sábado, 25 de fevereiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 125/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos


ISAÍAS – 2/17

- “ (…) De Sião sairá a Lei e de Jerusalém, a Palavra de Javé. 
Então, Ele julgará as nações e será o árbitro de povos 
numerosos (…)  Escondei-vos (…) diante do terror de Javé e 
do esplendor da sua majestade, quando Ele se levantar para 
aterrorizar a Terra. (…) O meu povo é oprimido por crianças 
e mulheres! Povo meu, os teus dirigentes desnorteiam-te (…) 
Que direito tendes de oprimir o meu povo, de esmagar a face dos 
pobres? (…) Diz Javé: Por causa do orgulho 
das mulheres de Jerusalém, que andam de cabeça erguida e olhos 
cobiçosos, que caminham com passo afectado, fazendo tilintar os 
seus anéis do tornozelo, o Senhor cobrirá de tinha a cabeça das 
mulheres de Jerusalém (…)” (Is 2,3-4 e 18-19; 3,1-17)
- Profecias ou… o terror de Javé imperando, o mesmo Deus que 
atrás detestámos! E não falta o toque de machismo presente na 
condenação sem nexo da vaidade das mulheres…
(…) A vinha de Javé dos exércitos é a casa de Israel e a sua 
plantação preferida são os homens de Judá. Eu esperava 
deles o direito e produziram injustiça; esperava justiça e 
só se ouvem gritos de desespero! Ai daqueles que juntam casa 
a casa (…) até não haver mais terreno e serem os únicos a 
habitar no meio do país (…) Ai daqueles que madrugam 
procurando bebidas fortes (…) Ai daqueles que se apegam à 
iniquidade (…) Ai dos que dizem que o mal é bem e o bem é 
mal (…) Ai dos que são sábios a seus próprios olhos (…) Ai 
dos que são fortes para beber vinho (…) Por isso, a ira de Javé 
inflamou-se contra o seu povo (…)” (Is - 4,1-3; 5,4-25)
- Também se comenta: “A corrupção e urgência do castigo 
explicam a invasão do país pela Assíria, cujo emblema era 
o leão e cujo exército era um dos mais poderosos e famosos 
da época.” (ibidem). Tudo bem! Não se sabe é se isto é 
profecia inspirada ou se Isaías poderia facilmente prever que a 
rica Jerusalém seria alvo da cobiça de uma Assíria com 
um exército tão poderoso... Além disso, continua-se com o 
despudor de atribuir a Javé toda a espécie de sentimentos, 
desde a extrema vingança e ira ao amor e misericórdia. 
Um vexame para Javé!
- “No ano em que morreu Ozias, vi o Senhor sentado num 
trono alto e elevado. A barra do seu manto enchia o Templo. 
De pé, acima dele, estavam serafins (…) Eles clamavam uns 
para os outros: Santo, santo, santo é Javé dos exércitos, a 
sua glória enche toda a Terra. Com o barulho das aclamações, 
os batentes das portas tremeram e o Templo encheu-se de fumo. 
Então, eu disse: Ai de mim, estou perdido! Sou homem de lábios 
impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros, e os 
meus olhos viram o Rei, Javé dos exércitos. (…) Ouvi, então, a 
voz do Senhor que dizia: Quem é que vou enviar? Quem irá 
por Mim? Eu respondi: Aqui estou. Envia-me! Ele disse-me: 
Vai e diz a este povo: Escutai com os ouvidos mas não 
entendais (…) Torna insensível o coração desse povo, 
ensurdece-lhe os ouvidos, cega-lhe os olhos (…) para que Eu 
não lhe perdoe (…)” (Is 6,1-10)

- Basta! Isto não são mais do que alucinações de Isaías. Então, 
nem Moisés pudera ver a Deus face a face, aquando da entrega 
das tábuas da Lei e Isaías afirma tê-lo visto e ter falado assim face 
a face com Ele? Pena que não nos diga como Ele é!…  E que dizer 
da concepção de um Deus num trono, rodeado de serafins entoando 
cânticos, em grande barulheira? Não é imaginação baseada no 
trono do rei terrenal? As portas tremerem e o Templo encher-se de 
fumo cria o mistério necessário ao momento, não é?! Enfim, 
aquela de Javé não “querer” perdoar, é… demais! Este Isaías 
está-se revelando de um non-sense total.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 124/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos 


