam atingido facilmente os seus 
objectivos. Mas… ninguém vem! Ninguém! E nós aqui na angústia 
de querermos que houvesse realmente um céu ou até um inferno, 
alguma coisa para além da morte! Mas… parece que não há mesmo 
NADA. Um grandíssimo… NADA!
- “Aquele que está livre das actividades torna-se sábio. Como poderá 
tornar-se sábio aquele que maneja o arado e cuja glória consiste em 
manejar o ferrão (…) e só sabe falar de vitelos? (…) Entretanto, 
são eles que sustentam as necessidades básicas e a sua oração 
consiste em realizar o próprio trabalho.” (Eclo 38,24-34)
- Quem será mais sábio perante Deus: o sacerdote ou o lavrador? Porque 
não deixam os dignitários religiosos em paz, na sua “oração” sincera e 
telúrica, os que só sabem falar de vitelos, prometendo-lhes falsas 
verdades, a troco do dízimo com que se alimentam? É que, apesar de 
“não-sábios”, sentem na pele a doença inexplicável, o azar da má 
colheita, o vitelo que morre sem razão… E Deus é o único refúgio 
para tanta desgraça. Senão, para quem poderão apelar? As religiões 
terão nascido da nossa necessidade de um Deus realmente existente, 
realmente presente. Mas os gurus religiosos perverteram-nas, criando 
deuses impossíveis, porque feitos à sua imagem e semelhança. 
Por outro lado, se sentimos a necessidade de Deus, é lógico que 
Deus exista, não o/os das religiões, mas o ABSOLUTO, O TODO 
ONDE TUDO SE INTEGRA, ESPAÇO E TEMPO, TUDO SENDO 
PARTÍCULAS DELE, DO ÁTOMO AO UNIVERSO. E, quando 
dizemos “Meu Deus!”, é com esse ABSOLUTO que conversamos, 
é a ELE que rezamos…
- “Diferente é o caso do que se aplica a meditar a Lei do Altíssimo. 
(…) Se viver muito tempo, deixará um nome mais famoso que mil 
outros e quando morrer, isso lhe bastará.” (Eclo 39,1-11)
- Bastará para quê? Insensato! Como se contradiz com o que há 
pouco disse sobre a morte! A propósito, comenta-se: “O elogio 
feito ao escriba-sábio mostra a importância que essa profissão teve na 
época. De facto, (…) graças ao escriba, chegou até nós a memória do 
povo de Deus.” (ibidem) Ora, várias questões se colocam: O que é a 
Lei do Altíssimo? E não foi Israel que se auto-proclamou “povo de 
Deus”, “povo santo”? Porquê havemos nós de o considerar assim? Não 
é óbvio que não é santo coisa nenhuma, à luz do que Israel é hoje? 
Ou o “seu” Javé-Deus já se esqueceu de o considerar como tal? Enfim, 
como é possível continuarmos a basear-nos nos escritos de um tal 
povo, fazendo deles a base da VERDADE acerca do nosso fim último?
- “Desde o princípio, as coisas boas foram criadas para os bons, assim 
como os males foram criados para os pecadores.”Eclo 39,25)
- Mais afirmação completamente insensata! Cristo dirá que “o Pai que 
está nos Céus faz nascer o Sol tanto sobre os justos como sobre os 
pecadores” (Mt 5,45), o que é obviamente verdade.
- “Desde aquele que se senta num trono glorioso até ao mendigo sentado 
no chão e na cinza, (…) tudo é raiva, inveja, ansiedade, inquietação, 
medo da morte, ressentimento e brigas.” (Eclo 40,3-4)
- Pessimismo exagerado e sem fundamento. Se “tudo” fosse assim, a 
vida seria insuportável! A verdade é que tanto o rei como o mendigo 
terão o mesmo destino: a integração, átomos e moléculas, no “donde 
vieram”: a Terra. E será na morte – ou infelizmente, só na 
morte – que se fará justiça e se construirá a fraternidade universal!
- “Vinho e música alegram o coração, mas acima deles está o amor 
à sabedoria. Flauta e harpa tornam agradável o canto, mas superior 
a elas é a voz melodiosa. A graça e a beleza agradam aos olhos, 
mas acima deles está o verde dos campos. O amigo ajuda o seu amigo 
no momento oportuno, mas melhor do que isso é o encontro da mulher 
com o homem. (…) Riqueza e força engrandecem o coração, mas 
acima delas está o temor do Senhor.” (Eclo 40,20-26)
- A beleza da forma supera talvez a das ideias, neste confronto 
tripartido. Quanto ao temor de Deus, comenta-se: “Não se trata de 
ter medo mas de reconhecer que só Deus é absoluto, só a Ele 
o Homem deve adorar.” (ibidem) E nós perguntamos: O que é isso 
de reconhecer Deus? O que é isso de adorar a Deus? Como? Onde? 
Quando? Acaso mesmo Jesus Cristo conseguiu ensinar-no-lo? Aliás, 
que lhe adiantou fazer todos aqueles milagres (terá feito?!), se não 
conseguiu convencer os judeus de que Ele era realmente o Messias, 
o Enviado do Pai, o Prometido desde todo o sempre, o Anunciado 
pelos profetas? Só para cumprir profecias, de duvidosa interpretação, 
que falavam em “cordeiro imolado”? E… estariam os judeus 
“fadados” à tremenda sina-missão de imolar Cristo 
para que as Escrituras se cumprissem? – Um Deus-Deus, o próprio 
Javé-Deus de Israel certamente não permitiria tal destino! Mas 
certamente foi nessa convicção que Jesus aceitou, se resignou, 
suando suor e sangue: “Pai, faça-se a tua vontade e não a minha!”? 
É um angustiante mistério, para Ele que o sofreu, para nós que 
não o entendemos. De qualquer modo, um oportuno aproveitamento 
dos seus seguidores para criarem uma nova religião: o Cristianismo.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 120/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais


