sábado, 28 de abril de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 170/?


À procura da VERDADE em EZEQUIEL 
12/13

- “Assim diz o Senhor Javé: Eu estou contra ti, Gog (…) Vou saquear 
e roubar (…) A minha cólera vai transbordar (…) Cairás sobre os 
montes de Israel (…) As outras nações ficarão a saber que a casa de 
Israel foi para o exílio por causa do seu pecado (…) Agora (…) vou 
tratar com misericórdia a casa de Israel porque sou ciumento do 
meu santo Nome (…) Nunca mais lhes esconderei o meu rosto (…)” 
(Ez 38-39)
- Também se comenta: “Ezequiel ensaia os primeiros passos no 
Apocalipse (…) O género (…) proliferou sobretudo no judaísmo 
tardio.” (ibidem)
E nós: Então, a inspiração divina também anda ao sabor de… 
tendências literárias?! Depois, novamente, Javé parece não estar 
preocupado com o “seu povo” mas com a honra do seu Nome. Não 
é tudo tão mesquinho para que tenha algum carácter de divino? 
É mesmo confrangedor o que Ezequiel faz a este Javé!…
- “Através de um êxtase, Javé levou-me para a terra de Israel (…) e 
vi lá um homem que parecia de bronze. Tinha na mão um cordel e 
uma vara de medir. (…)” (Ez,40)
- Socorramo-nos do comentário: “Os capítulos 40 a 48 apresentam o 
plano de reconstrução religiosa e política do povo, nos moldes de 
uma cidade - a nova Jerusalém - reduzida a um Templo e suas 
dependências. O profeta (…) beneficia agora de novas visões 
divinas que anunciam o regresso de Javé ao seio do seu povo (…) 
Esta parte do livro serviu de inspiração para os capítulos finais do 
Apocalipse de João (…).” (ibidem)
E também nós: constatamos que todo o “mundo” de Javé gira 
em volta de Israel,  “jogando às escondidas” com a sorte do “seu 
povo”. Depois, não se percebe porque é que João não teve inspiração 
directa de Deus para escrever o seu Apocalipse, mas veio buscá-la 
aqui a Ezequiel. Parece que a inspiração divina é, afinal, como a das 
musas dos poetas e escritores… E, se o é, porquê uns são sagrados e 
outros não?
- “(...) São as câmaras do santuário onde os sacerdotes que se 
aproximam de Javé comem as coisas santíssimas. Aí depositarão 
as coisas santíssimas, a oblação, a oferta pelo pecado e a oferta pela 
expiação porque o lugar é santo.” (Ez 42,13)
- Aquele “santíssimas” revela o carácter de odiosa presunção da 
função do sacerdote. Certamente a “igreja” de então, como a de hoje, 
sempre considerou e incutiu nos sacerdotes o seu carácter de “eleito”, 
de “escolhido” por Deus, para serem o seu instrumento de salvação na 
Terra. O que é certo é que, já no A.T., foram os sacerdotes que 
ditaram as regras do Templo, as diversas oblações, sacrifícios e dádivas, 
a que chamaram de divinas e sagradas e… santíssimas. Para quê? 
Certamente para justificarem aos olhos do povo a sua própria
necessidade de existir e as suas próprias funções: serem os 
intermediários entre Deus e o povo. Que são pessoas e precisam de 
comer, está certo. Que devem ser pagos pelo seu “trabalho”, também 
está certo. Agora que, para comer, necessitem de “inventar” oblações, 
dádivas, sacrifícios a que chamam de “coisas santíssimas”, já é um 
ludibriar e um enganar o povo. Depois, não são os próprios sacerdotes 
a fazerem tais afirmações em seu favor e benefício? Não são eles que 
se arrogam destes direitos que para si “inventaram” ou criaram? Não 
é Ezequiel um… sacerdote? (Faz lembrar os políticos de hoje: criam 
leis em seu favor e, depois, actuando escandalosamente, dizem que 
é tudo legal, tudo eticamente irrepreensível, tudo democrático…)
- “Esta é a lei do Templo (…): todo o espaço que está ao seu redor é 
santíssimo.” (Ez 43,12)
- Seria interessante saber quais os limites desse espaço santíssimo. 
Como se trata do divino, o mais lógico é que os limites fossem a Terra 
inteira. Mas – e mais uma vez – não há dúvida de que este “santíssimo” 
é pura invenção de alguns homens (homens e não mulheres...), 
neste caso, do supostamente profeta Ezequiel!