ISAÍAS – 1/17

- Da Introdução feita pelo “nosso” comentador, depreende-se 
que a actividade de Isaías ter-se-á desenrolado ao longo de 
42 anos, desde 740 a.C. a 698 a.C. E afirma-se: “O verdadeiro 
profeta (…) é aquele que preserva a tradição autêntica do seu 
povo, perdida ou deformada (…) ou seja, o reencontro com o 
verdadeiro Deus revelado a Moisés: Eu sou Javé, teu Deus, 
que te fez sair da terra do Egipto, da casa da escravidão 
(Ex 20,2; Dt 5,6). Portanto, profeta é aquele que se inspira na 
acção libertadora do Deus do Êxodo e, a partir daí, analisa a 
situação presente e mostra o projecto de Deus quanto ao futuro 
do seu povo.” (ibidem)
- Comentemos também, questionando: Foi realmente Deus que 
disse “Eu sou Javé, teu Deus…” ou foi Moisés - perdoem-nos 
a repetição - que tal inventou, interpretando os seus sonhos, 
dando, com o nome de Javé, força à sua mensagem? Que melhor 
modo haveria para levar todo um povo rebelde mas crente 
e supersticioso, a obedecer às suas normas? Assim, também, se é 
o profeta que “analisa a situação presente e mostra o projecto de 
Deus quanto ao futuro”, como se atreve ele a falar como se fora 
Javé? Não será pelas mesmas razões que levaram Moisés a dizer 
que ouvira a voz de Deus dizendo: “Eu sou Javé, teu Deus”? 
Haverá algo mais convincente do que falar em nome de Deus?!
- “Escutai, ó céus; ouve ó Terra! É Javé que fala: Eu criei e 
eduquei filhos mas eles revoltaram-se contra Mim.” (Is 1,2)
- Javé que fala? Que presunçosa apropriação de Deus! Que 
descarado despudor! Este modo de falar dos profetas é 
simplesmente inaceitável!
- “Ai de vós, nação pecadora, povo carregado de crimes, raça de 
perversos, filhos renegados. Vós abandonastes Javé, desprezastes 
o Santo de Israel (…) Escutai a palavra de Javé, chefes de 
Sodoma (…) Que me interessa a quantidade dos teus sacrifícios? - diz
 Javé. (…) Lavai-vos e purificai-vos (…) Deixai de fazer o mal (…) 
buscai o direito, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão (…). Se 
recusardes, sereis devorados pela espada. Assim fala a boca de Javé. 
Como se transformou em prostituta a cidade fiel! Antes, era cheia 
de justiça; agora, está cheia de criminosos!” (Is 1,4-21)
- Que em Jerusalém, imperava a corrupção, o crime, a injustiça, 
parece não haver dúvidas e bem merecia ser chamada de “prostituta”. 
Mas, decerto, não é Javé mas o profeta que fala, tal constatando, 
invectivando tais costumes, “apropriando-se” novamente de Javé 
para - como já dissemos - dar força às suas invectivas, na boa 
tradição bíblica em que Javé tudo explica, com o prémio ou o castigo!
- A propósito, comenta-se: “ Para compreender estes cinco capítulos, 
é importante ter presente o contexto histórico. (…) Isaías reage de 
forma enérgica à disparidade social que se verifica dentro do seu país 
e critica violentamente a falsa piedade e as práticas religiosas que 
escondem a opressão.” (ibidem)
- Tudo muito bem! Mas, que de divino tem um discurso que qualquer 
político de esquerda actual poderia ter num qualquer comício 
de campanha eleitoral? Porquê considerar um de inspiração divina, o 
outro, simplesmente… político? E é divino defender as minorias 
contra os opressores? Ou é simplesmente dar um lugar à justiça… entre 
os homens?


