sábado, 31 de março de 2018

Racionalista ou crente? – Sejamos intelectualmente honestos!



Tempos de Páscoa, tempos de reflexão filosófico-religiosa!
Por muito que sobrevalorizemos a Ciência e a Razão, o que nos leva a não aceitar qualquer conceito, afirmação ou ideia que não possam ser comprovados, usando o método científico da experimentação, devemos, dentro da honestidade intelectual que prezamos, ser realistas e não fechar os olhos ao mundo que nos rodeia.
Tal atitude leva-nos a constatar a mais-valia que a fé representa para os crentes, obviamente, do ponto de vista emocional, não ignorando que as emoções são parte fundamental da constituição do ser humano. Evocaríamos, aqui, o filósofo Descartes com o seu “Penso, logo existo” opondo-o ao neurologista português António Damásio, no seu “Emociono-me, logo existo”.
Não interessando saber se primeiro pensamos ou primeiro nos emocionamos, fica-nos a certeza de que somos feitos de razão e emoção. E a verdade é que agimos levados pela emoção muito mais vezes do que levados pela razão. Isso é evidente, nas reacções que temos ao que nos vai acontecendo ao longo da vida. Assim, no amor, no espectáculo (e ele há tantos, desde a música ao desporto, ao cinema, ao teatro…, onde se desenrolam, comédias, tragédias, performances, suspense…, gerando adrenalinas incontidas em participantes ou actores e espectadores), no afã do dia-a-dia, cheio de imprevistos que temos de resolver, nem sempre optando pelas melhores soluções…, nos mais pequenos pormenores da vida. Diríamos que desde o acto da concepção e nascimento até à morte, a nossa vida é feita toda de emoções, muitas delas dando-nos o gostinho da Vida, outras arruinando-nos a saúde por causa da ansiedade e do stress inerentes. E serão as emoções que nos levam aos actos de bravura, de coragem, de solidariedade, mas também ao cometimento de crimes propiciados por um ódio descontrolado que não deixa nem dá tempo à reflexão própria da razão. Sorrisos e lágrimas!
Ora, as religiões encontram-se no patamar das emoções e não no da razão. É intelectualmente honesto reconhecer que o DIVINO, com os seus mistérios – e quanto mais mistérios, mais atractivo se torna, porque mais emocionante! – é o que sustenta a alma dos crentes, sejam ignorantes ou sábios, ricos ou plebeus. O DIVINO em que acreditam sustenta-lhes a alma e dá-lhes a esperança numa vida melhor, num Além qualquer, vida onde não haja sofrimento nem incertezas, nem stress, nem ansiedade, nem tristezas ou injustiças, encontrando assim um sentido para esta vida, já que, sem esse DIVINO, será totalmente indiferente que se exista ou não, face ao conhecimento que temos do Homem, da Terra, do Sistema solar, da Galáxia, do Universo.
 (Sobre o sentido da Vida, reler texto publicado, aqui, no blog, em 04/11/2017)
Ao racionalista, resta ter a certeza da sua pertença ao todo-poderoso Tempo, tendo começado um dia, vindo do NADA, melhor, do tudo existente em átomos e moléculas – matéria e energia – e voltando impreterivelmente ao mesmo NADA donde veio, sem deixar qualquer rasto como indivíduo que um dia foi. Fácil é constatar tal facto, tal realidade: basta olhar para o que aconteceu aos nossos antepassados próximos ou longínquos: todos voltaram ao donde vieram: o NADA como indivíduos, ou seja, a Terra feita dos tais átomos e moléculas que estarão sempre prontos para integrarem novos seres, no eterno retorno do mesmo ao mesmo através do diverso.
Então, a pergunta fica: “Não é o crente muito mais feliz, com a sua fé num Além eterno desconhecido mas tão apetecido, que o racionalista na sua certeza físico-científica? Que adiantam ao racionalista as suas certezas? Que faz ele dos sonhos, das emoções, dos gostinhos da VIDA projectados para fora do Tempo? Que faz ele da esperança num Além de justiça, de paz, de eternidade feliz?”
Perante uma tão difícil/impossível resposta, até dá vontade de ser crente. É que, tanto para o crente como para o racionalista, esta é a única oportunidade que lhe foi dada e, como tal, nunca mais se repetirá…

sexta-feira, 23 de março de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 167/?