O ECLESIÁSTICO – 12/15

 - “Glorifica o Senhor com generosidade e não sejas 
mesquinho nos primeiros frutos que ofereces. Quando 
ofereceres alguma coisa, apresenta um rosto alegre, e 
consagra o dízimo com boa vontade. Oferece ao Altíssimo 
conforme o dom que Ele te fez (…) Ele em troca te dará 
sete vezes mais.” (Eclo 35,7-10)
- Afinal, a quem se dá? - repetimos. Ao Senhor ou ao Templo 
e aos sacerdotes? E quem fez a lei do dízimo? O Senhor 
ou os Sacerdotes? Esta dicotomia Deus-Sacerdotes e Templo 
sempre serviu para justificar os maiores atropelos à consciência 
dos povos. É que dar 10% dos meus pertences - e dos melhores - a 
uma igreja que me oferece apenas mistérios acerca do meu fim 
último, enchendo-me de esperanças vazias de fundamento 
credível é mesmo muito!… E quem é que já viu o Altíssimo 
dar sete vezes mais?! É mais uma afirmação para levar os crentes 
à dádiva…
- “Castigando-nos, mostraste às nações a tua santidade. Agora, 
mostra-nos a tua grandeza, castigando as nações. Deste modo 
reconhecerão, como nós também reconhecemos, que não existe 
outro Deus além de Ti, Senhor. (…) Desperta o teu furor e 
derrama a tua ira, para destruir o adversário e abater o inimigo. (…) 
Tem compaixão de Jerusalém, tua cidade santa e lugar do teu repouso.” 
(Eclo 36,3-6 e 12)
- Voltámos, com tristeza, ao antigo Deus de ira que julgávamos estar 
definitivamente ultrapassado! E que santidade a de Jerusalém, 
cidade tantas vezes conquistada e arrasada, no passado e, hoje, 
fulcro de discórdias que parecem insanáveis entre judeus e 
palestinianos? Enfim, mais uma vez se humaniza Deus, atribuindo-lhe 
um lugar; tal como fará Cristo quando expulsou os vendilhões 
do Templo, chamando-lhe “casa de Deus” e, depois, todos os locais 
de culto, chamadas igrejas. Uma tristeza de Deus…
- “A beleza da mulher alegra o rosto e supera todos os desejos do 
homem. Se nos seus lábios existe bondade e doçura, o seu marido 
é o mais feliz dos homens. Quem adquire esposa, tem o 
começo da fortuna, pois ela é auxiliar semelhante a ele e coluna 
de apoio.” (Eclo 36,22-24)


- Redime-se aqui o autor do que atrás disse da mulher! Mas… 
será consistente e sincera a sua redenção?!
- “Segue o conselho do teu próprio coração, porque ninguém te será 
mais fiel do que ele. (…) Não sejas insaciável de prazeres (…) 
quem sabe controlar-se vive muito tempo.” (Eclo 37,13 e 29-31)
- Bons conselhos, não há dúvida! E, em Eclo 37-38, fala-se do 
verdadeiro amigo, do cuidado a ter com os conselheiros, do 
autodomínio, dos médicos e da doença, do luto… Mais uma vez, 
teremos de perguntar: “Qual é realmente o objectivo desta nossa 
vida terrena? Viver muito tempo?” Parece fraco objectivo, numa 
perspectiva religiosa, em que se procura não o viver muito tempo na 
Terra, mas a vida eterna no céu! Enfim, seguir o coração, será bonito, 
romântico, belo, poético! Mas se o coração é emoção e se a emoção 
tem tanto de perdição quanto de vivências de indizíveis prazeres, não 
sei se, mesmo humanamente, nos devamos deixar sempre levar por 
essa máquina imparável que nunca pára de bater enquanto há vida…



segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 119/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais