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Do corpo e da alma


Será que a pessoa humana é uma dicotomia alma/corpo, o corpo suportando a alma, ambos coexistindo, enquanto há vida e se separam quando morrem? E como definir alguém em estado de coma? Ou quando perde os sentidos, a consciência? Ou no limiar da morte?  Ou quando jaz morto, já cadáver? – Para responder, temos de definir o que é a alma, a anima dos latinos ou a psiké dos gregos. Já dizia o filósofo grego Sócrates, séc. IV a.C., que, aquando da morte, o que morre é apenas o corpo, a alma sobrevive em outro lugar, outra dimensão.
Tal dicotomia tornou-se clássica e foi bem aproveitada pelas religiões para atribuírem uma eternidade à alma, ao espírito, àquilo que, afinal, definiu uma pessoa, enquanto ser humano racional tendo, após a separação do corpo, de estar sujeita a um julgamento a que se seguiria um Céu como recompensa pelo Bem feito, ou um inferno como castigo pelo Mal praticado. O corpo foi mais ou menos belo, mais ou menos alto, mais ou menos volumoso, mas isso pouco importou. O importante foi mesmo o espírito, a essência da pessoa, sendo esta vida uma passagem para a outra, a eterna.
Ora bem, à alma atribuem-se facilmente todos os predicados que, fazendo parte da essência humana, são imateriais ou, se quisermos, não fazem parte das componentes do corpo, essa máquina fantástica mas que é pura matéria orgânica animada da energia que lhe é fornecida todos os dias pelos nutrientes de que se alimenta, pelo ar que respira.
No entanto, a alma só subsiste, enquanto existe corpo e subsiste “inteira”, enquanto este não é mutilado em algum dos seus órgãos essenciais, sobretudo o cérebro. Atinja-se o lóbulo X e a pessoa deixará de falar, ou o lóbulo Y e deixará de raciocinar, etc., pois sabemos que é no cérebro que estão localizadas as diversas funções da alma.
O cérebro é fantástico: sendo pura matéria, composta por milhões de neurónios ligados por milhares de milhões de sinapses, consegue congregar em si todas as atribuições da alma: a razão e o pensamento, a capacidade de construir raciocínios abstractos, os diversos tipos de inteligência, as emoções, a vontade, a intuição, a determinação, o espírito de decisão, os sentimentos de amor, ódio, vingança, inveja, benevolência, paciência, compaixão, a paixão, a ética, a moral, a perversidade, a ganância, a animosidade, a incompreensão, o ressentimento, o arrependimento, a generosidade, a comiseração…, a regulação do instinto de sobrevivência – o mais forte em qualquer ser vivo! – bem como as coisas mais comezinhas ligadas aos sentidos da vista, olfato, gosto e tacto, até à detecção da dor, do desejo, da libido, do prazer, da sede, da fome…, determinando e obrigando o corpo a exercícios que nem sempre são os mais adaptados ao mesmo corpo, mas levando este a manifestar capacidades que, não exercitado, nunca conseguiria alcançar, tanto no desporto, como na arte. Por exemplo, para dominar um instrumento musical, quantas horas diárias de treino não são necessárias?! Haverá, pois, muita razão no dizer que “quando a cabeça (a alma) não tem juízo, o corpo é que paga”, embora a dor de um (o corpo) se reflicta, como espelho, no outro (a alma), ambos se afectando contínua e mutuamente. Para o bem e para o mal!
Enfim, o cérebro é a matéria capaz de produzir não-matéria, como raciocínios e abstracções, actividades próprias daquilo a que podemos chamar de espírito. Um milagre? – Se há milagres, este é um deles. Tal como a Vida que brotou, um dia – há três mil e quinhentos milhões de anos – supõe-se que nas lagunas superficiais da Terra, onde vários elementos químicos aquecidos pelo Sol, foram levados a reacções de união e multiplicação, originando moléculas energizadas, logo, contendo vida. Daí até ao Homem, foi uma longa odisseia, felizmente já parcialmente conhecida, tendo talvez culminado na época dos dinossauros que reinaram na Terra cerca de duzentos milhões de anos e se extinguiram há cerca de sessenta e cinco milhões, subsistindo deles ainda alguns pequenos exemplares répteis ou alados. O Homem – este “grande” senhor, capaz do melhor e do pior do que já alguma vez se viu à face da Terra – apareceu apenas há quatro milhões de anos, por evolução das espécies. Em termos do Tempo Universal, foi há coisa de poucos minutos ou segundos…  
Sendo assim, poderemos dizer que a alma é o cérebro, já que este contém todas as funções que lhe são atribuídas? Ou é o sopro vital que anima o corpo, já que, num cadáver, a forma ainda lá está, mas inanimada? Ou é a consciência de todas estas virtualidades actualizadas, já que, em estado de coma, o corpo vive vegetativamente apenas, mas não morreu, i. é., ainda tem o sopro vital – o coração bombeando o sangue e os pulmões purificando-o – e tem, em potência, as propriedades da alma que serão recuperadas se se sair daquele estado? (No coma, é clara a dicotomia clássica corpo-alma).
Vamos ao início: da união de um espermatozóide e de um óvulo, nasce um novo ser, uma nova vida! Lindo! Fantástico! E, naquele momento, começam a viver, em simbiose perfeita, um corpo e uma alma que, carregando a carga genética – não toda e, infelizmente, muitas vezes nem sempre a melhor! – dos seus progenitores, jamais se separarão, significando que o corpo é o suporte da alma e a alma o suporte do corpo, ambos com funções diferentes e alimentando-se de modos diferentes: o corpo com nutrientes-matéria, a alma, com aprendizagens sucessivas até atingir um grau de humanidade diferenciada conforme os múltiplos factores de que depende o novo ser: local onde nasceu, os progenitores, a sociedade onde se insere, etc., etc. Passado o seu tempo, esse ser morre, isto é, separam-se corpo e alma. Realmente, separar o corpo da alma é matar ambos, pois um não vive sem o outro, logo, é matar o ser existente. Quando o corpo deixa de funcionar, o coração parando e não mais bombeando o sangue que o irriga, a alma “apaga-se” com ele. Tal como quando nasceu se “acendeu” com ele! A energia que a constituía e com a qual animava o corpo, sendo ela essa mesma energia, simplesmente desapareceu; ficam as moléculas de matéria orgânica de um corpo que, cadáver, ainda tem forma, mas que muito em breve será apenas átomos e moléculas que irão integrar-se no donde vieram: a Mãe-Terra!
Resta dizer que tudo o que se disse dos humanos, se pode dizer de qualquer animal, mutatis mutandis, com muitas semelhanças, nuns, muitas diferenças noutros, uns guiando-se mais pelo cérebro, outros mais pelo instinto. E, no limite, se pode dizer de qualquer ser vivo, do micróbio, aos seres unicelulares, a qualquer vegetal ou planta…