sábado, 21 de abril de 2018

A fé virou espectáculo – dolente, deprimente, penitente…



Ainda no rescaldo da festa da Páscoa

Semana Santa. Andaluzia, Espanha. De Sevilha a Cádiz, a Málaga, passando por Jerez de la Frontera, mas também por povos mais pequenos, como Ronda ou Arcos de la Frontera, o mesmo espectáculo, cada comunidade, apresentando as suas confrarias ou irmandades, carregando andores com personagens referentes à paixão e morte de Cristo, em procissões pelas ruas. Personagens em tamanho real. A Virgem chorosa e o Cristo ensanguentado, como protagonistas principais. Andores adornadíssimos, pesadíssimos, sendo necessários, em alguns casos, mais de uma centena de homens possantes para os transportar, andando, passos lentos, comandados por mordomos, ao ritmo de tambores e fanfarra: clarins estridentes, trompas e trombones, trompetes e clarinetes. Música triste, dolente, estridente. Várias procissões saindo das diferentes igrejas, na forma programada. Lentas, levando horas a percorrer o percurso, bem assinalado por fiadas laterais de centenas de cadeiras onde o público, ao frio, aprecia, com o conforto possível, o espectáculo, ora silenciando ora batendo palmas à passagem de andores e figurantes. Há mesmo palanques especiais para as autoridades políticas… Deprimente! Penitente… Muitos dos que participam na procissão, incluindo crianças e jovens, fizeram promessas que ali estão pagando, ou carregando o pesadíssimo andor, ou vestidos da cabeça aos pés, encimando-se com um capuz que se alonga em cone cilíndrico, mais de um metro acima da cabeça, cara tapada, apenas dois buracos redondos à altura dos olhos: o penitente não deverá ser reconhecido… Todos levando na mão algum artefacto religioso: ou báculos prateados – brilho é necessário! – cruzes ou círios de um metro ou mais de altura, grossos como cajados, acesos, debitando cera no negrume das calçadas. Algumas crianças divertem-se a acendê-los conforme se vão apagando com o vento gelado.
Todos os dias da Semana Santa, de Domingo de Ramos ao Sábado Santo. Uma avalanche…
Já, em tempos, houve os que se chicoteavam as costas, sangrando às pancadas de cordas “adornadas” com elementos cortantes. O corpo! O corpo pecador tinha de ser castigado… A alma assim o ordenava! Tal, como ainda hoje, nas Filipinas, onde alguns acabam crucificados. Há que imitar o pobre do Jesus Cristo sofredor de há dois mil anos… E pagar promessas… Aqui, o costume foi proibido pela hierarquia. Um grande feito, a nível intelectual!
Comentar tal realidade – o mesmo se poderia dizer das Vias Sacras que nesta época “festiva” se actualizam, como faz o papa junto ao coliseu de Roma – não adianta. A Fé comanda a vida dos crentes. Emoções fortes precisam-se! Não serão como as provocadas pelos espectáculos de futebol ou de música, mas aproximam-se delas. Os não-crentes retêm o espectaculo como a manifestação da cultura de um povo, integrado na civilização judaico-cristã. Apenas!
Historicamente, o que se passou, há dois mil anos, nas ruas de Jerusalém, foi simples: um tal judeu, chamado Jesus – que passara os três últimos anos da vida a pregar a bondade, a fraternidade, o amor ao próximo, arregimentando inúmeros discípulos – foi acusado de traição ao Imperador romano ocupante, por vingança da classe sacerdotal, incluindo a classe dos escribas e fariseus, de quem dizia que enganavam e exploravam o povo. E conseguiram que o procurador Pôncio Pilatos o condenasse à morte de cruz, castigo normalmente aplicado aos que se insubordinavam contra Roma. Os seus discípulos, embora naquelas horas de sofrimento o tivessem abandonado, não se conformaram e, no domingo seguinte – Jesus morrera às três horas de sexta-feira – quando foram ao sepulcro, não estando lá o corpo, começaram a propalar o boato de que ele ressuscitara dos mortos, sem quererem saber de mais explicações. Estavam, assim, lançados os fundamentos da religião cristã, religião que se haveria de tornar, com o imperador Constantino, em 325, a religião do Império.


sábado, 14 de abril de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 169/?