O ECLESIÁSTICO – 11/15


- “Não te deixes dominar pela tristeza, nem te aflijas com 
preocupações. A alegria do coração é vida para o Homem e 
a satisfação prolonga-lhe a vida. Anima-te, consola o coração 
e afasta a melancolia para longe. Pois a melancolia já arruinou 
muita gente e não serve para nada. Inveja e ira encurtam os anos 
e a preocupação faz envelhecer antes do tempo. Coração alegre 
favorece o bom apetite e faz sentir o gosto da comida.” 
(Eclo 30,21-25)
- Espectacular! “Bon vivant”! Psicólogo! O louvor da alegria! 
A vida a sorrir!… É mesmo bom! Mas… onde metemos Deus 
neste sorriso, nesta alegria de viver cá na Terra? Onde metemos 
o céu? Onde a vida eterna?

- “A insónia por causa da riqueza consome o corpo (…). 
Quem corre atrás do lucro com ele se perderá (…). Não 
mastigues de boca aberta (…), não sejas o primeiro a estender 
a mão (…). Sê moderado em tudo o que fizeres (…). Que 
vida existe quando falta vinho? (…) Bebido (…) na medida 
certa, o vinho traz gozo ao coração e alegria à alma (…) 
Resume o que tens a dizer e diz muito em poucas palavras (…) 
Quem teme o Senhor, não sofre nenhum mal (…) Quem 
acredita na Lei, observa os mandamentos.” (Eclo 31,1-33,1)
- Mais belíssimos conselhos para levar vida descontraída, de 
educada alegria e… de prazer. Ai, que bem que lhe deveria 
saber aquele vinho!… E a propósito do temor e da Lei, 
comenta-se: “O temor do Senhor é o ponto de partida para a 
sabedoria e consiste em reconhecer que só Deus tem a última 
palavra sobre a vida. Para o israelita, o grande dom de Deus é 
a Lei: (...) toda a revelação contida nas Sagradas Escrituras, 
através da qual o Homem capta o projecto de Deus.”(ibidem)
- Parece estabelecer-se alguma confusão entre o humano e o 
divino. E quem foi o primeiro que disse que a Lei foi revelada 
por Deus? E quem sabe qual é o projecto de Deus? Haverá 
provas inequívocas de que Deus se tenha revelado? Onde 
estão? Talvez a melhor prova de que podemos duvidar de tudo é 
que tudo parece ter sido concebido e “inventado” por Homens 
que não sabiam que a Terra não era única no espaço, que o céu 
não se acabava ali no horizonte do firmamento e que o Universo 
tinha a infinidade de estrelas que sabemos ter, com os prováveis 
infindáveis planetas habitáveis onde haverá seres semelhantes 
a nós com os mesmos ou outros problemas existenciais de vida 
e de Deus. Por si só, este facto, incontestavelmente científico, 
reduz a problemática de Deus a uma insignificância tal que até a 
nós mesmos custa aceitar. Mas se a VERDADE é esta…
- “Também os Homens vêm todos do mesmo solo (…) Mas o 
Senhor (…) a uns abençoou-os e exaltou-os, consagrando-os e 
aproximando-os de Si; a outros amaldiçoou-os e humilhou-os (…)” 
(Eclo 33,10-12)
- Não! Não é possível dizer-se isto de um Deus justo! Portanto, 
é falso! Portanto, não pode ser de inspiração divina. A verdade 
sobre o Homem é só uma: vem do pó e para o pó voltará como 
qualquer ser vivo, todos pertencentes ao Tempo; há muitos 
inteligentes, honestos e bons e há, infelizmente, muitos mais 
inteligentes também, mas corruptos, pérfidos e maus que 
causam todo o sofrimento de que a Humanidade padece. Quando 
é que esta humanidade será mais “perfeita”, melhor, será menos má?
- “Quem confia nos sonhos é como quem agarra as sombras ou 
persegue o vento. (…) Se não forem enviados pelo Altíssimo 
numa das suas visitas, não lhes dês atenção.” (Eclo, 34,2-6)
- E como sei eu se vêm ou não do Altíssimo? Como sei eu se 
tudo isto que vou por aqui sonhando acordado é de inspiração 
de Deus ou do diabo? Ou se tudo é apenas fruto da minha mente 
inteligente e criadora? E os sonhos não são mais do que o 
fruto do meu inconsciente que torna consciente vivências queridas 
ou impossíveis, mas alguma vez pensadas? Mais interessantes, e 
certamente de maior inspiração divina, são os poetas: “Sempre que o 
Homem sonha, o mundo pula e avança!”, ou “Deus quer, o Homem 
sonha, a obra nasce!”

Fica-nos uma pergunta final: “Quem é Deus?” Ou: “Que Deus é 
este o das religiões?”