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Cerimónias para o funeral de um agnóstico


Proposta

Antes da proposta, há que explicar o que é um agnóstico. O agnóstico nem é crente nem é ateu. Tem um princípio incontestável: “Todas as religiões e seus deuses foram inventados pelos Homens, construindo esses deuses à sua imagem e semelhança.” Daí que, racional e logicamente, não acredite nas religiões, quer antigas, politeístas (egípcias, mesopotâmicas, caldaicas, gregas, romanas, celtas, germânicas, etc.) ou trinitárias como a hindu (com a sua trindade: Brama, Shiva e Vixnu) quer mais recentes como a judaica com o seu monoteísmo de um Javé protector do auto-proclamado “povo eleito”, a cristã (com o seu monoteísmo disfarçado num mistério de trindade: Pai, Filho e Espírito Santo – um Deus único e trino!), ou a muçulmana com o seu profeta Maomé e o seu Deus Alá, quer qualquer crendice em anjos, santos, virgens, paraísos ou infernos, etc.
O agnóstico acredita na VIDA e no Deus que é o ABSOLUTO, O TUDO ONDE TUDO SE INTEGRA, CONTENDO TODO O ESPAÇO (por ser infinito) E TODO O TEMPO (por ser eterno), TUDO SENDO PARTÍCULAS DELE, DO ÁTOMO, AO UNIVERSO.
Aliás, de um ponto de vista científico, toda a crença nos deuses inventados pelo Homem é ridícula. Então, não sabemos já que o Homem é apenas um minúsculo ser – racional, pelo acaso da evolução – de um pequeno planeta, que pertence a uma pequena estrela, filha de uma galáxia, com mais de duzentos mil milhões de outras estrelas, galáxia entre milhares de milhões de outras que terão certamente muitos planetas onde também haverá vida semelhante à nossa? As religiões – pesem embora alguns benefícios de ordem psicológico-emocional – só amesquinham o Homem na sua essência de ser racional. Amesquinham o Homem e amesquinham Deus, porque o antropomorfizam, ao atribuir-lhe sentimentos sejam de amor, ódio, vingança..., habitando num dado lugar, etc., etc.
Ora, é contra isto que o agnóstico luta! Na vida como na morte, seguindo o lema: “Em qualquer situação em que o Homem se encontre, enquanto ser vivente, que se cante um louvor à VIDA!” 

Tempo de duração da cerimónia: c. de 2 horas
Indumentária: informal e colorida
Mestre de cerimónias indigitado pelos familiares do/a defunto/a