À procura da VERDADE em EZEQUIEL - 9/13

- “Vou estender a mão contra ti, (Amon), e entregar-te à pilhagem 
das outras nações (…) Farei justiça contra Moab (…) Vou 
estender a mão contra Edom (…) Vou estender a mão contra os 
filisteus (…) Eis que venho contra ti, cidade de Tiro (…) Aqui estou 
Eu contra ti, Sidónia (…) Aqui estou Eu contra ti, faraó, rei do Egipto 
(…) (Ez 25-29)
- Socorramo-nos do comentário: “(…) O livro reúne um conjunto 
de oráculos contra as nações, mediante as quais alarga a 
condenação divina aos povos que, no contexto da expansão 
babilónica, se tornaram cúmplices ou provocadores dos males 
que afligiram o povo de Deus.” (ibidem)
E nós perguntamos, baseados em narrativas anteriores: Então, 
os males que afligiram o auto-proclamado “povo de Deus” não foi 
devido aos seus pecados? Não foi Babilónia o braço castigador de 
Javé?
E continua: “Os filisteus habitavam no litoral sul e sempre foram 
grande ameaça para o povo de Israel. (…) Tiro (…), capital da 
Fenícia é o melhor exemplo de uma grande potência, aí pelo ano 
600 a.C. (…) e, doentiamente, alegrou-se com a queda 
precipitada dos seus aliados. (…) Nabucodonosor pôs termo ao 
poderio assírio, derrotou o exército egípcio em Carquemis e 
assenhoreou-se de toda a Palestina até à fronteira com o Egipto, 
país que não conseguiu dominar, contrariamente à expectativa de 
Ezequiel 30,10-11.” (ibidem)
Voltamos a perguntar: E hoje, donde vem a ameaça a Israel? 
Não tem sido Israel, ao longo da História, um país sempre 
ameaçado? Mas… que dizer da “expectativa de Ezequiel” que não 
se concretiza? Afinal, sempre eram expectativas de Ezequiel ou… 
eram inspirações divinas? É que ou as aceitamos todas como divinas 
ou temos de as aceitar todas como humanas, não é? Enfim, não queria 
Ezequiel - como bom israelita que era - que os povos inimigos de
Israel fossem destruídos, pondo na boca de Javé tais intentos?
Comenta-se ainda: “Tiro é comparada a um navio de luxo que 
vive do comércio e termina em naufrágio. O capítulo é um 
documento crítico sobre a sociedade materialista e consumista que 
enriquece apenas uns quantos.” (ibidem)
E nós: Criticar uma sociedade materialista e consumista é… divino? 
É preciso inspiração divina para tal? Não o fazem hoje tantos por aí 
que são apenas… humanos?! O mesmo se poderia dizer da afirmação: 
“O julgamento contra o rei de Tiro mostra o caminho de perversão 
humana, que arruína a pessoa e a sociedade (…), esperteza posta ao 
serviço da acumulação de bens (…), da injustiça e da auto-suficiência 
(…)” E alonga-se mais: “(…) Esta nova série de oráculos, virada contra 
o Egipto, pretende dissuadir Judá de procurar apoio no Sul para resistir 
ou tomar partido contra a Babilónia (…) O Egipto não está em 
condições de poder influir eficazmente na vida da Palestina. O profeta 
fala da sua queda, fazendo ironia do seu antigo poderio e dos seus 
Faraós.” (ibidem)
E também nós e mais uma vez: Os oráculos eram de Javé ou 
simplesmente exprimiam as opiniões de Ezequiel, nada tendo a ver 
com “inspiração divina”? E aquela ironia do profeta? Não parece 
haver por ali uma vingançazinha bem humana?!
(No próximo texto, iniciaremos com a análise crítica a mais 
comentários – comentários que nos parecem desprovidos de nexo e
de bom senso – do “nosso” exegeta)

sábado, 17 de março de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 166/?