À procura da VERDADE em EZEQUIEL 
11/13

- “Assim diz o Senhor Javé: Ai dos pastores de Israel que são 
pastores de si mesmos! (…) Vou pedir-lhes contas do meu rebanho 
(…) Farei surgir um pastor para cuidar das minhas ovelhas. Será 
o meu servo David. Ele cuidará delas e será o seu pastor. Eu, Javé, 
serei o seu Deus (…)” (Ez 34)
- Comentário: “(Os reis e chefes) não cumpriram o mandato 
recebido de Deus em favor da comunidade. São os verdadeiros 
responsáveis pela ruína da nação. (…) Os únicos governantes 
capazes terão de colocar o projecto de Javé na base da sua acção. 
(…) Ao povo cativo (…) Ezequiel anuncia uma nova era de paz, 
prosperidade e segurança (…)” (ibidem)
Tal comentário leva-nos a perguntar: Não há confusão entre o 
poder de estado e a religião? Onde o fundamento de que é Deus 
que dá o poder aos governantes e que não são eles que o 
conquistam pela espada ou pela astúcia? Onde? Depois, que os 
maus governantes sejam a causa da ruína de um povo ninguém 
duvida, mas que Deus tenha qualquer coisa a ver com isso, já é 
pura “fantasia” da… Fé!
- “Aqui estou Eu contra ti, monte Seir. (…) Alegraste-te quando 
a herança da casa de Israel ficou deserta. Pois bem! Vou fazer o 
mesmo contigo. (…)” (Ez 35)
- É! A total e inequívoca bênção de Javé ao “Olho por olho, dente 
por dente”! Nos tempos bíblicos, nos tempos de hoje, pois 
“retaliação” é a palavra que mais se ouve lá para as bandas de 
Israel! O pior é que por um morto, se matam dez, aumentando o 
ódio em todos os corações, sendo todos vítimas do mesmo 
sem-amor, esquecendo-se Jesus Cristo, mas certamente lembrando 
esta Bíblia do Antigo Testamento que tanta violência apregoa…

- “Assim diz o Senhor Javé: Não é por causa de vós que estou a agir 
assim, ó casa de Israel, mas por causa do meu Nome Santo, que 
profanastes no meio das nações aonde fostes parar.” (Ez 36,22)
- E comenta-se: “Dispersos à força, os israelitas profanaram o Nome 
de Deus entre as nações, já que os povos viram nesse facto, não tanto 
o castigo divino, mas sobretudo a incapacidade do Senhor em 
defender o seu povo. Estão em causa a honra e a santidade de Javé.” 
(ibidem)
E nós, mais uma vez: Então não sabia Javé que tal iria acontecer? 
Não era Ele o motor da História? Como pôs em causa a sua honra e 
a santidade do seu Nome? Como se pode considerar um Javé que 
não mede as consequências dos seus actos? Tudo é simbólico, 
dir-se-á. Mas continuamos a não entender porque umas vezes é 
símbolo, outras, realidade. E com tantas confusões, não há Deus 
que nos valha!…
- “Farei deles uma só nação na Terra, nos montes de Israel, e um 
só rei governará sobre todos eles. (…) Eles serão o meu povo e Eu 
serei o seu Deus. O meu servo David reinará sobre eles, e haverá 
um só pastor para todos.” (Ez 37,22-24)
- Irrita esta exclusividade, obviamente não divina de… “meu povo”? 
Que simbolismo resistirá a tantas limitações de Javé? E “o meu servo 
David” é símbolo de algum outro ou é aquele que mandou pôr o seu 
general na frente de batalha, para que morresse, porque se apaixonara 
pela esposa dele… lembram-se?

sábado, 7 de abril de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 168/?