1 – Escolhe-se um local confortável para todos os “convidados”: igreja, salão paroquial ou de festas, sala de espectáculos, sala de convívios…, e para lá se transportam os restos mortais do/a defunto/a, num simples caixão de madeira.
2 – Contratam-se músicos, cantores e tocadores, solistas ou coro e orquestra, de acordo com as posses dos familiares.
3 – Todos aqueles a quem for anunciado o falecimento, ficam convidados a dizerem umas palavras (2 a 3 m, cada) sobre o/a falecido/a; não só um elogio ao seu contributo para a sociedade, família, amigos, país, mundo – mundo que o/a viu nascer, mundo que o/a viu partir – mas também relembrando qualidades a imitar manifestadas durante a Vida.
4 – Após 3 ou 4 intervenções, música, canto e dança. Alguma pode ser fúnebre, lembrando o inexorável fim da vida e, ali, daquela que se findou. É sempre maravilhoso e comovente o Requiem de Mozart de que se podem tocar/ouvir umas partes: o Dies Irae é brilhante! Mas, de preferência, alleluias e músicas que foram do agrado do defunto, celebrando-se a vida dos que ficam – até um dia! O Alleluia de Haendell será uma boa opção. Afinal, tudo é vida: “Se a semente não morrer e não cair à terra, não dará fruto!” Aqui, não dará fruto, como as sementes das plantas, mas integrar-se-á na vida de outros seres que se apropriarão de seus átomos e moléculas, átomos e moléculas que se uniram para fazer parte daquele ser que um dia foi, e que, agora, ficam disponíveis para uma nova “aventura”… Lindo, não é? A emoção ao serviço da razão! Então, celebremos essa Vida, onde, afinal, nada se criou, nada se perdeu, tudo se transformou: a morte é uma transformação!
5 – Um “porto de honra” e uma “pause-café” com petits-fours e outros bolos, ao fim da 1ª hora, ficarão muito bem!
6 – Nos cumprimentos aos familiares, mais sorrisos e abraços, por continuarmos vivos, do que lágrimas e pêsames pelo/a que já partiu e já viveu a sua vida, fazendo daqueles momentos, momentos de partilha, de convívio, de afectos…
7 – Algumas flores – ramos bonitos e não coroas de defunto – flores que serão distribuídas pelos familiares do/a defunto/a aos convidados. Temos que, em todos os momentos da cerimónia, lembrar a VIDA que continua e não a morte que é o seu termo natural anunciado desde a hora do nascimento.
8 – Se foi poeta/poetiza, recitem-se poemas; se escritor/a, leiam-se alguns excertos significativos de seus livros; se pintor/a, mostrem-se alguns quadros; se pai, mãe de família, apresentem-se seus filhos com elogios de saudades… Sempre ideias de VIDA que nestes se perpetua!
Cativante, não é? Resta saber, então, quando é que alguém terá a coragem de ser o primeiro a fazer tal funeral e seguir esta proposta, hipotecados que estamos ao tradicional velar o defunto, acompanhando-o, após várias horas de choro e visão de rostos carregados, entre choros e gemidos, à sua “última morada”. Bem vistas as coisas, acto humanamente deprimente, porque se deixou de fazer o equilíbrio entre a emoção e a razão. Só sendo emoção, o Homem pode destruir-se…
 Embora já nada sinta, naquele momento da transformação, gostaria de pensar, enquanto vivo, que o meu funeral seria assim: um hino à VIDA. Você não?! E, de certeza, teremos elogios sinceros no nosso funeral se, quando a nossa hora se aproximar, pudermos dizer, com toda a sinceridade e orgulho, um sorriso nos lábios: “Eu vali a pena! Com a minha vinda à Vida, o mundo ficou melhor e mais belo!”
Aliás, só pensando neste final “apoteótico”, daremos sentido à Vida, esta dádiva a que, um dia, tivemos a sorte de aceder, sem nada termos feito para isso… As religiões propõem outro sentido para a vida: preparar a eterna, no Céu, junto de Deus, um Paraíso de delícias, acompanhados de anjos e santos…, sendo esta apenas uma passagem. Seria lindo, não há dúvida, emocionalmente fantástico e daí que haja tantos crentes em tal eternidade. Mas é tudo fantasia, tudo imaginação de uns quantos que se disseram iluminados e que “impuseram” tais crenças aos milhões que em tal fantasia acreditam… É que nenhuma eternidade é possível aos seres pertencentes ao Tempo!

Final da cerimónia:
Todos se despedem, desejando-se uma longa vida feliz, sorriso nos lábios por poderem continuar a contribuir para o tal mundo melhor e mais belo…
Os restos mortais do homenageado/a serão levados discretamente para o crematório, assegurando-se os familiares de quando receberão as cinzas. Estas, mais tarde, serão espalhadas ao vento, no alto de uma montanha ou no mar, certos de que, onde caírem, serão integradas plenamente na Natureza de onde um dia, pelo milagre da vida, se transformaram num ser com vida! Aqui, o livro da Bíblia, Génesis, 3.19, tem razão: “Viemos do pó e para o pó voltaremos.” Não há dúvida: sermos átomos e moléculas de outros seres vivos, ou não, será a nossa única possível eternidade. O processo é imparável: nós também usámos os átomos e moléculas de outros que nos precederam…