À procura da VERDADE em EZEQUIEL - 8/13

- “Criatura humana, havia duas mulheres, filhas da mesma mãe. 
Desde jovens, elas prostituíram-se no Egipto. Desde que 
caíram na prostituição, deixaram que estranhos lhes acariciassem 
os seios e lhes apalpassem os peitos de adolescente. A mais velha 
(…) Samaria (…) e a mais nova (…) Jerusalém. (A mais velha) 
entregou-se como prostituta a toda a classe alta dos assírios (…) 
Quando ainda criança, já dormiam com ela, apertavam os seus 
seios de adolescente e tinham relações com ela. (…) Eles 
puseram-lhe à mostra as partes íntimas (…) A sua irmã (…) viu 
tudo. E as suas paixões foram ainda mais indecentes que as 
dela e a sua prostituição foi mais desavergonhada (…) Também 
se deixou seduzir pelos assírios (…) Ela viu desenhadas na parede 
figuras de caldeus (…) Ela deixou-se seduzir pelas figuras (…) 
Então, os babilónios vieram dormir com ela e contaminaram-na 
com as suas prostituições. (…) Mostrou a sua nudez (…) foi 
aumentando as suas prostituições, lembrando o tempo da sua 
juventude, quando era prostituta na terra do Egipto e se entregava 
apaixonadamente a homens com pénis como o dos jumentos e sexo 
como os garanhões. Voltaste à tua juventude devassa no Egipto, 
quando apertavam o teu peito e palpavam os teus seios de 
adolescente.”(Ez 23,2-21)
- Que seja simbolismo, que seja! Que o simbólico religioso-divino 
permita tais realismos de apertar seios, apalpar peitos, ter relações, 
cair em prostituição, já espanta qualquer diabo, já escandaliza 
qualquer santo! Que corações sensíveis de freiras, frades, santos, 
anacoretas e outros que, como homens e mulheres que são, 
mesmo enclausurados, não escapam às forças vivas do sexo que 
gera espermatozóides e óvulos, prontos uns a fecundar com a 
força da vida, outros a serem fecundados para perpetuarem essa 
mesma vida, sobretudo em tempos de primavera…, não sentem 
arrepiar-se-lhes os cabelos da alma e das entranhas ao lerem tais 
arrebatamentos bíblicos, beijando-lhes o sol as faces afogueadas ou 
as roupas escuras que encobrem lascivas erecções? Que pensamentos 
de pecado não introduz a Bíblia nestes corações?! 
Ou… tiveram - têm! - de censurar estes excertos eróticos ou quase 
pornográficos, convidativos à lascívia?
Depois, aquele pénis de jumento ou garanhão era para assustar as 
almas piedosas ou… teria - terá! - o efeito de excitar as carentes 
enclausuradas?! Perdoem-me os corações sensíveis estes desabafos 
que quisera fossem inocentes…
E comenta-se a propósito: “Ezequiel traça um perfil histórico e 
simbólico de Samaria e Jerusalém, respectivamente capitais do reino 
do Norte (Israel) e do reino do Sul (Judá). O profeta generaliza 
mostrando que, desde o princípio, a História desses dois reinos 
foi marcada pela idolatria, aqui apresentada como infidelidade ou 
prostituição (…). De facto, Israel e Judá abandonaram o projecto 
de Javé, para se submeterem ao domínio das grandes potências.” 
(ibidem)
Só perguntamos: Que projecto, o de Javé? E - repetimos - se acaso 
o não tivessem abandonado não teriam sido, de igual modo, 
destruídas por Babilónia? Quem nos garante a inversão da História?
Enfim, fica a constatação: Ezequiel se não foi, parece ter sido um 
perturbado sexual, deliciando-se repetidamente naquele apertar de 
seios a adolescentes, naquele “apreciar” de pénis como os de 
jumentos ou garanhões, naquelas prostituições. Uma óbvia constatação 
face à narrativa.


sexta-feira, 9 de março de 2018

As Igrejas cristãs do futuro



Não sou Nostradamus, mas prevejo o futuro da religião cristã. Uma profecia que, de certeza, se realizará. Cedo ou tarde!
É que, cedo ou tarde – tudo depende da evolução mais ou menos rápida, em cultura e capacidade crítica da Humanidade – todas as religiões acabarão, dando-se total prioridade à Ciência e à Razão, tentando centrar no Homem toda a emoção de ter vindo à VIDA.
Culto e com capacidade crítica, o Homem tomará perfeita consciência da sua realidade como SER VIVO, ser pertencente ao Tempo e que tem apenas uma função enquanto tal: viver feliz e deixar descendência para que a espécie não se extinga. Como as capacidades, quer racionais, quer emotivas, quer executivas, de cada um poderão ser muito diferentes, não haverá um padrão comum de felicidade, mas terá cada um de construir a sua e dela dar testemunho para que outros, se gostarem, sigam o exemplo. Genericamente, sentir-se plenamente realizado, fazendo o que se gosta, contribuindo com seu saber para o bem comum da espécie, é sentir-se plenamente feliz.
Num tal mundo, não há lugar para as crenças, nem para as fantasias, imaginando eternidades em céus ou infernos (aqui, seria um desperdício total: uma infelicidade eterna!...), deuses e diabos, anjos e santos, almas e espíritos, sobrenatural ou transcendente. Todo o Homem terá perfeita consciência de que antes de nascer, era pura hipótese; essa hipótese realizou-se numa vida; essa vida, acabado o seu tempo, isto é, o tempo para o qual o ADN a tinha determinado, desaparece, integrando-se a matéria que lhe deu corpo novamente na Natureza donde veio, nada se perdendo, nada se criando, tudo se transformando, num eterno retorno do mesmo ao mesmo através do diverso, retorno próprio da dinâmica cósmica, desde sempre e para sempre.
Assim, as Igrejas cristãs, voltando às origens genuínas de um Jesus que, embora dentro do judaísmo fortemente religioso, não quis criar religião alguma, mas apenas apontar o caminho da felicidade para a humanidade…, deixarão de pregar as mentiras que agora pregam – sobretudo a eternidade em céus e infernos, com deuses e diabos neles, inexistentes e todas as outras efabulações…, para se dedicarem ao fomento da FRATERNIDADE UNIVERSAL entre os Homens, pregando a solidariedade, a compreensão, a honestidade, a bondade, a disponibilidade, a ALEGRIA DE TER VINDO À VIDA, O SORRISO!
Cedo ou tarde! Oxalá que mais cedo do que tarde para bem dos humanos, quer dos perversos que não serão felizes na sua perversidade, quer dos bons que tanto sofrem às mãos deles.
E o Homem terá construído o paraíso fantasiado pelas religiões no Além, após a morte, aqui na Terra, enquanto há flores para se oferecer aos seus amores, enquanto há lábios para partilhar sorrisos, enquanto nos emocionamos por ter vindo à VIDA!