À procura da VERDADE em EZEQUIEL 
10/13

- Eis o cúmulo do nosso exegeta (referimo-nos ao excerto bíblico 
publicado no texto anterior): “Estes oráculos contra as nações não 
podem ser interpretados à letra; representam a visão geral do profeta, 
segundo a qual as mudanças de poderes no âmbito internacional 
exercem influência sobre os destinos do povo de Deus. As potências 
que se apresentam, na História, como soberanas, são na 
verdade instrumentos de Deus que contribuem para a realização do 
seu projecto na Terra. (…) De momento, é a Babilónia que executa
os julgamentos divinos.” (ibidem)
É realmente incompreensível! Então, uns oráculos são para interpretar 
à letra, outros não? E é a visão do profeta ou… a de Javé? Em que 
VERDADE assenta a propalada ideia do profeta de que as nações 
são instrumentos de Deus? Afinal, qual o projecto de Deus na Terra? 
E em que Terra, se a visão do profeta - e consequentemente a de 
Javé de que ele é intérprete - pouco vai além do Médio Oriente e 
Norte de África? Podem afirmar-se assim coisas, sem terem 
real fundamento ou apenas fundamentadas numa Fé que nem 
sempre é consistente e é comprovadamente ignorante da 
realidade-Terra? Não se torna a Babilónia politeísta quase amada de 
Javé, como seu braço castigador, e também odiada por adorar outros 
deuses? Não repugna até às entranhas que Javé “aprove” as 
barbaridades cometidas por Babilónia, sendo elas a expressão da sua 
ira divina?
É que a Bíblia não é de há três ou quatro milhões de anos, quando 
o nosso antepassado dava os primeiros passos, erecto. Tem apenas 
uns parcos dois a três mil anos… Então, não deveria usar outra 
linguagem se quisesse ser considerada “Livro sagrado” e, ainda 
mais, o “Livro da Verdade”, da Verdade universal que abarcasse 
todos os Homens e não apenas o povo judeu, auto-proclamado de 
“Povo de Deus”?
E isto já sem falar na tremenda ideia, já atrás referida, de que, não 
estando sozinhos no Universo, a VERDADE não se poderá nunca 
confinar a esta pequena, minúscula Terra, mas terá forçosamente de 
se projectar no Cosmos…
- “Vou entregar a terra do Egipto a Nabucodonosor (…) Ele pilhará 
as riquezas do Egipto, saqueará e roubará o que puder (…) Pelo 
trabalho que tiveram em Tiro, vou dar-lhes a terra do Egipto, pois 
trabalharam para Mim - oráculo do Senhor Javé. (…) Pela mão de 
Nabucodonosor, (...) vou acabar com a opulência do Egipto. (…) 
Virão para arrasar o país (…), deixarão o país coberto de cadáveres 
(…), nunca mais haverá chefes na terra do Egipto.” (Ez 29 -30)
- Realmente tal não aconteceu. Mas o facto de a profecia não se ter 
realizado parece-nos secundário. O divino a introduzir-se no mais 
baixo que o Humano tem é que nos deixa perplexos! Simbólico? 
Que seja! Mas que gera desconfiança e descredibilidade a quem 
procura, como nós, a VERDADE, parece, infelizmente, não haver 
dúvidas!…
- “Diz-lhes: Juro pela minha vida - oráculo do Senhor Javé: Não 
sinto nenhum prazer com a morte do injusto. O que Eu quero é que 
ele mude de comportamento e viva.” (Ez 33,11)
- Comenta-se: “A destruição de Jerusalém provoca uma autêntica 
viragem na acção profética de Ezequiel: o pregoeiro de condenações 
passa a pregoeiro da salvação.” (ibidem)
E nós, apenas uma derradeira pergunta: Se profetiza ao sabor da 
História, onde está a inspiração divina? Não há, hoje, por aí, tantos 
profetas, uns da desgraça, outros de um optimismo exagerado, sem 
que apelemos para qualquer inspiração diabólica ou divina?
Já vai sendo tempo de os exegetas da Bíblia se deixarem de 
interpretações absurdas e de, honestamente, confessarem que não 
houve quaisquer profetas inspirados por Deus, que Israel não é 
nenhum “Povo de Deus” ou “Povo eleito de Javé”, que a Bíblia 
não tem nada de sagrado mas é apenas um livro histórico-cultural, 
escrito ao longo de cerca de mil anos, ali, na Palestina…