domingo, 4 de março de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 165/?


À procura da VERDADE em EZEQUIEL
7/13

- “(…) Alguns anciãos de Israel foram consultar Javé e sentaram-se 
diante de mim. Então, recebi a seguinte mensagem de Javé: (…)” 
(Ez 20,1)
- Ezequiel não era nada modesto. Apresenta-se como o interlocutor 
privilegiado entre o povo e Javé. Consultá-lo é consultar Javé. Uma 
presunção inaceitável para um “homem de Deus”!
- “Assim diz Javé: Agora, estou contra ti. Vou tirar da bainha a minha 
espada para matar tanto o justo como o injusto.” (Ez 21,8)
- Mas o mesmo Javé não disse em 18,4: “O indivíduo que pecar, esse 
é que deverá morrer”? Perante tal incongruência, comenta-se: 
“Ezequiel garante que o julgamento de Javé toca o justo e o pecador, 
o bom e o mau (…) Serão resquícios do antigo dogma da 
solidariedade no castigo (…)? Ou será o modo bem semita de 
exprimir a ideia da totalidade (…)?” (ibidem) Enfim, «matar tanto 
o justo como o injusto» é mais uma das muitas afirmações bíblicas 
que se tornam bem difíceis de explicar para qualquer exegeta 
cristão. E é inadmissível que a palavra de Deus seja confusa para 
aqueles para quem foi escrita.
- “Assim diz Javé: Espada, espada afiada e polida! Afiada para 
matar de verdade e polida também para brilhar… (…) Ele afiou 
e poliu a espada (…) Eles foram entregues à espada (…) Que a 
espada se duplique (…) é a espada que massacra, a grande espada 
do massacre (…) Em todas as portas coloquei a morte pela espada, 
espada feita para fulminar (…) Eu Javé, falei!” (Ez 21)
- Que a espada simboliza a guerra, todos nós sabemos. Mas que 
seja um Deus a falar assim, com tanta crueldade, não se entende e 
custa aceitar que é neste “Javé da espada” que se fundamenta a 
nossa Fé!… E sente-se, pelo estilo literário, um certo comprazimento 
do autor na violência e no sabor a sangue que à espada está inerente.
- “Ai da cidade que derrama sangue (…) que fabrica ídolos! Em ti, 
há gente que calunia (…) Há quem tenha relações com a madrasta e 
violente a mulher menstruada. Um pratica imoralidade com a mulher 
do seu próximo, outro desonra a sua nora, outro violenta a própria 
irmã, a filha do seu pai. (…) Os teus chefes parecem leões (…) 
devoram as pessoas, apoderam-se de todas as riquezas (…) 
multiplicam o número de viúvas (…) Os teus sacerdotes violam a 
minha lei (…) Os teus profetas encobrem tudo isto com visões falsas 
e adivinhações mentirosas (…) Os latifundiários exploram, e roubam 
(…) Por isso, lancei contra eles a minha cólera (…) - oráculo de Javé.” 
(Ez 22)
- É muita iniquidade, não há dúvida! Aberrante para os Homens, 
aberrante para Deus.  As perversões sexuais sempre presentes! Tais 
perversões, recorrentes na Bíblia, não manifestarão, aqui, o 
recalcamento dum Ezequiel que, por ser sacerdote e profeta, 
tinha de se manter fora de tais iniquidades que tão bem conhecia? E 
que talvez praticasse, incluindo-se nos sacerdotes que violam a lei e 
nos profetas que encobrem tudo com falsas adivinhações?